Esse cenário de precariedades destoa de qualquer aumento na tarifa, que pode ser concedido ainda no mês de novembro
O transporte coletivo de Campo Grande está praticamente abandonado. Os terminais de ônibus estão em condições deploráveis, a quantidade de veículos não é suficiente para atender o total de passageiros e a superlotação é constante. Há ainda os atrasos em determinadas linhas, algo que também reflete a necessidade de ampliar a frota. Esse cenário de precariedades destoa de qualquer aumento na tarifa, que pode ser concedido ainda no mês de novembro, data prevista no contrato com as empresas que prestam o serviço. O raciocínio é simples: se nem todas as exigências relacionadas à qualidade estão sendo cumpridas não há por que atender apenas a parte que favorece as empresas. A prefeitura jamais pode compactuar com essa inversão de prioridades.
O próximo prefeito terá o dever de analisar essa questão com rigor, cobrando os ônibus novos prometidos e até revendo algumas cláusulas contratuais, caso necessário. Afinal, se as exigências não estão sendo cumpridas há brecha legal para romper o contrato, mesmo que haja necessidade de acionar a Justiça. O Consórcio Guaicurus - formado por quatro empresas que já atuavam no transporte coletivo da Capital - assumiu o serviço em 2012. Desde então, a frota teve incremento de 47 veículos, mas na época falava-se em 60 que seriam adquiridos no prazo de três meses. Aí já aparece uma das falhas que impactam no dia a dia de quem precisa encarar o “aperto” para deslocar-se de casa para o trabalho ou escola diariamente.
É preciso avaliar ainda por que algumas atribuições não ficaram sob responsabilidade das empresas, a exemplo da manutenção dos terminais de ônibus. Hoje, ninguém assume essa tarefa e, por isso, paredes estão pichadas, banheiros sujos e até quebrados. Uma das situações mais críticas ocorre no Terminal Moreninhas, que foi transformado em ponto de integração e, por isso, passageiros têm enfrentado dificuldades para recarregar os cartões em determinados horários. Certamente, mais uma medida para tentar cortar despesas, diminuindo funcionários. Moradores da região estão se mobilizando para organizar abaixo-assinado cobrando a volta do terminal e a revitalização do espaço.
Certamente, o consórcio apresentará justificativas - amparado em cálculos - para pleitear aumento da tarifa, que hoje é de R$ 3,25. Diesel subiu, custo para manutenção dos veículos e reajuste salarial dos funcionários estão entre os itens que pesam nesse aumento. Sem contar, ainda, as discussões sobre as gratuidades concedidas a estudantes, que sempre voltam a ser debatidas nesta época - mas, cabe lembrar, já existiam na data de formalização da concessão. Os dados, porém, só podem ser avaliados se confrontados com os investimentos que deveriam ter sido feitos e com os cortes que, em tese, poderiam aliviar a tarifa. Os cobradores, por exemplo, já deixaram de atuar há pelo menos quatro anos. Menos gasto às empresas, menos comodidade aos usuários, mas nenhum reflexo na passagem.
O transporte coletivo de Campo Grande continuará sob responsabilidade do Consórcio Guaicurus pelos próximos 16 anos, pelo menos, conforme estabelece o contrato. Os passageiros não podem ser submetidos a esse longo período de descaso e abandono. Por isso, é imprescindível que os gestores municipais façam cobrança constante relacionada à qualidade do serviço. Nada mais que a obrigação.