Na lista de entraves, porém, figura no topo das incoerências o fato de a obra nem ter prazo para ser concluída e os peixes já estarem numa interminável “quarentena”
Falta de planejamento representa desperdício de dinheiro público e diversos transtornos aos moradores. Obras públicas abandonadas são os símbolos mais visíveis da ineficiência administrativa, com descaso que dura anos e permanece mesmo depois das mudanças de gestões.
Essa desorganização também ficou evidente na obra do Aquário do Pantanal, a começar pelo cronograma e pelos valores a serem investidos. O montante extrapolou muito os R$ 84 milhões inicialmente previstos e pode chegar a R$ 300 milhões até a inauguração, que deve ocorrer no próximo ano. Considerando a dimensão da obra, atrasos e aditivos poderiam ser compreendidos.
Entretanto, surpreende a diferença entre os preços e datas calculados pelas equipes que elaboraram os projetos e aquilo que acompanhamos na prática.
Houve necessidade de outra empreiteira atuar na obra, atraso em peças que vieram do exterior e complexidade para montagem dos tanques por equipes especializadas. Mudança de gestão e dúvidas que culminaram em auditoria, além das investigações instauradas pelo Ministério Público Estadual. Nessa lista de entraves, porém, figura no topo das incoerências o fato de a obra nem ter prazo para ser concluída e os peixes já estarem numa interminável “quarentena” desde o ano passado. Por mês, são gastos R$ 150 mil com manuntenção e, se mantidos até dezembro, poderão ter consumido R$ 1,8 milhão em recursos. O governador Reinaldo Azambuja confirmou que alguns peixes já estão morrendo nos tanques improvisados na Polícia Militar Ambiental, sem precisar quantidade. Recurso público que acaba perdido.
O governo do Estado estuda a possibilidade de encaminhar as espécies para a unidade da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) de Aquidauana, onde há projetos de pesquisa em piscicultura. Seria a forma de diminuir gastos. Com urgência, alguma providência precisa ser adotada para, ao menos, tentar minimizar as perdas decorrentes das falhas. O Aquário hoje representa um dos principais casos de prejuízos quando o poder público assume determinado compromisso, mas tem dificuldades para cumpri-lo. Entretanto, temos diversos outros empreendimentos que esbarraram na falta de planejamento. A Orla Ferroviária, por exemplo, recebeu milhões em verbas, mas permanece subaproveitada e nunca cumpriu com o objetivo de ser nova opção de lazer à comunidade. Temos ainda outras obras importantes, a exemplo das intervenções no Rio Anhanduí, às margens da Ernesto Geisel, ou do Hospital do Trauma, cujos projetos tiveram de ser refeitos mais de uma vez.
Falhas em licitação, aditivos aos valores inicialmente previstos, atrasos e suspensões alegando falta de verbas tornaram-se frequentes motivos para que empreendimentos sejam abandonados ou nem saíam do papel. Postos de saúde, creches e escolas são algumas das obras inacabadas que representam essa deficiência do poder público. Os problemas vão muito além da falta de dinheiro - hoje enfrentada por praticamente todas as administrações - e evidenciam a necessidade de mais competência técnica. Mesmo que tardiamente, as investigações e fiscalizações devem servir como instrumentos de cobrança e punições em caso de irregularidades para que, dessa forma, os mesmos problemas deixem de ser tão recorrentes.


