Tais atitudes, como a do deputado Marcos Trad, contribuem com os deboches e a desmoralização da classe política, já desgastada.
Tornou-se comum acompanharmos, diariamente, deboches contra políticos. Nas redes sociais e em aplicativos, piadas e vídeos são disseminados diante de novos escândalos ou medidas polêmicas. Talvez, tenha sido a alternativa de muitos brasileiros: tentar transformar o trágico em cômico. Esse mesmo fenômeno – impulsionado pelas novas tecnologias – influenciou na desmoralização ainda maior das autoridades. A presidente Dilma Rousseff é um dos alvos mais frequentes dos deboches e manifestos. Nos últimos meses, os “panelaços” ficaram ainda mais frequentes, até mesmo nos eventos particulares em que participa, como ocorreu recentemente, na chegada a um casamento em São Paulo. Dilma justifica que os protestos demonstram que “valeu a pena lutar pela democracia”.
Não se trata de problemas pontuais e específicos contra a presidente. Ocorre uma banalização da atividade política, e é preocupante como esse descrédito pode agravar as chances de mudança, tão cobradas pela maioria da sociedade. Representantes talentosos e éticos podem nem cogitar ingressar nessa carreira. Entretanto, é impossível tentar melhorar a nação sem interferências na política. Esse “descontrole” tem dois propulsores, que cometem erros. De um lado, as pessoas que desrespeitam aqueles eleitos como nossos representantes. De outro, os próprios políticos que deram munição às críticas, diante do envolvimento em irregularidades. Pondera-se que, nas duas situações, qualquer tentativa de generalização será incorreta.
Por mais que tenham se tornado frequentes, os deboches contra políticos precisam ter limites. Por isso, intrigam as atitudes de desrespeito daqueles que deveriam dar o exemplo. Nesta semana, o deputado estadual Marcos Trad utilizou a tribuna da Assembleia Legislativa para proferir ofensas contra a vice-governadora Rose Modesto. Declarou que ela usou linguajar de “beira de estrada” e “fundo de boate”. Fazia referência à ligação – que consta em investigação – na qual a tucana usa tom de brincadeira e pergunta ao prefeito Gilmar Olarte “Quem é a morena mais bonita de Mato Grosso do Sul?”. Sem dúvida, temos assuntos mais importantes, que interessam a todos os sul-mato-grossenses, para serem temas de debate na Assembleia. Marcos Trad fez um comentário infeliz e ofensivo à vice-governadora, que merece ser respeitada, inclusive por seu cargo.
Intriga saber que a crítica pública ocorre dias depois de o governador Reinaldo Azambuja manifestar que Rose Modesto seria candidata natural do PSDB para disputar a Prefeitura de Campo Grande, cargo que também interessa a Marcos Trad. O deputado começou mal a possível disputa eleitoral, demonstrando despreparo e até mesmo prejudicando suas chances de tentar formalizar alianças. É tenebroso imaginar que as ofensas tenham sido motivadas por interesses políticos. Tais atitudes, como a do deputado Marcos Trad, contribuem com os deboches e a desmoralização da classe política, já desgastada em decorrência dos constantes escândalos por todo o País. O bom debate é embasado em argumentos, sem necessidade de apelar-se ao desrespeito.