A população não pode continuar à mercê de penitenciárias rotuladas como de segurança máxima, onde, contraditoriamente, ocorre a permissividade.
Espantosa a quantidade de armas (principalmente facas artesanais), drogas e celulares apreendidos ontem no Estabelecimento Penal de Segurança Máxima de Campo Grande, durante operação com a participação do Exército.
Espanta o descontrole que ocorre hoje nas unidades prisionais de Mato Grosso do Sul. Espanta o poder dos criminosos, que conseguem comandar crimes de dentro dos presídios, ampliando a força de facções criminosas.
Espanta, ainda, os fortes indícios de cumplicidade de agentes penitenciários ou a displicência e ineficiência da revista aos visitantes, que permite a permanência dessa quantidade absurda de produtos ilícitos dentro de um local onde, teoricamente, a segurança deveria ser reforçada.
A medida ocorre em momento tenso no sistema prisional brasileiro, pouco tempo depois da barbárie que resultou em mortes nas penitenciárias de estados do Norte e Nordeste do País, no início deste ano. Foi justamente essa “guerra de facções” que motivou assinatura de decreto pelo presidente Michel Temer autorizando a atuação do Exército dentro dos presídios. Não estamos tão distantes dessas cenas macabras.
Na quarta-feira, a Polícia Civil localizou o corpo de Richard Alexandre Lianho, 26 anos, executado a tiros na região da cachoeira Céuzinho, em Campo Grande. A morte foi filmada e antes ele dá recado afirmando ser da facção Comando Vermelho, maior rival do Primeiro Comando da Capital (PCC), que domina grande parte das penitenciárias do Estado.
Tais atrocidades estão se tornando frequentes, algo que preocupa toda sociedade. De dentro das cadeias, já saíram ordens para roubos, tráfico de drogas e assassinatos.
Agora, ao que tudo indica, a quantidade absurda de armas apreendidas deve-se a guerra que estaria sendo planejada entre grupos rivais dentro da Máxima. Mais motivos ainda para o temor.
A Secretaria Estadual de Justiça e Segurança Pública pretende estender essa mesma operação para outras unidades, inclusive em municípios do interior de Mato Grosso do Sul. Mais que isso, é necessário ampliar também o rigor no dia a dia. Assim, não teremos de esperar essas ações pontuais para obter resultados que deveriam ser frequentes.
Em setembro do ano passado, o Governo do Estado anunciou que os presídios estavam recebendo equipamentos de tecnologia para reforçar a revista aos visitantes.
Estavam na lista detectores de metais (portais e manuais) e raios-x. Ao que tudo indica, parecem não estar sendo utilizados. Recentemente, operação do Gaeco desarticulou esquema que envolvia até diretores de presídios em Corumbá. Outro caso que expõe ainda mais a fragilidade dos presídios.
A população não pode continuar à mercê de penitenciárias rotuladas como de segurança máxima, onde, contraditoriamente, ocorre a permissividade. Essa omissão favorece a criminalidade, com forte impacto no avanço da violência também fora das cadeias. É preciso retirar o controle das mãos dos presos, com respostas firmes e permanentes.