Seria o momento de fazer as contas, cortar gastos e evitar que equívocos fossem repetidos. Mas, a preocupação maior do Governo não é essa.
Em alguns momentos, os brasileiros têm a impressão de que estão vivendo em dois países distintos. De um lado, todos sentem os impactos da crise econômica, que arrasa o setor empresarial, paralisa indústrias, fecha o comércio e promove recorde de desemprego.
Por outro, a presidente Dilma Rousseff aproveitou o evento do Dia do Trabalhador para anunciar reajuste de 9% no Bolsa Família, mesmo consciente que o espaço fiscal (recurso no orçamento) não permite o aumento no benefício. Há outro contrassenso preocupante.
Enquanto o IBGE divulga que o País tem 11 milhões de pessoas desempregadas, o funcionalismo público continua inchado e batendo recorde de gastos. O peso das despesas com o pagamento de servidores públicos federais em 2015 foi o maior em 17 anos, conforme revela reportagem do O Estado de S. Paulo.
Seria o momento de fazer as contas, cortar gastos e evitar que equívocos fossem repetidos. Mas, a preocupação maior do Governo não é essa. Tenta-se, por um alto preço, angariar apoio popular, propagar a ideia de golpe e impor ainda mais dificuldades a uma eventual gestão do vice-presidente Michel Temer, caso o processo de impeachment seja aprovado no Senado e Dilma Rousseff acabe afastada por 180 dias.
Obviamente, não se discute a importância de os gestores transferirem renda aos mais pobres, mas são medidas que precisam ser adotadas com responsabilidade para evitar que a fila de pessoas necessitando do benefício não acabe aumentando em decorrência de oportunidades que deixaram de ser geradas no mercado de trabalho.
O que acontece no Centro de Campo Grande, mostrado em reportagem na edição de hoje do Correio do Estado, é apenas um recorte da série de dificuldades que muitos trabalhadores estão enfrentando.
Somente nos três primeiros meses desse ano, 809 vagas foram fechadas no comércio da Capital. Para evitar a debandada de lojistas para outros pontos, a alternativa foi negociar. Por isso, os aluguéis não foram reajustados e, assim, tenta-se evitar que muitos comerciantes mudem seu ponto para os bairros ou até se vejam obrigados a fechar as portas, em decorrência das restrições impostas pela recessão econômica. Esse é um reflexo direto da queda no consumo.
Famílias viram-se obrigadas a colocarem o “pé no freio” para darem conta do aumento dos gastos e sabendo das oportunidades escassas de trabalho.
O baque nas finanças chegou até mesmo ao serviço público, que sempre foi referência para quem buscava estabilidade profissional. Sem dinheiro em caixa, 11 estados atrasaram ou escalonaram os pagamentos, conforme revela o jornal O Estado de S. Paulo.
Aqui em MS, essa dificuldade foi enfrentada pelos funcionários municipais de Campo Grande. Entretanto, todos acabaram impactados pelo reajuste abaixo do esperado, que não chegou a acompanhar o acumulado da inflação.
Os brasileiros sentem hoje os “castigos” da crise. Isso inclui os sonhos destruídos daqueles que desejam empreender, as conquistas perdidas de quem lutou para abrir seu próprio negócio ou até mesmo aqueles que esperavam uma oportunidade para deixar de depender dos benefícios sociais. Por isso, a preocupação com as consequências de gastos que voltam a ser feitos sem planejamento.