A certeza da impunidade, ausência de rigor e até mesmo as legislações que protegem quem comete irregularidades contribuem para o cenário desolador de corrupção sistêmica.
Mais um escândalo envolvendo atos de corrupção voltou a abalar os brasileiros. Desta vez, envolve assunto ainda mais indigesto: a venda de carnes adulteradas por frigoríficos, incluindo até mesmo a comercialização de carne podre. O esquema desmascarado pela Operação Carne Fraca revelou envolvimento de servidores vinculados ao Ministério da Agricultura que recebiam propina liberar licenças e garantir certificados sanitários mesmo sem promover as devidas fiscalizações. A batalha, agora, é tentar retomar a credibilidade abalada da confiança no mercado brasileiro, grande exportador de bovino, suínos e aves. Mais uma vez, o Governo age no afogadilho para tentar contornar ou minimizar efeitos que tendem a se tornar ainda mais deletérios para a crise econômica nacional.
Revive-se a sina de “correr atrás do prejuízo”, como ocorre em diversos outros setores. Culpa da falta de organização e da displicência exagerada e perigosa de nossos gestores. Na Previdência, tenta-se, às pressas, aprovar reforma que irá afetar a vida de todos os trabalhadores para cobrir rombo que aumenta há anos. O Governo foi negligente por não ter cobrado devidamente várias empresas que devem bilhões ao INSS. Tenta-se reverter o cenário de desemprego e queda de arrecadação, mas, novamente, o poder público falha com excesso de benevolência justamente para beneficiar os grandes empresários, aqueles que sempre “colaboram” com as campanhas eleitorais. Assim, concedem incentivos fiscais e não acompanham se as contrapartidas de geração de vagas estão sendo cumpridas.
O Correio do Estado mostra reportagem em sua edição de hoje que também retrata a falta de rigor do poder público e o risco de nos depararmos, futuramente, com a necessidade de tentar “reparar o prejuízo”. Neste caso, como tratam-se de crimes contra a natureza, pode ser tarde demais. Logo após desastres ambientais, multas milionárias são aplicadas aos autores das infrações. No entanto, números comprovam que, na prática, a maioria das penalidades não é devidamente cobrada. Os autores recorrem dos valores e, em alguns casos, as cobranças prescrevem, sem que haja qualquer punição. O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), por exemplo, aplicou no ano passado R$ 36,1 milhões em multas, mas 98% não foram pagas. Situação que se repete todos os anos.
A certeza da impunidade, ausência de rigor e até mesmo as legislações que protegem quem comete irregularidades contribuem para o cenário desolador de corrupção sistêmica. Operações, que resultam em prisões e bloqueios de bens, vêm demonstrando que esse descontrole começará a ser revertido. Infelizmente, há um preço alto, com reflexos na economia, mas que poderia custar ainda mais caro caso nada fosse feito para combater as irregularidades. É preciso mostrar que haverá mais responsabilidade e punições em consonância com a gravidade das ilegalidades cometidas. As preocupações com o futuro não pode mais ser proteladas.