O cenário negativo, segundo especialistas do setor, fez com que os investidores procurassem porto seguro e refugiram-se no dólar, inflacionando o valor da moeda.
A semana útil começa com a ressaca da notícia que encerrou a sexta-feira: o dólar para venda foi cotado a R$ 3,425, maior alta registrada nos últimos doze anos. É mais um golpe na enfraquecida economia brasileira e, sob o aspecto regional, na fronteira do Brasil com o Paraguai.
Desde o início do ano, o setor amarga quedas consecutivas nas vendas e o segundo semestre não está sendo animador: em Ponta Porã, em média, as negociações foram reduzidas pela metade por causa da valorização da moeda americana. A tendência é que os índices não se revertam tão cedo e todos os setores ainda vão sentir os efeitos negativos da retração econômica.
Entre as explicações da disparada do dólar está a divulgação dos dados sobre as contas públicas do governo, em que o Brasil fechou o primeiro semestre com superavit primário (economia para pagamento de juros) em R$ 16,2 bilhões, o pior desempenho desde quando o Banco Central passou a registrar os dados, em 2001.
Segundo relatório, o resultado só ficou azul porque os governos regionais conseguiram reduzir despesas, enquanto a União gastou mais do que arrecadou. Isso demonstra a fragilidade do quadro fiscal, que o governo federal não consegue reverter, mesmo com os ajustes tomados desde que resolveu encarar que o País está vivendo uma crise sem precedentes.
No geral, o resultado é demonstrativo que administração não vai conseguir cumprir a nem mesmo a nova meta do superavit primário, que é de 0,15% do PIB. O cenário negativo, segundo especialistas do setor, fez com que os investidores procurassem porto seguro e refugiram-se no dólar, inflacionando o valor da moeda.
Para quem negocia diretamente, a oscilação é sentida desde o início do ano. As vendas em Pedro Juan Caballero e em Ponta Porã estão em decréscimo há meses. A Associação Comercial e Empresarial de Ponta Porã (Acepp) calcula retração acumulada no primeiro semestre de 12%. Em junho, comerciantes de eletroeletrônicos e produtos importados calculam perdas de até 50%. Restaurantes e hotéis também sofrem com impacto e empresários assistem o movimento minguar a cada dia. O aumento do dólar, porém, influencia na vida de todos.
Preços de alguns produtos serão elevados novamente, já que muitos componentes são importados. A inflação é pressionada, contamina outros setores e o círculo vicioso se instala. Em alguns aspectos, a alta é interessante para o mercado interno de turismo, pois a consequente desvalorização do real é atrativo para estrangeiros. Além disso, a tendência seria de crescimento nas importações, com aquecimento na indústria nacional. Porém, há outros fatores na economia brasileira, como elevação dos gastos e de tributação que fazem a pressão contrária, represando essa movimentação.
Economistas avaliam que a alta do dólar também sofreu forte pressão no fim do mês, período estratégico usado por investidores. Independentemente da jogada dos operadores de bolsas de mercadoria, a realidade é que a disparada é reflexo da desconfiança do mercado em relação às medidas a médio prazo do governo federal. Enquanto o comando não for retomado, o que está longe de acontecer, os índices só tendem a piorar.