Artigos e Opinião

CORREIO DO ESTADO

Editorial desta quinta-feira: "Atestado de incapacidade"

Editorial desta quinta-feira: "Atestado de incapacidade"

Redação

09/07/2015 - 00h00
Continue lendo...

Os gestores públicos, em muitos casos, como nas terceirizações, fogem de suas responsabilidades, da mesma forma que a mão de uma batata quente

Países considerados desenvolvidos, geralmente, são aqueles em que características como iniciativa, disposição ao trabalho e ao aprendizado e respeito às regras são comuns a quase toda a população. Norlmalmente, estes países, por causa da cultura local de não esperar muito para “colocar a mão na massa”, dão origem a bons gestores nos setores privado e público da administração.

No Brasil, a lógica é inversa a de muitos países desenvolvidos. Aqui, os gestores públicos, em muitos casos, fogem de suas responsabilidades, da mesma forma que a mão foge de uma batata quente.  O que se vê na administração pública é discussão – algo necessário – em excesso e atitude em falta.

É assim com a terceirização de muitos setores da administração, como tem feito, há alguns anos, o governo federal. Agora, o governo de Mato Grosso do Sul prepara-se, também, para entrar de cabeça no modelo, entregando a gestores de fora do setor público todos seus hospitais da Capital e do interior.

Na última terça-feira, o governador Reinaldo Azambuja enviou para a Assembleia Legislativa projeto de lei que, caso seja aprovado, autoriza entregar os hospitais públicos, como o Regional de Campo Grande, para “Organizações Sociais de Saúde”, entidades, supostamente, sem fins lucrativos e que receberão recursos públicos para administrar empreendimento público. Hospitais de Coxim, Nova Andradina e Dourados também estão nos planos de terceirização do governo.

Os gestores do Estado de Mato Grosso do Sul usam como exemplo iniciativas de outras administrações do PSDB, em Goiás e em São Paulo, que foram alvo de questionamentos na Justiça. A crítica do Ministério Público destes dois estados é que o modelo permite o uso de verba pública para realizar compras sem licitação, e a contratação de funcionários que exercerão função, ainda que indiretamente, pública, sem concurso.

Em Campo Grande, a administração do Hospital Universitário da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) por meio da Fundação de Apoio ao Ensino e Cultura (Fapec) na década passada, não nos deixou boas recordações do modelo de terceirização no setor da saúde. Foram várias denúncias de má gestão e desvio de recursos à época.

A iniciativa dos governos federal e estadual em insistir no remédio da terceirização só atesta a incapacidade gerencial da administração pública para lidar o caos que é o setor da saúde. Indiretamente, o gestor que terceiriza, assume ser incapaz de atuar em sua atividade fim, que é gerenciar.

Para as empresas particulares, a terceirização é interessante, porque elas vivem disso, e para quem já está inserido no sistema da saúde, como alguns médicos, a entrega dos hospitais públicos para estas “organizações sociais” também é boa, porque estas empresas pagam bem a eles. O que esperamos é que a população que mais precisa da saúde pública, e amarga meses na espera por cirurgias e dias no aguardo de uma consulta, não continue sofrendo as consequências das más administrações.

EDITORIAL

As bolhas que nos afastam da realidade

Enquanto uma parte do Estado amplia suas zonas de conforto, outra é pressionada a fazer mais com menos, arcando com o desgaste político e social das escolhas difíceis

17/12/2025 07h15

Continue Lendo...

A expressão “estar em uma bolha” deixou de ser apenas uma gíria de internet para se transformar em um retrato cada vez mais fiel da forma como a sociedade vem se organizando. Nas redes sociais, algoritmos direcionam conteúdos, opiniões e notícias de acordo com preferências previamente identificadas.

O resultado é um ambiente confortável em que quase tudo confirma aquilo que o indivíduo já pensa. Divergir passa a ser exceção e confrontar ideias, um incômodo evitado.

Fora do ambiente digital, a lógica das bolhas também se impõe. O isolamento crescente em condomínios fechados, verticais ou horizontais, reduz o contato cotidiano com o diferente. Ao limitar o convívio, o indivíduo perde a oportunidade de compreender realidades distintas da sua própria.

Torna-se, ao mesmo tempo, mais desconfiado e mais desinformado, conhecendo o mundo mais pelo “ouvir dizer” do que pela experiência direta. A realidade passa a ser filtrada, editada e, muitas vezes, distorcida.

As bolhas criam falsas impressões. Quando se consolidam em grupos, reforçadas pelo sentimento de pertencimento, geram uma perigosa falta de sintonia com o restante da sociedade. Problemas coletivos passam a ser relativizados, minimizados ou simplesmente ignorados.

A empatia dá lugar à autoproteção e o interesse público acaba substituído pela preservação de privilégios.

Nesta edição, mostramos um exemplo concreto dessa desconexão: o aumento do duodécimo para quase todas as instituições de Mato Grosso do Sul, mesmo após um ano marcado por crise financeira, enquanto cresce a sobrecarga sobre o Poder Executivo.

É sobre ele que recai, de forma quase exclusiva, o peso de enfrentar as dores reais da sociedade: da falta de recursos para serviços essenciais às demandas crescentes por saúde, educação, transporte e assistência social.

Essa discrepância orçamentária não é apenas um dado técnico. Ela reforça as bolhas institucionais. Enquanto uma parte do Estado amplia suas zonas de conforto, outra é pressionada a fazer mais com menos, arcando com o desgaste político e social das escolhas difíceis.

Trata-se de um desequilíbrio que aprofunda a sensação de injustiça e distancia ainda mais as instituições da realidade vivida pela população.

Seria desejável que integrantes das instituições que recebem repasses de duodécimo saíssem de suas bolhas. Que vivessem mais intensamente a realidade fora de gabinetes, relatórios e planilhas.

Que entendessem que, em tempos de dificuldades financeiras, reforçar privilégios e ampliar confortos institucionais não é apenas insensível, é socialmente injusto.

Romper bolhas não é simples, mas é necessário. Para indivíduos, para grupos e, sobretudo, para instituições públicas. A democracia e a justiça social exigem mais contato com a realidade concreta e menos acomodação em mundos protegidos. Caso contrário, seguiremos administrando percepções, e não problemas reais.

ARTIGOS

A Interpol e as lições do roubo ao Louvre: quando a cultura exige proteção global

O que alguns insistem em tratar como luxo é, na verdade, expressão de identidade coletiva, memória histórica e soberania cultural

16/12/2025 07h45

Continue Lendo...

A Interpol é amplamente reconhecida por seus sistemas de avisos e pela atuação no combate ao crime organizado transnacional.

O recente episódio envolvendo o Louvre, porém, recoloca em evidência um ponto ainda subestimado no debate público: crimes não violentos, como o roubo de bens culturais, também demandam tutela internacional qualificada.

O tráfico de obras de arte e de patrimônio histórico segue sendo um delito de baixo risco e alto lucro, alimentado pela opacidade do mercado e pela fragmentação das respostas estatais.

O que alguns insistem em tratar como luxo é, na verdade, expressão de identidade coletiva, memória histórica e soberania cultural. A Interpol parte dessa premissa, ao reconhecer a cultura como interesse jurídico protegido, merecedor da mesma atenção dedicada à vida, à segurança e à integridade física.

Nesse contexto, o Banco de Dados de Obras de Arte Roubadas da organização cumpre papel central: dar rastreabilidade a um mercado em que o patrimônio cultural pode, com facilidade, converter-se em saque.

A existência do banco de dados não é apenas simbólica. Ela permite a identificação de peças subtraídas, inibe a circulação ilícita e oferece suporte técnico às investigações nacionais.

Ainda assim, a eficácia do sistema depende de algo que nem sempre acompanha a velocidade do crime: cooperação internacional efetiva e compartilhamento ágil de informações entre agências de aplicação da lei.

Há espaço evidente para aprimoramentos. A ampliação do banco de dados com atualizações em tempo real, a integração mais ampla de museus, casas de leilão e colecionadores privados, além de protocolos obrigatórios de verificação de procedência, fortaleceriam significativamente o combate ao tráfico ilícito.

Do mesmo modo, penalidades mais rigorosas e treinamento especializado para forças policiais e autoridades alfandegárias são medidas indispensáveis para reduzir a atratividade econômica desse tipo de crime.

O episódio do Louvre serve como alerta. Proteger bens culturais não é capricho elitista nem pauta secundária: é defesa da memória, da identidade e do patrimônio comum da humanidade.

Quando uma obra é roubada, perde-se mais do que um objeto, perde-se um fragmento da história coletiva. A resposta, portanto, precisa ser global, coordenada e à altura desse valor.

NEWSLETTER

Fique sempre bem informado com as notícias mais importantes do MS, do Brasil e do mundo.

Fique Ligado

Para evitar que a nossa resposta seja recebida como SPAM, adicione endereço de

e-mail [email protected] na lista de remetentes confiáveis do seu e-mail (whitelist).