Reiteradas vezes temos acompanhado estatísticas preocupantes, que demonstram o nível crítico das finanças em todo o Brasil. Portanto, podemos concluir que a crise econômica não deve ser novidade, ao menos que a pessoa esteja completamente alheia aos principais acontecimentos do País. Com repasses reduzidos, estados e municípios viram suas arrecadações despencarem. O dinheiro é insuficiente diante das despesas. Por isso hoje, as dificuldades são enormes para dar conta de manter a folha de pagamento sem extrapolar os limites da Lei de Responsabilidade Fiscal e, ainda, atender aos apelos por reajuste salarial. Mesmo com tantos problemas, os vereadores de Campo Grande decidiram instaurar uma Comissão Parlamentar de Inquérito, intitulada CPI da Crise, com objetivo de apurar os diversos fatores que levaram a administração municipal a enfrentar o atual colapso nas contas e o aumento dos gastos com pessoal. Obviamente, a Câmara Municipal tem obrigação de fiscalizar as ações do Executivo, mas a CPI já nasce praticamente morta. Afinal, as diversas estatísticas comprovam como a crise financeira vem afetando diversas localidades e, inclusive, o governo federal precisou apelar a medidas impopulares para conter gastos, reduzindo até obras e investimentos.
O cenário de retração econômica acabou afetando todos os brasileiros, com aumentos de energia, combustíveis, alimentos e outros produtos. Dados recentes também merecem ser relembrados. A produção industrial encolheu 0,8% no mês de março em comparação com fevereiro, o pior desempenho para o mês desde 2006, quando caiu 1,3%. Mato Grosso do Sul também enfrenta estagnação no ramo há, aproximadamente, um ano. As consequências são inevitáveis: queda na arrecadação de impostos, menos investimentos e demissões para tentar garantir a sobrevivência das empresas. No Estado, recentemente, a Federação das Indústrias divulgou levantamento o qual mostra que 30% dos empresários planejam demissões para os próximos seis meses e outros 54% não pretendem ampliar o quadro de funcionários. Março também amarga o pior saldo dos últimos 12 anos na geração de empregos, com apenas 48 novas vagas no Estado. A construção civil enfrenta o fechamento de quase 10 mil postos de trabalho.
Na tentativa de retomar o equilíbrio das contas públicas, a presidente Dilma Rousseff tenta a todo custo aprovar medidas polêmicas, a exemplo do ajuste fiscal, que restringe acesso a direitos previdenciários. As dificuldades, portanto, não se limitam a questões administrativas específicas de Campo Grande. Certamente, algumas falhas administrativas – decorrentes, até mesmo, dos problemas políticos – podem ter contribuído para o caos atual. Mas é inegável contextualizar os problemas diante dos números que demonstram a dificuldade no cenário nacional. A criação de uma CPI precisa estar devidamente justificada. Caso contrário, perde-se o foco e tal prerrogativa poderá se transformar em tentativa de criar palanque político. Neste caso, fica difícil vislumbrar quais serão as contribuições dos nobres vereadores para colocar as contas públicas em ordem, considerando que há outras formas de questionamentos que ainda não foram adotadas. A falta de diálogo, compreensão e até questões políticas podem somente agravar o cenário que já é crítico. Não há como resolver localmente um problema de dimensão mais ampla.