O governo federal teve a chance, nos últimos três anos, de simplificar a carga tributária, reduzir gastos e adotar medidas austeras. Fez o contrário: inflou a máquina.
O pessimismo que se espalhou pelo País, a reprovação da presidente Dilma Rousseff por 65% do eleitorado brasileiro (número fornecido pelo Instituto Datafolha) e a crise que atinge duramente quase todos os setores da economia poderiam ter sido evitados. E foram muitos os que avisaram: empresários, entidades que representam trabalhadores e até mesmo integrantes do próprio governo. A presidente, ao que tudo indica, ignorou os avisos.
O governo federal teve a chance, ao longo dos últimos três anos, de simplificar a carga tributária, reduzir os gastos, sobretudo com o salário de servidores comissionados, e adotar medidas austeras em setores pouco produtivos do serviço público. Mas não fez nada disso, pelo contrário, inflou a máquina, manteve alto o número de ministérios e continuou despejando recursos em áreas em que o retorno para o cidadão é pequeno.
A sujeira, quando escondida e acumulada por muito tempo debaixo do tapete, fica difícil de esconder e torna-se impossível continuar com o disfarce. É o que ocorre com a economia brasileira. Por culpa das más escolhas do passado, não há um dia deste ano em que não seja divulgado um dado econômico negativo. Nesta semana não foi diferente.
Na terça-feira, o Banco Central informou que a dívida pública cresceu. Ontem, foi a vez de a mesma instituição divulgar que a economia brasileira teve retração de 1,1% no Produto Interno Bruto (PIB). De quebra, ainda anunciou que a projeção de inflação subiu para 9%.
O governo brasileiro deve R$ 2,49 trilhões a seus credores internos e externos. O valor representa aproximadamente 30% do PIB do País, que, segundo o Banco Mundial, está avaliado em R$ 6,09 trilhões (US$ 2,4 trilhões). O que mais assusta é que a equipe econômica da presidente Dilma Rousseff, em vez de tomar medidas que visam à redução desta dívida, caminha a passos largos para o crescimento deste débito astronômico.
O indicativo maior é o aumento na taxa de juros do Banco Central, a Selic, indexador de aproximadamente 20% do estoque da dívida nacional, e que é uma das mais altas do mundo: 13,65%. Há contratos com juros ainda superiores ao da taxa oficial, o que é ainda pior.
Para deixar o cenário ainda mais dramático, o secretário da Receita Federal, Jorge Rachid, disse ontem que a dificuldade do governo federal para fazer caixa só não é pior que a de 2003, primeiro ano de mandato de Luiz Inácio Lula da Silva.
A declaração de Rachid e os números do Banco Central resultam em uma projeção nada otimista para o setor produtivo, formado sobretudo pelo agronegócio, indústria, comércio e serviços: vem mais arrocho fiscal por aí. A saída do governo para fazer caixa e honrar suas altas despesas com a máquina pública.
O que se espera é que a presidente Dilma Rousseff passe a cobrar a dívida pública também de si, e não somente de quem contribui para o crescimento da economia. A primeira sugestão seria o anúncio de um plano de enxugamento da máquina pública, e não somente o tímido ajuste posto em prática no início deste ano, que pune, sobretudo, o trabalhador, com a alteração de regras, por exemplo, do seguro desemprego.