As greves, embora sejam direito constitucional, em momento de crise, não surtem o efeito desejado para os trabalhadores e ainda afetam o atendimento
O direito à greve também é assegurado ao servidor público na Constituição Federal de 1988. Porém, a exemplo de qualquer paralisação, traz série de consequências à população. Em Campo Grande, tivemos recentes exemplos de como a suspensão dos serviços pode ser prejudicial aos usuários do sistema e com pouco efeito para os trabalhadores. A política de corte de gastos do governo federal não dá margem para ampliar índices de reajuste e, por isso, deveria prevalecer o bom senso de algumas categorias.
Um exemplo é a greve dos professores da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), iniciada em junho. Em assembleia, ontem, a paralisação foi mantida, porém, há indicativo do fim da manifestação na próxima semana. O complicador é que existe a intenção de se suspender o calendário do segundo semestre, já que muitos acadêmicos ainda estão terminando as aulas do primeiro semestre, em pleno outubro. A medida não atingiria todos os alunos, já que parte dos profissionais não aderiu ao movimento paradista e alguns cursos continuaram normalmente, a exemplo de Medicina e Ciências da Computação. Para quem tentava se formar ainda este ano, a esperança foi enterrada de vez com essa perspectiva.
Em relação aos servidores técnicos administrativos da UFMS, que estavam em greve desde maio, foi defendido que o movimento só acaba quando o Ministério do Planejamento encaminhar reposição de hora. A categoria pedia 27,3% de salário para compensar as perdas dos últimos cinco anos. A proposta do governo federal permaneceu a mesma: reposição de 5,2% a ser paga em agosto de 2016 e mais 5% em janeiro de 2017. Nessa queda de braço, perderam os acadêmicos e estudantes de pós-graduação, mestrado ou doutorado, que precisavam recorrer a atendimento administrativo e ficaram a ver navios, perdendo prazos. Ontem, foi a vez dos bancários iniciarem a paralisação, ato que até parece fazer parte do calendário anual da categoria. Se perdurar, os efeitos logo serão sentidos pela população, como desabastecimento dos caixas automáticos e dificuldades em transações que exigem atendimento direto.
Em Campo Grande, tivemos dois exemplos de como a greve pode ser prejudicial. Médicos e professores da rede pública fizeram manifestação por reajuste. O índice pedido não foi concedido, já que a prefeitura alegou falta de capacidade financeira para concedê-lo. Foram dados porcentuais abaixo do esperado. É consequência da crise que começou no governo federal e afeta todas as administrações, em todo o País. No caso dos docentes, a paralisação durou três meses e afetou o calendário escolar, com reposição de aulas nos fins de semana e feriados, comprometendo a qualidade do ensino. No sistema de saúde, muitas pessoas ficavam horas nos postos de saúde à espera de atendimento.
O ano ainda reserva muitos dissabores à população, que vem sofrendo com a retração econômica e queda no poder de consumo. As greves, embora sejam direito constitucional, em momento de crise, não surtem o efeito desejado para os trabalhadores e ainda afetam o atendimento. Até agora, mostrou-se perda desmedida de tempo de todos
os envolvidos.