A realidade nos mostra que as fronteiras continuam escancaradas. O Brasil está ainda mais devastado pelo tráfico de drogas, crime que custa a vida de milhares de jovens.
O fracasso da fiscalização nas rodovias de Mato Grosso do Sul fica evidente cada vez que acompanhamos flagrantes de apreensões grandiosas de drogas, em outros estados. Nesta segunda-feira, durante abordagem no Paraná, policiais rodoviários federais encontraram 24 toneladas de maconha escondidas na carga de milho de uma carreta. No domingo (22), outras três toneladas foram apreendidas em Goiás. São casos que se repetem praticamente todos os dias: entorpecentes saem das cidades sul-mato-grossenses que fazem fronteira com o Paraguai ou a Bolívia, para os demais municípios do País. Mesmo assim, permanece a inércia para tentar conter os traficantes.
São raras as operações voltadas especificamente para combate ao tráfico de drogas, descaso que contrasta com a realidade que vemos nas ruas, em que cresce o número de dependentes e a criminalidade decorrente da disputa por pontos de venda de entorpecentes. A Polícia Federal demonstra preocupação com as grandes investigações, para desmascarar crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. Certamente, são casos importantes, pois todos os brasileiros querem Justiça contra aqueles que surrupiaram dinheiro público. Entretanto, os policiais não podem se esquecer dos diversos outros criminosos que estão nas ruas, lucrando muito com a ilegalidade.
Aqui em Mato Grosso do Sul, especificamente, não há justificativas plausíveis para que as ações contra o tráfico sejam tão ineficientes. Hoje, não há avanço além das abordagens e do flagrante da pessoa contratada para transporte da droga. As investigações não chegam aos verdadeiros donos das cargas. Assim, o sistema permanece praticamente inalterado – apenas com o desfalque financeiro para o dono da carga apreendida. Os pequenos traficantes, contratados das grandes quadrilhas, acabam detidos, superlotando os presídios e custando caro para todos os contribuintes. Os líderes das grandes quadrilhas continuam atuantes. Entretanto, como hoje se compra maconha ou cocaína quase sem restrições, em muitas cidades, não será difícil para o traficante recuperar seu poder financeiro, repetindo as aquisições de produtos ilegais nos países vizinhos.
A certeza da impunidade corrobora com a atuação dos criminosos. Os flagrantes nas rodovias ainda são raros, e muita droga passa por Mato Grosso do Sul, sem qualquer barreira policial. Os scanners (raios X), que poderiam ser utilizados no monitoramento, permanecem pouco utilizados, sob alegação do alto custo da manutenção. Certamente, se o policiamento fosse mais intenso, mesmo com abordagens feitas por amostragem nas estradas, existiria o temor da prisão e até do desfalque financeiro para as quadrilhas. A realidade, porém, mostra que as fronteiras continuam escancaradas.
O Brasil está ainda mais devastado pelo tráfico de drogas, crime que custa a vida de milhares de jovens – com a saúde fragilizada pelo vício ou pelas disputas nas bocas de fumo. Nossos governantes, infelizmente, desprezam essas vidas e o futuro de tantas crianças, quando ignoram a necessidade de ampliar a vigilância nos pontos de entrada dos produtos ilícitos