O setor não pode encarar o embargo com desdém. Mesmo que outras unidades estejam aptas para manter as negociações, o veto, ainda mais da Rússia, deve ser visto com preocupação
A combalida economia brasileira sofreu mais um baque, com a notícia de que o serviço veterinário russo vai embargar, a partir do dia 9 de junho, a importação de carne de dez unidades frigoríficas no Brasil, incluindo abatedouros de suínos e bovinos. Em Mato Grosso do Sul, a medida atinge uma unidade da Marfrig, mas não foi divulgado em qual das três existentes no Estado. A proibição de importação de produtos de duas fábricas verificadas foi mantida.
O serviço veterinário da Rússia informou que a decisão foi tomada depois de inspeção nas unidades brasileiras em março, e as violações descobertas apresentaram significativo grau de risco. A resposta do mercado é que o embargo russo não afetará comercialmente o País. Segundo a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), há outras 28 plantas de bovinos habilitadas pela Rússia, e estas unidades vão absorver a demanda.
O setor não pode encarar o embargo com desdém. Mesmo que outras unidades estejam aptas para manter as negociações, o veto, ainda mais da Rússia, deve ser visto com preocupação. O mercado russo é o segundo maior importador de carne bovina do Brasil e o primeiro em Mato Grosso do Sul. E, neste ano, já reduziu as negociações. No Estado, a venda de carne para a Rússia caiu drásticos 71%, de janeiro a abril deste ano, totalizando US$ 27,283 milhões. Em igual período de 2014, foram US$ 95,546 milhões. Na comparação com volume em peso, a queda foi de 66% no primeiro quadrimestre de 2015, com 8,13 mil toneladas de carne comercializadas. Em 2014, em igual período, foram 24,63 mil toneladas.
No cenário geral das exportações, o Estado perdeu mercado e teve redução de 14,69% nas vendas externas, segundo dados referentes ao período de janeiro a março. Os encargos com energia elétrica e óleo diesel foram os fatores principais de encarecimento da produção e consequente perda de competitividade. Exemplo desta situação é a China, grande consumidor mundial, que deixou de comprar US$ 145,78 milhões em produtos sul-mato-grossenses no primeiro trimestre de 2015.
Nesta perspectiva sombria que a economia brasileira vivencia, qualquer restrição, mesmo que o impacto seja considerado reduzido, deve ser avaliada como fator de alerta. O mercado é rigoroso, e o País não está em condições de se dar ao luxo de perder qualquer fatia da exportação. A suposta negligência no controle sanitário brasileiro afeta a competitividade, e é preciso ficar atento para manter os grandes compradores.
Para analistas do setor, o embargo russo pode ser estratégia para que se reduza o preço da arroba do boi, atualmente, em patamar mais alto e vantajoso para o produtor. No caso de venda antecipada, a restrição abalaria o valor negociado, que seria reduzido. Independentemente das projeções, as empresas devem ficar atentas à movimentação dos principais compradores. Um bom sinal foi acordo firmado com a China, permitindo a oito frigoríficos exportar para o país asiático. Porém, todo cuidado é pouco.
No ano passado, o Brasil teve o pior desempenho nas vendas externas, entre os 30 maiores exportadores mundiais, passando de 22º para 25º lugar no ranking, segundo a Organização Mundial do Comércio (OMC). O alerta continua ligado.