As eleições para as escolhas de presidente, governadores e representantes dos legislativos estadual e federal estão chegando, e quem se arrisca a assistir às propagandas eleitorais, sobretudo de determinados candidatos, deste ou daquele partido político ou coligação, salvo se acreditar em “Papai Noel”, fica estarrecido, para dizer o menos.
Aquilo que seria para fortalecer a democracia acaba enfraquecendo-a ou, até mesmo, vulgarizando-a. O propósito da lei ao permitir que o candidato utilize as redes de comunicação para divulgar suas propostas de trabalho é salutar e necessário. A rigor, ele deveria utilizar essa ferramenta para chegar ao eleitor, isto é, para interagir com seu público-alvo. Não é por acaso que a lei estabelece critérios para a utilização desse espaço e, com isso, guardando as peculiaridades de cada partido ou coligação, permitir a todos que deem “seu recado” e convençam os eleitores sobre as melhores opções. Só que a realidade, salvo raríssimas exceções, é outra. E não é por acaso que a maioria da população não vê a hora de acabar a propaganda eleitoral gratuita, seja pelas emissoras de rádio, seja pela rede de televisão.
Essa “alergia” que a população tem do horário político gratuito decorre justamente dos absurdos das promessas que já se sabe de antemão que não vão ser cumpridas. Mas que, apesar de tudo, “atraem o voto do eleitor”, ao menos de uma grande parcela, como afirma o professor e procurador de Justiça/RJ Marcos Ramayana (jornal O Progresso, 15.9.2014, p. 4).
Aliás, como afirma o articulista acima, a mentira bem dita emotiva o eleitor e consequentemente enche-o de esperança. O marqueteiro sabe muito bem como sensibilizar o eleitor. Ou seja, sabe perfeitamente quais as mentiras “que pegam”. Lembram-se da história “da lei que pega e da lei que não pega”? A lógica na captação de votos é a mesma, tem mentira que pega e que não pega. Há, inclusive, quem diga que muitos eleitores até gostam de ser enganados! Enfim, cada um é cada um, mas não se pode esquecer que o interesse da sociedade (o meu o seu e o nosso) está nesse jogo.
Não obstante, como alerta a colunista da Folha de S. Paulo, Eliane Cantanhêde, “... também não precisam tratar os 145 milhões de eleitores do País como idiotas” (Folha, A2, 16.9.2014).
Enfim, se pudéssemos acreditar nas promessas políticas que poluem nossos olhos e ouvidos diariamente, sobretudo em relação à melhoria radical da educação, da saúde, da segurança pública, da mobilidade urbana e não urbana, da economia, da extinção por completo da corrupção etc, poderíamos esperar, a partir de janeiro de 2015, um “Brasil das maravilhas”, “um País dos sonhos”. Isso nos faz acreditar que o político de hoje será, no amanhã, outro completamente diferente, só lhe restando o nome.
Mas o que é curioso, e até mesmo incompreensível disso tudo, é o fato de que muitas dessas promessas de se acabar com a corrupção vêm de coligações que ostentam em suas propagandas políticas um poderio econômico que faz inveja a qualquer mente sensata.
Deve estar muito viva na memória do eleitor que, na eleição passada para prefeito da cidade de Campo Grande-MS, tivemos, entre os inúmeros absurdos, a promessa de congelamento do IPTU, por ser desarrazoado (caro). Ora, se o imposto é caro, congelá-lo vai impor mais sacrifício ao contribuinte. Também fomos premiados com a promessa de outro candidato: que, se eleito, não taparia mais buracos nas ruas. Esta última, ao que parece, foi cumprida.
A redução da maioridade penal, como se fosse a solução para acabar com a violência, passou a fazer parte da agenda dos candidatos.
Mas o que provavelmente tenha, de fato, convencido a população brasileira e, com isso, recuperado a sua autoestima foi a afirmação feita nesta semana, em Campinas-SP, pelo vice-presidente e atual candidato ao mesmo cargo, Michel Temer, de que a nossa economia “está num crescimento fantástico”! “Que beleza”, como diria o narrador esportivo Milton Leite.
Enfim, de propaganda enganosa, a população está cheia. Aliás, como afirma o professor Marcos Ramayana, acima mencionado, “infelizmente não temos punição para esse tipo de propaganda”, pois “falta um artigo que permita, por exemplo, tirar do ar a propaganda enganosa, com punição ou previsão de multa para esses casos”.
Cabe ao eleitor ficar atento. Eleitor, não acredite em “Papai Noel”! Escolha com critério os seus candidatos. Use adequadamente a sua arma (voto).