Em tempos atuais, uma das funções que a Guarda Municipal menos demonstra ter orgulho é a de proteger o patrimônio público.
Criada para proteger e defender o patrimônio público, a Guarda Civil Municipal, a cada dia, fica mais distante de sua função original. A notícia mais recente envolvendo o desvirtuamento da atribuição dos guardas do município de Campo Grande é a abertura de curso em que 61 servidores da instituição serão treinados para manusear, entre outros armamentos, escopetas calibre 12. O fato ocorre simultaneamente ao anúncio dos primeiros 101 agentes formados neste mesmo curso, conforme reportagem publicada nesta edição.
A escalada de ganho de poder que a Guarda Municipal experimentou nos últimos quatro anos foi muito pouco debatida com a sociedade e com outras forças de segurança, como por exemplo a Polícia Militar. Neste período, guardas municipais e policiais militares chegaram a se desentender em algumas ocorrências.
É claro que, em uma época em que a Polícia Militar enfrenta dificuldades para repor seu efetivo em virtude da debandada de policiais para a reserva, a presença mais eficiente da Guarda Municipal nas ruas contribui para aumentar a sensação de segurança da população residente em Campo Grande. É preciso, porém, cautela ao criar mais uma força, agora, a serviço do município. Em todas as polícias já existentes, caso da própria PM, da Polícia Civil, Federal e Rodoviária Federal, há fortes mecanismos para frear o também grande poder que estas instituições têm. Entre eles está uma legislação mais severa para os policiais, além de corregedorias estruturadas. O debate para a criação desses mecanismos na Guarda ainda é incipiente. Se é que eles existem, são muito pouco divulgados.
Outra característica da Guarda Civil Municipal, que por alguns é considerada seu maior triunfo, também pode ser tida como seu maior problema. Trata-se da ambição. No afã de ser reconhecida como uma força de segurança, a instituição tentou abraçar, nos últimos quatro anos, quase todas as funções relativas ao poder de polícia. E quem tentar fazer de tudo um pouco pode não ter êxito em concluir nada.
Em tempos atuais, uma das funções que a Guarda menos demonstra ter algum orgulho é a de proteger o patrimônio público. Eles estão no trânsito, fazendo o trabalho dos fiscais da Agência Municipal de Transporte e Trânsito (Agetran), e não são nada econômicos ao aplicarem multas. Também estão fazendo rondas constantes em algumas áreas da cidade, muitas das vezes, ajudando a PM no patrulhamento. Mais recentemente, também receberam o ofício de aplicar multas ambientais, função típica dos fiscais da Secretaria de Meio Ambiente e Gestão Urbana (Semadur).
Em meio à polivalência dos guardas, que agora até manuseiam a altamente letal escopeta calibre 12, a Prefeitura de Campo Grande, quando não faz uso da segurança privada, negligencia o seu patrimônio. Várias escolas e creches, alvos de vandalismo, estão aí para provar. A Guarda, por sua vez, está preocupada em se armar e ser reconhecida como polícia.