Ainda há tempo para tornar o debate no Senado profículo e esclarecedor para aqueles que ainda não entenderam quais irregularidades foram cometidas no governo petista.
O julgamento do processo de cassação da presidente afastada Dilma Rousseff no Senado tem causado espanto pela verborragia e ofensas que não constariam nem nos melhores - ou piores - folhetins mexicanos. Os senadores não se intimidaram com a presença do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, que assumiu a condução do processo e protagonizam cenas vexatórias e que nada contribuem para o andamento da sessão. As interrupções podem atrasar o cronograma previsto sem que realmente tenham sido necessárias para esclarecer a população sobre o caso.
Somente para lembrar e esclarecer: Dilma está sendo acusada de crime de responsabilidade por ter editado três decretos de crédito suplementar sem autorização do Congresso Nacional e atrasar pagamentos da União ao Banco do Brasil de subsídios repassados aos produtores por meio do Plano Safra. A prática é a “pedalada fiscal” que, segundo a acusação, comprometeu a meta fiscal, ilegalidade prevista na Lei Orçamentária Anual. A defesa contesta os argumentos, alegando que os decretos nada mais são que remanejamento de recursos, sem impactos na meta fiscal. Também consta que a presidente afastada não agiu de má-fé, sendo os valores utilizados para prestação de serviços e não “empréstimos”. O que menos se ouviu na abertura dos trabalhos foi sobre o fato em si. O que imperou foi a total falta de respeito entre os parlamentares e à população que aguarda pelo desfecho da sessão.
Na abertura do processo de julgamento, o primeiro dia foi destinado aos discursos e Lewandowski pediu aos senadores que agissem com “isenção e objetividade”. Exatamente o que não viu. Os parlamentares optaram pelas discussões e bate-bocas que obrigaram o presidente do STF a suspender a sessão por alguns minutos. Em um dos momentos mais tensos, Gleisi Hoffmann (PT-PR) disse que “metade do Senado” não tem moral para julgar Dilma Rousseff, o que causou tumulto e a ira de Ronaldo Caiado (DEM-GO), rebatendo que a não era “assaltante de aposentados”, referindo-se ao marido da colega, o ex-ministro da Fazenda Paulo Bernarndes, acusado de participar de esquema de desvios de contratos consignados. Lindbergh Farias (PT-RJ) entrou na briga, chamando Caiado de canalha e ouviu como resposta que ele teria que fazer “exame antidoping” e que tem “cracolândia em seu gabinete”.
Os senadores preocupam-se mais em “lavar a roupa suja” do que contribuir para o debate. Parece que retornaram ao banco das escolas e se digladiam, recorrendo aos mais baixos insultos. O plenário, aparentemente, é grande palanque. Gleisi Hoffman pode até ter razão em dizer que falta moral aos colegas para participarem do julgamento, mas coloca na vala comum todos os parlamentares ao deixar de nominar quem são os que realmente estão tão comprometidos com os esquemas, tanto quanto a presidente afastada. Ainda há tempo para tornar o debate no Senado profículo e esclarecedor para aqueles que ainda não entenderam quais irregularidades foram cometidas no governo petista. Aparentemente, uma árdua missão para o presidente do STF.