Servidores corruptos macularam o efeito do carimbo do Serviço de Inspeção Federal, um dos últimos refúgios de credibilidade para atestar qualidade de produtos de origem animal.
A Operação Carne Fraca, desencadeada ontem pela Polícia Federal nos estados do Paraná, Minas Gerais, Goiás, São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, praticamente confirma a suspeita que grande parte dos consumidores tem ao consumir produtos como carne maturada e embutidos: a origem duvidosa destes alimentos.
O Serviço de Inspeção Federal (SIF), que era um dos últimos portos seguros no controle de qualidade de alimentos industrializados de origem animal, pode não mais garantir que carnes, linguiças, salsichas, ou outro frio, obedecem, de fato, aos padrões ideais para o consumo humano. A quadrilha desarticulada pela Polícia Federal era composta, sobretudo, por servidores do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), responsáveis por inspecionar os produtos de frigoríficos dos estados citados e receber propinas das empresas. Entre as unidades industriais investigadas pela Polícia Federal, aparecem filiais de companhias que estão entre as maiores do mundo no setor, como o JBS, que detém a marca Seara, e a BRF (Brasil Foods), dona de marcas como Sadia e Perdigão, além de frigoríficos de médio e pequeno porte.
Informações contidas no relatório da Polícia Federal levariam facilmente algumas pessoas a desistir de consumir estes produtos industrializados. Há relatos de reaproveitamento de carne estragada na fabricação de embutidos, como linguiça, e de embarque de contêineres com carne in natura para países europeus com lotes contaminados com salmonela. Não para por aí: também foi citado o uso de substâncias cancerígenas em carnes vencidas, com o objetivo de alterar a cor do produto para recolocá-lo no mercado.
Todos estes crimes cometidos contra o consumidor, e também contra a coletividade, foram constatados por fiscais e veterinários honestos. Estes, porém, foram transferidos de função e até desligados dos frigoríficos onde trabalhavam. O relatório da Polícia Federal demonstra que a organização criminosa instalada na Delegacia Federal da Agricultura do Paraná dava privilégio a fiscais corruptos, capazes de liberar produtos estragados para o consumo sem o menor pudor. Estes servidores macularam o efeito do carimbo do Serviço de Inspeção Federal, um dos últimos refúgios de credibilidade que tínhamos para a compra de produtos de origem animal.
Se há alguém que pode ganhar com esta ação da Polícia Federal são os empresários honestos do setor da carne. Açougues e supermercados que comercializam carne fresca terão ainda mais a confiança do consumidor.
Depois de mais este escândalo, que pode abalar o mercado da carne, resultando no cancelamento de contratos de exportação, o que se espera é mais seriedade dos fiscais e de alguns frigoríficos. Todos os consumidores do Brasil, e dos países a que exportamos, agradecem.