O reequilíbrio financeiro depende de fatores além da competência da administração municipal, mas há como se chegar a ajuste mínimo se as obrigações não forem relegadas a segundo plano.
As mazelas de administração sofrível e equivocada estão espalhadas por Campo Grande. Embora tenha sido afetada pela crise econômica, como todo o País, há elemento a mais em desfavor e que compromete o desenvolvimento da cidade: desde a última eleição, a gestão patina, desastradamente, em meio a escândalos políticos e planejamento gerencial questionável.
Perto de completar um ano do retorno à prefeitura, Alcides Bernal pode ser mais lembrado pelo que deixou de fazer do que pelo legado às futuras administrações.
A volta ao cargo, mesmo sob égide judicial, não garantiu apoio ao prefeito. Embora tenha ensaiado iniciar relação mais amistosa com a Câmara de Vereadores, a intenção ficou na teoria. Na prática, Executivo e Legislativo não se entendem e a população é a prejudicada.
O descompasso, por exemplo, resultou na indecisão sobre o reajuste dos servidores municipais que pleiteavam aproximadamente 13%, rejeitaram a proposta de 9,57% e, agora, podem ficar até sem os 3,3% possíveis pela lei eleitoral, em caso de tentativa de reeleição de Bernal.
A falta de recursos causou colapso nas contas e até serviços essenciais foram afetados, como no período da greve dos garis. O pagamento à empresa é feito, novamente, sob intervenção da Justiça, já que não havia acordo sobre os valores em atraso.
O trabalho de manutenção e recuperação do asfalto está comprometido por falta de pagamento às empresas, hoje, reduzida a apenas duas em atividade, e adiamento da licitação que poderia ampliar este quadro.
A crise é a mãe de todas as justificativas do Executivo, a exemplo da falta de encaminhamento de projetos ao governo federal. Na lista da Caixa Econômica Federal, o número é decrescente ano a ano; em 2012, na gestão anterior, foram 30 propostas, passando para seis entre 2013 e 2014 para nenhum em 2015 e este ano.
Dos aprovados, muitos ficaram pelo caminho, como serviços de infraestrutura e drenagem, construção e reforma de praças e melhorias no asfaltamento. O especialista em gestão pública consultado pelo Correio do Estado, em reportagem publicada na edição de hoje, leva em conta a recessão, mas explica que é papel da administração enviar quantos projetos forem possíveis, na expectativa de aprovação, além de contar com equipe técnica capacitada para elaboração e, posteriormente, acompanhamento da execução dos projetos.
Mesmo levando em conta os cortes promovidos pelo governo federal e que afetaram as contas de prefeituras, o que se vê é que faltou pró-atividade e organização do Município em fazer o que é de dever: ter plano de melhoria e desenvolvimento para a cidade, independentemente de picuinhas ou interesses políticos.
O planejamento deixou de ser prioridade há anos; a administração é levada ao sabor do vento ou, pior, conforme permitem as relações tempestuosas entre Executivo e Legislativo. O reequilíbrio financeiro depende de fatores além da competência da administração municipal, mas há como se chegar a ajuste mínimo se as obrigações não forem relegadas a segundo plano.