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Confira o editorial desta terça-feira: "Transporte polêmico"

Confira o editorial desta terça-feira: "Transporte polêmico"

Redação

06/12/2016 - 03h00
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Essa “nova oferta” forçará todos a buscar melhorias aguardadas e até acabar com a imposição de preços classificados como injustos. 

A polêmica com a chegada do serviço de transporte privado, por meio do aplicativo Uber, já era esperada em Campo Grande, seguindo o que ocorreu em praticamente todas as cidades onde a empresa instalou-se. Taxistas, obviamente, queixam-se do que denominam concorrência desleal.

O atual prefeito Alcides Bernal e o prefeito eleito Marcos Trad já declararam a necessidade de regulamentar a atividade, mas esses detalhes ainda não foram discutidos. Certamente, as normas são necessárias. É imprescindível que essa revisão seja ampliada para todos os prestadores de serviços, considerando as frequentes queixas sobre os altos preços das corridas de táxi, com várias denúncias sobre monopólio das concessões. 

Qualquer decisão precisa priorizar as vantagens aos campo-grandenses e já ficou evidente que a concorrência pode trazer benefícios, principalmente em relação aos preços. Esse é justamente o principal atrativo de quem opta pelo Uber.  Comparando-se alguns trajetos, o valor pode cair pela metade. O aspecto segurança trouxe preocupações, mas todo percurso feito é registrado pelo aplicativo e é possível até compartilhar o trajeto para ser acompanhado em tempo real.

Há ainda relatos positivos em relação à qualidade dos veículos. Ficam explícitas, assim, as vantagens  ao consumidor. De repente, essa “nova oferta” forçará todos a buscar melhorias aguardadas e até acabar com a imposição de preços classificados como injustos. 

Ao poder público, cabe propiciar condições para que essa “competição” conte com critérios equânimes e tenha resultados positivos, possibilitando geração de empregos em tempo de crise e criando opções para que a população também possa contar com preços mais acessíveis. Infelizmente, muitos problemas são anteriores à chegada do Uber.

Sabe-se de casos em que um mesmo permissionário tem vários alvarás em seu nome ou de familiares, restando aos auxiliares (chamados de curiangos) dirigir os veículos e arcar com diárias que podem chegar a R$ 200, além de ter de entregar o carro limpo e com tanque cheio. Inevitável, portanto, que o valor cobrado acabe mais ficando mais alto. O lucro acaba ficando nas mãos de poucos.

 Há anos existe a reivindicação para novos táxis na cidade e o serviço oferecido pela Uber acaba atendendo essa demanda. Sem dúvida, a quantidade de alvarás emitida precisaria acompanhar o crescimento da Capital, mas até projetos nesse sentido renderam discussão, envolvendo os taxistas titulares e auxiliares.  Em várias capitais, como São Paulo  (SP) e Porto Alegre (RS), o serviço foi regulamentado, inclusive criando cobranças de taxas - as quais podem ser revertidas para investimentos no trânsito.

Lamentavelmente, antes disso até casos de violência foram registrados. O caminho é buscar o consenso e, para isso, a interferência do poder público torna-se fundamental.  

Em qualquer atividade, a concorrência - quando aplicada de forma igualitária - pode estimular qualidade e reduzir preços, trazendo melhorias aos consumidores. Essa deve ser a preocupação dos gestores ao cumprirem com a função de regulamentar o serviço. Certamente, com ampla discussão e muita clareza. 
 

ARTIGO

Produtos livres de desmatamento nas estratégias da União Europeia

11/04/2024 07h30

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O Regulamento para Produtos Livres de Desmatamento é um entre vários componentes do Pacto Ambiental Europeu (European Green Deal), que tem como objetivo final atingir neutralidade de emissões de gases de efeito estufa em 2050, com um crescimento econômico livre da exploração excessiva dos recursos naturais e sem deixar ninguém para trás.

Trata-se, portanto, de uma peça dentro de um quebra-cabeça bem mais complexo que visa tornar a Europa um continente sustentável e carbono neutro.

Desde 2019, o Pacto Ambiental Europeu apresenta diretrizes que vão sendo gradativamente regulamentadas, cobrindo de energia renovável a produção de alimentos, passando por transporte e construção civil.

Trata-se de um marco legal abrangente que aborda diversas questões ambientais, incluindo o desmatamento, como parte dos esforços da União Europeia (UE) para um novo modelo de economia verde. 

O regulamento para produtos livres de desmatamento, aprovado em 2023, disciplina as atividades dos importadores europeus que passam a ser responsáveis por garantir que os produtos adquiridos não venham de áreas desmatadas depois de 31 de dezembro de 2020.

As restrições entram em vigor no final de 2024. Os importadores são os responsáveis pela implementação das verificações nos países exportadores, as chamadas “due dilligences”. 

As implicações para o Brasil são significativas, pois a UE é o segundo maior comprador dos nossos produtos agropecuários. Enfrentamos sérios problemas de desmatamento ilegal na floresta amazônica, além de questões fundiários e sociais.

Outro ponto importante é que a legislação europeia não faz distinção do que é considerado desmatamento legal ou ilegal. A normativa claramente se refere a desmatamento em geral. 

Esse ponto vem sendo questionado pelo governo brasileiro, alegando que está acima das exigências legais do ordenamento jurídico do país. Argumenta-se que essa normativa representaria uma forma de barreira não tarifária aos produtos do Brasil.

Entretanto, o argumento contrário é de que a UE tem a prerrogativa de estabelecer os critérios para os produtos que farão parte das suas cadeias de suprimento. E, como o objetivo maior é a redução dos impactos ambientais do consumo dos próprios europeus, nada mais lógico do que exigir que seus fornecedores sigam padrões compatíveis com essa ambição.

Importante notar que há fortes reações ao Pacto Ambiental dentro da própria UE, como vimos recentemente nos diversos protestos de produtores rurais no território europeu.

Embora estejam sensibilizando parte da sociedade e postergando algumas limitações, dificilmente a insatisfação dos produtores europeus ou dos governos fornecedores de produtos agrícolas para a Europa terão força para uma guinada nos objetivos de longo prazo da UE.

Parece haver um sério proposito do continente em mudar completamente suas bases de desenvolvimento, mirando a transição para uma economia mais resiliente e de baixas emissões de gases de efeito estufa.

Ao Brasil cabe o desafio de entender essas normativas e entrar em um processo de negociação sério e embasado na ciência. Ainda há grandes lacunas sobre como serão feitas as verificações do desmatamento e, sobretudo, como serão mapeadas as origens de cada lote de exportação.

Precisaremos acelerar nossos investimentos em rastreabilidade e transparência nos processos produtivos, assim como no aprimoramento de plataformas de monitoramento territorial. Tudo isso em consonância e em estreita colaboração com os importadores e agentes da União Europeia.

Ainda estamos em um momento de discussão e entendimento junto aos agentes europeus de como o novo regulamento será implementado no Brasil. Entende-se que será um processo com aprendizado mútuo e um período de adaptação.

Os entes governamentais têm o papel de catalisar essa discussão entre produtores, processadores e exportadores brasileiros para que estejamos prontos para manter a liderança como fornecedores de produtos agrícolas para a União Europeia. 

 

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ARTIGO

Era uma vez em uma escola na Suécia

11/04/2024 07h30

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Depois de anos educando as crianças quase que exclusivamente com recursos digitais, o Ministério da Educação da Suécia começou a perceber alguns sintomas perturbadores nas suas crianças: deficiência na leitura e na compreensão de textos apropriados para a idade, muita dificuldade de escrever e, quando solicitadas, escritas realizadas apenas em caixa alta.

Mas o que mais chamou a atenção foi a percepção de que as crianças também começaram a apresentar dificuldades para expressar o que sentiam, pois lhes faltava vocabulário até mesmo para descrever cenas breves ou relatos de emoções simples.

Muitas dessas manifestações, resultantes da falta de exercício cognitivo e motor, assemelhavam-se a alguns transtornos psicológicos, e não é de se espantar que muitos pais possam ter procurado psicólogos, feito exames ou mesmo ministrado medicamentos, preocupados com a lentidão, o mutismo ou ainda com dificuldade de compreensão de seus jovens filhos.

O governo sueco, diante dessa constatação, resolveu dar uma guinada nas suas orientações escolares e agora estimula fortemente o uso de livros em vez de laptops, como também incentiva a leitura em voz alta, as rodas de conversa e a prática da escrita - inclusive ditados - com o objetivo de reverter o cenário que se desenhava catastrófico para o futuro.

Crianças que não são estimuladas desde cedo em atividades motoras e intelectuais podem ter dificuldades de desenvolvimento profissional na vida adulta, particularmente em um mundo onde a criatividade e a inovação são realidade em todo lugar. 

No último Pisa, divulgado em 2023, o resultado geral dos jovens estudantes suecos foi de 487, ante 499 registrado na edição anterior, de 2018. Em Matemática, a queda foi de 15 pontos e em Leitura, de 10 pontos.

Suficiente para que fizesse um país sério, como a Suécia, acender as luzes amarelas e buscar compreender as razões dessa perda de energia no aprendizado de seus jovens cidadãos, (para além dos efeitos da covid, que afetou de maneira praticamente igual os países participantes).

Uma das medidas que o governo buscou implementar em todas as escolas - embora na Suécia o programa e as orientações pedagógicas não sejam unificadas como no Brasil - foi: menos celular, menos laptop e mais livro, leitura, escrita e conversa. O básico que, desde mais ou menos cinco séculos atrás, tem orientado a ideia do que é ensinar e aprender.

 Lógico que esta constatação não implica em demonizar o uso de tecnologia em sala de aula, mas de usá-la com sabedoria, de forma que ela ofereça o que, de fato, não é possível conseguir por outros meios.

Mal comparando, é como o hábito de muita gente usar palavras em inglês para se referir a coisas ou situações nas quais já existe uma palavra em português perfeitamente cabível. Esse é o mau uso da língua estrangeira. O que não significa que não se deva aprendê-la e usá-la, muito pelo contrário.

A tecnologia compreende um conjunto de ferramentas e habilidades que deve servir para ampliar nossa capacidade de ler, raciocinar, produzir e nos comunicar. Mas, para isso, precisamos antes saber ler, raciocinar, produzir e nos comunicar.

O perigo do uso de celulares e laptops no ensino fundamental é o de diminuir ou mesmo obstaculizar  o desenvolvimento motor e cognitivo das crianças, além de dificultar a expressão de ideias, emoções e socialização, por falta de vocabulário capaz de se fazer entender quando relatar uma experiência.

O fenômeno hikikomori, que se refere aos jovens que abandonam qualquer contato social real e mantêm-se isolados em seus quartos, comunicando-se apenas pelas redes sociais, vem se alastrando por todo mundo, assim como a descrição de novos transtornos psicológicos associados à dificuldade de comunicação e socialização. A saída, porém, pode estar um pouco antes do consultório médico ou do psicólogo. Na boa e velha sala de aula.

 

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