A displicência é tão escancarada que deixa a sensação até que existe cumplicidade com organizações criminosas.
As ações de vigilância na fronteira do Brasil com Paraguai e Bolívia ainda não saíram da fase de ideias, discursos e promessas vazias. A surpreendente quantidade de armas e drogas que contribuem para os índices assustadores de violência em todo País comprovam a negligência das autoridadades com o combate ao crime. Reiteiradas vezes, o Correio do Estado já alertou sobre a fragilidade da fiscalização e a necessidade de combater as ilegalidades na sua origem. Mato Grosso do Sul continua como corredor livre para a passagem dos produtos ilegais. E, pior, sem qualquer plano para conter as ilegalidades.
A quantidade de policiais nas rodovias ou nos municípios fronteiriços é vergonhosa. Os investimentos em tecnologia não passam de ficção. E o Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (Sisfron) esbarrou na sua própria grandiosidade diante da falta de recursos (ou de interesses) para ativá-lo. Tornou-se vitrine de intenções futurísticas, sendo exibido para ministros e até estrangeiros, mas com poucos resultados aos brasileiros. No geral, a displicência é tão escancarada que deixa a sensação até que existe cumplicidade com organizações criminosas.
Sabe-se que a vigilância nas estradas não é frequente por falta de efetivo. Assim, há situações rotineiras nas estradas que causam estranheza. Caminhões-tanque saem da Bolívia com destino a Campo Grande ou até outros estados. O que realmente transportam? As apreensões desse tipo de veículo ainda são raras. Uma das últimas aconteceu ainda em 2014, na região de Paranaíba, e as investigações não avançaram além da mera prisão e indiciamento do condutor. São praticamente diários, porém, os flagrantes em carretas carregadas com outros produtos, desde milho, soja até abóbora. Os traficantes apostam na sorte para não serem parados e, infelizmente, sabem que a falta de investimentos do poder público na área de segurança aumenta consideravelmente essa probabilidade. Tanto que existem os chamados “cavalo doido”, que enchem os veículos e conseguem, em muitos casos, passar livremente pelas estradas sul-mato-grossenses.
Os scanners veiculares (equipamentos com raio-x) ajudariam nessa batalha. Mas, um dos únicos disponibilizado ao Estado para a Polícia Rodoviária Federal raramente é utilizado por alegada dificuldade de manutenção. O governador Reinaldo Azambuja também evita falar da aquisição dos aparelhos, promessa repetida várias vezes durante sua campanha eleitoral. Agora, o saldo dessa pendência foi “depositado” na conta da União, assim como as demais responsabilidades relacionadas à fiscalização envolvendo a região fronteiriça. O discurso de cobrar parceria e investimentos do governo federal repete-se por diferentes gestões, mas ecoa no vazio, pois não chega a contar sequer com plano de partida.
Esboçou-se a tentativa de articular ações integradas para investir em inteligência em parceria com outros estados. O secretário estadual de Segurança, José Carlos Barbosa, chegou a participar de algumas reuniões. Novamente, os planos fracassaram. As organizações criminosas continuam até ampliando sua atuação, como mostram os ataques a bancos ou carros-fortes, que ajudam a financiar outros crimes. Policiais conseguem resultados mesmo dentro das limitações de pessoal e tecnologia. O combate ao tráfico depende hoje apenas de trabalho isolado porque falta planejamento estratégico e repete-se apenas o jogo de empurra.