Se o acordo envolvendo o Rádio Clube e a construtora do “Cupinzeiro” fosse efetivamente cumprido, transtornos como o de sábado poderiam ser evitados.
Na noite deste sábado, 18 de novembro, parte do espelho do teto do salão de festas do Rádio Clube Cidade, no centro de Campo Grande, desmoronou-se. Um pedaço grande e espesso de vidro que adornava a cobertura interna espedaçou-se sobre uma mesa e o chão de um dos espaços mais tradicionais da Capital. No momento era realizado evento alusivo à cultura árabe e, por sorte, não houve feridos ou mortos. O impacto dos destroços gerados por este desmoronamento parcial seria suficiente para tal consequência.
O episódio narrado acima, que resume reportagem publicada na edição de ontem sobre o fato, é somente o capítulo mais recente de uma negociação envolvendo o Rádio Clube, a Agência Municipal de Meio Ambiente e Planejamento Urbano (Planurb) e uma incorporadora que se propõe a fazer o prédio mais alto de Campo Grande. Uma história ainda muito mal contada, em que os envolvidos se esforçam muito mais em confundir do que esclarecer os fatos.
O Rádio Clube, há 1 ano, firmou termo de transferência de potencial construtivo de sua sede central, na Rua Padre João Crippa, para a incorporadora HVM levantar, na Travessa Ana Vani, Jardim dos Estados, prédio que, quando concluído, seria um dos mais altos de Campo Grande. Pela venda do seu direito de construir – obtido com o tombamento de sua sede mais antiga como patrimônio histórico –, o clube receberia R$ 1,5 milhão da construtora e, assim, permitiria que o edifício Vertigo, também conhecido como “Cupinzeiro”, tivesse o dobro da área construída para a região onde está sendo levantado.
Se a negociação envolvendo o Rádio Clube e a construtora fosse efetivamente cumprida, como determina o termo de transferência do potencial construtivo, seria menos provável que os transtornos ocorridos neste sábado acontecessem. Tal acordo foi intermediado pela Planurb, que depois de constatar que o clube não cumpriu suas obrigações no prazo devido, em vez de punir a agremiação – e, por consequência, a construtora e seu projeto –, concedeu-lhe novo prazo.
Enquanto esta história permanece muito mal contada e a estrutura do Rádio Clube (que já deveria ter sido reformada) se desmorona aos poucos, outros atores que poderiam investigar tudo isso, como o Ministério Público Estadual, continuam em silêncio. No incidente deste sábado, a diretoria do clube alegou ter documentos do Corpo de Bombeiros e de outros órgãos de controle que atestavam a segurança do local. O grande problema é que boa parte das autoridades acredita mais nos papéis e muito menos nos olhos das pessoas e nos fatos testemunhados por elas.
Em uma situação como esta, que envolve a sede do Rádio Clube, prédio de quase 100 anos, importantíssimo para a história de Campo Grande; a construção de um edifício que abrigará centenas de famílias; e o impacto que o empreendimento vai gerar na vizinhança, é preciso muita transparência por parte das autoridades do município, como Planurb e Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano (Semadur), e também a participação do Ministério Público Estadual na fiscalização da preservação do patrimônio histórico e do cumprimento dos termos que tornaram a obra viável. A coletividade agradece.