Entre visitas, anúncios e até apresentação do projeto a estrangeiros, parece que “a fama está superando a capacidade do produto”.
Novamente, o ministro da Defesa, Raul Jungmann, esteve em Dourados, onde está instalada a base do Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (Sisfron). Entre as várias visitas, anúncios e até apresentação do projeto a estrangeiros, parece que “a fama está superando a capacidade do produto”, ao menos por enquanto. Sabe-se que, desde o começo, a previsão do Governo Federal era promover investimentos a longo prazo, em decorrência da dimensão do programa. Surpreende, porém, que passados mais de quatro anos, os resultados ainda não tenham surtido efeito esperado para diminuir a entrada de produtos ilícitos, como drogas e armas, pelas fronteiras do Brasil com Paraguai e Bolívia.
Neste tempo em que tudo segue no patamar de planejamento, acompanhamos o avanço das organizações criminosas, que conseguiram se equipar em tempo bem mais célere. As fronteiras continuam desprotegidas e, todos os dias, dezenas de carregamentos de maconha e cocaína passam pelas estradas brasileiras, tendo Mato Grosso do Sul como porta de entrada. Há ainda o agravante da “guerra” entre facções, que segue avançando, resultando nas recentes tragédias dentro dos presídios. Já passamos, há muito tempo, da fase de alerta. Mesmo assim, a urgência continua sendo ignorada.
O Sisfron sempre foi divulgado como projeto que prevê investimentos de alta tecnologia, usando radares fixos e móveis, satélites, sensores óticos, câmeras de longo alcance e veículos aéreos não tripulados. Projeto brilhante e que corresponde ao necessário para monitorar nossas fronteiras. Entretanto, grande parte dos investimentos ainda não foi concretizada. Com a crise financeira e contigenciamento de verbas pelo Governo Federal, o cronograma foi alterado. Na prática, ainda não contamos com resultados efetivos diante de todo esse aparato previsto.
No ano passado, o então ministro da Defesa, Aldo Rebelo, esteve em Dourados para apresentar o projeto a comitiva de representantes de países arábes. Na metade do ano, o novo titular da pasta, Raul, Jugman esteve no Estado. Retornou ontem a Dourados. Desta vez, anuncia o investimento de R$ 450 milhões. Sabe-se que o sistema completo necessita de muito mais recursos, mas, ao menos, há uma sinalização positiva que demonstra o interesse em executá-lo. A ideia também é transformar operações pontuais em algo rotineiro, a exemplo da Ágata, que unia Exército, Aeronáutica e Marinha no combate a tráfico e contrabando. Os resultados foram insatisfatórios justamente por conta do efeito passageiro. Aos criminosos, restava esperar alguns dias até que a fronteira voltasse a ser aberta, com território livre para ilegalidades.
Espera-se que, na prática, possamos acompanhar essa correção das falhas de estratégia e negligência com investimento. O Governo tem a árdua missão de correr atrás de anos de atraso. Precisa efetivar o Sisfron, que já está famoso pela qualidade planejada, mas, na prática, permanece no anonimato para maior parte da população, que diariamente sente-se acuada pelo avanço da criminalidade.