Há de se ouvir a voz do povo, que já mostrou descontentamento com o abandono do empreendimento milionário.
O Aquário do Pantanal corre sério risco de transformar-se em “elefante branco”, mesmo faltando pouco para a obra ser concluída. O governador Reinaldo Azambuja deixou claro que, por enquanto, não pretende investir no empreendimento. Fez a seguinte afirmação: “em uma hora em que você tem restrição de recursos, é preferível edificar e construir um hospital do que concluir o Aquário”. Mais de 400 leitores comentaram a decisão do gestor, na reportagem publicada pelo Portal Correio do Estado, e as críticas foram praticamente unânimes. A reclamação, obviamente, deve-se à incoerência de desperdiçar dinheiro público já investido. A obra já consumiu R$ 230 milhões e esse recurso não pode simplesmente ser jogado fora, por decisão administrativa ou política equivocada.
Azambuja está corretíssimo na afirmação de que saúde deve ser prioridade, mas não pode desprezar os investimentos em outros setores, que também contam com verbas específicas. O Governo de Mato Grosso do Sul enfrenta queda na arrecadação em decorrência da crise econômica nacional, como ocorre em outros estados. Mas, há de se considerar que a atual gestão teve “fôlego” no caixa em razão de verbas inesperadas, que não eram previstas no orçamento. O primeiro bônus foi altíssimo, com a entrada de R$ 1,419 bilhão dos depósitos judiciais, ainda em setembro de 2015. Ainda, os cofres públicos receberam parcelas de R$ 57 milhões e parte do montante de R$ 78 milhões referentes ao fundo de exportações.
Mais recentemente, o Governo passou a contar com mais recursos da renegociação das dívidas com a União. O “perdão” temporário dos pagamentos e mais prazo resultaram em economia de R$ 670 milhões. Mesmo com esses recursos, a situação financeira da gestão estadual não vai bem e os investimentos são praticamente nulos. A retomada do Hospital do Trauma, por exemplo, conta com maior fatia de recursos do Ministério da Saúde. Os equipamentos também serão bancados pelo Governo Federal. Então, não pode ser essa a justificativa para deixar de investir no Aquário.
Fica difícil compreender que, com tantas verbas extras, o Governo não consiga os R$ 49 milhões para concluir a construção. Ou que, pelo menos, não avalie o retorno que esse investimento pode gerar, criando novo potencial turístico para Campo Grande, onde turistas hoje apenas desembarcam rumo a Bonito ou ao Pantanal. Os empregos que podem ser gerados no próprio Aquário, na rede hoteleira, em restaurante ou agências de turismo podem trazer vários benefícios à população.
Seria irracional que critérios políticos fossem adotados para medidas administrativas, pois, como todos sabem, a obra foi iniciada na gestão de André Puccinelli e praticamente esquecida no Governo Azambuja. Inclusive, inicialmente, o secretário estadual de Obras, Marcelo Miglioli, havia dito que os R$ 34 milhões deixados seria suficientes para conclusão. Os cálculos foram alterados, corrigidos e o Aquário voltou a ficar mais caro, repetindo as constantes falhas nas contas.
Há de se ouvir a voz do povo, que já mostrou descontentamento com o abandono do empreendimento milionário. O governador deveria repensar essa decisão, evitando desperdício de verba pública.