Os governantes precisam prestar mais atenção à fronteira, caso contrário estarão agindo em cumplicidade com tantos crimes.
Em apenas um ano, quadrilha de traficantes conseguiu trazer para o Brasil 24 toneladas de cocaína da Bolívia. Esse montante nos ajuda a dimensionar a quantidade de droga que chega ao País, mas não é descoberta em decorrência da fiscalização falha. Apenas um grupo era responsável por essas remessas, mas várias outras organizações criminosas estão agindo nas regiões fronteiriças, estabelecendo conecções com criminosos brasileiros. Tivemos recentemente a “guerra” iniciada no Paraguai, na região de Pedro Juan Caballero, na disputa de facções brasileiras que tentam controlar a venda de drogas e armas. O traficante Jorge Raafat foi executado por rivais com armamento muito superior ao disponível para as forças de segurança que têm a missão de atuar nessa fiscalização.
As operações demoradas não acompanham o ritmo dos criminosos. Ainda no começo do ano passado, policiais apreenderam 1,4 tonelada de cocaína em um depósito de Corumbá. No local, carreta seria preparada para transportar a droga em meio a minério de ferro, seguindo até o Porto de Santos. À época, foi divulgado que o flagrante ocorreu depois de dois meses de investigações. Tudo indica que, agora, chegaram a alguns dos demais integrantes da quadrilha. Isso porque fica difícil hoje qualquer tentativa de afirmar que o grupo todo foi preso, considerando as diversas ramificações das organizações, que estão cooptando cada vez mais “soldados do crime”. Somente o Primeiro Comando da Capital (PCC) conta com três mil presidiários nas cadeias de Mato Grosso do Sul, conforme o juiz federal Odilon de Oliveira detalhou, em reportagem publicada pelo Correio do Estado na segunda-feira. Isso sem contar os diversos criminosos que ainda estão nas ruas, cometendo os mais diversos crimes.
A quadrilha flagrada ontem contava com 70 veículos, dispondo de compartimentos para tentar esconder a droga e burlar a fiscalização. Esse tipo de mecanismo continua sendo amplamente utilizado, mesmo com tecnologia do scanner (equipamentos móveis com raio-x) que, teoricamente, poderia flagrar os produtos ilícitos escondidos. Cada aparelho custou R$ 1,5 milhão aos cofres públicos, mas ficam “encostados” na maior parte do tempo. Depois da compra do novo equipamento, anunciado como revolucionário na fiscalização, descobriu-se o custo de manutenção altíssimo e a dificuldade para operá-lo, apenas com profissionais qualificados. Dinheiro desperdiçado! Certamente se as blitz nas estradas contassem com os scanners frequentemente os flagrantes aumentariam e os traficantes teriam, pelo menos, receio de cruzar a fronteira.
Os governantes precisam prestar mais atenção à fronteira, caso contrário estarão agindo em cumplicidade com tantos crimes. É inacreditável que, diante o poder das facções criminosas, de mortes e da quantidade de droga que chega ao Brasil, providências não sejam tomadas. Continuamos desperdiçando tempo e dinheiro, enquanto as quadrilhas ganham milhões e investem cada vez mais para vencer a batalha.