Em uma prefeitura com dificuldades financeiras,, é um ato irresponsável anunciar um convênio para oferecer um dinheiro que o prefeito sabe que não existe.
É no fim de mandato que aparecem os contratos e convênios que, quando não são suspeitos, podem criar sérios problemas para o próximo a assumir a chefia do Poder Executivo. Tem sido assim na prefeitura de Campo Grande nestas últimas semanas com Alcides Bernal (PP) no comando da Capital. Ontem, por exemplo, o prefeito assinou novo convênio com o Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian (HU). A unidade de saúde de alta complexidade, que atualmente recebe em torno de R$ 1,8 milhão por mês do município, passará a receber até R$ 6 milhões.
Na ocasião, o secretário de Saúde do município, Ivandro da Fonseca, lembrou de verba federal recebida para ampliar o número de leitos de unidades de tratamento intensivo (UTI) na cidade, e ainda falou que parte destes recursos destinados ao HU são para este fim. Tudo muito nobre. Discurso com doses fortes de eloquência, sobretudo quando proferido em um hospital com seus corredores lotados de pacientes e com dificuldade para dar conta da crescente demanda por tratamentos.
Para Bernal é algo relativamente tranquilo chamar a imprensa, para anunciar esta “bondade”. Não que o Hospital Universitário não precise de mais dinheiro para se manter. Pelo contrário, a assistência em saúde aos que mais precisam, além de ser um direito fundamental, é um dever moral que qualquer governante que se preze. O problema, entretanto, é o contexto do ato. O atual prefeito, porém, está saindo na fotografia com a diretoria do HU, mas deixando a conta deste convênio para seu sucessor, Marcos Trad (PSD) lidar a partir de janeiro.
Em uma prefeitura com grandes dificuldades para manter seus serviços básicos, e que ainda não informou de maneira precisa como pagará o 13º salário de seus 23 mil servidores, é um ato irresponsável anunciar um convênio para oferecer um dinheiro que o próprio prefeito sabe que não existe. O ato carece de prudência, porque aumenta a expectativa de recebimento deste valor entre os administradores do hospital, e das pessoas que precisam dele. Quem acompanha o noticiário e os relatórios sobre as contas do município, porém, sabe que a situação financeira de Campo Grande não é das melhores, e que a perspectiva para 2017 é pessimista, com previsão de queda nominal de arrecadação e crescimento de despesas.
Se o prefeito de Campo Grande, Alcides Bernal, de fato se preocupar com as contas do município, é importante que ele tente não fazer demagogia em seus últimos dias de mandato. Também é preciso que a população fique atenta para os atos administrativo publicados no diário oficial até o próximo dia 31, período em que as luzes se apagam.
Exemplo de indefinição e demagogia é o que está sendo feito com a tarifa do transporte coletivo. Falta seriedade e transparência neste debate. Ao prefeito eleito, Bernal garantiu que não mexeria no preço do transporte público. Longe dele, tem dito reiteradamente que não descarta atender aos pedidos do Consórcio Guaicurus, que opera as linhas de ônibus, e subir o valor da passagem. Assim, fica difícil levar a sério a forma com que o prefeito administra Campo Grande.