Fica difícil esperar soluções mais aprofundadas e técnicas do prefeito que se preocupa em prestigiar ativação de semáforos.
Indefinições e incoerências permanecem no novo decreto para regulamentar o serviço de transportes via aplicativo, a exemplo do Uber, publicado pela Prefeitura de Campo Grande nesta semana. Por mais que não haja limitação do número de veículos cadastrados, estabeleceu-se pagamento de 7% à administração municipal por parte das empresas responsáveis. Ilusão acreditar que esse valor não será repassado aos passageiros. Nessa negociação (?) - que precisaria ser melhor debatida - quem obteve a maior vantagem foram os donos das concessões de táxi, que viram seus lucros caírem consideravelmente diante da chegada da concorrência, e pressionam para retomar o controle e a exclusividade no meio.
Nem mesmo o impacto na arrecadação da prefeitura pode ser devidamente mensurado. No decreto consta que a empresa operadora terá de recolher os valores à Agência Municipal de Transporte e Trânsito (Agetran), que ficará responsável pela gestão da receita proveniente da arrecadação, direcionando para fiscalização ou operação do serviço de transporte. Não há definição ainda sobre a periodicidade da cobrança, a forma de cálculo e tampouco como será feito o monitoramento de quantas “corridas” diárias. Certamente, a prefeitura terá de disponibilizar equipe de funcionários para cuidar dessa nova atribuição.
Ontem, o prefeito Marcos Trad pouco sabia detalhar acerca do novo decreto. Resumiu apenas que as definições foram resultado de discussão envolvendo todos. Faltou, porém, a participação mais efetiva da população, que estava conseguindo utilizar transporte mais confortável sem ter tantos gastos. A aprovação, inclusive, já foi comprovada em pesquisa do Ipems. Diante de tantas incertezas, surge a dúvida se, mais uma vez, a prefeitura não vai mudar de ideia e voltar a alterar as regras, como já ocorreu.
Mas fica difícil esperar soluções mais aprofundadas e técnicas do prefeito que se preocupa em prestigiar ativação de semáforos ou participar de dancinha na rua durante lançamento de campanha sobre trânsito. O período de eleição já passou. É importante, sim, manter o contato com a população e prestigiar solenidade ou eventos. Mas para tudo há de ter limites. Falta discernimento. Há momentos em que estar no gabinete, reunir com secretários e estudar soluções para os problemas da cidade torna-se mais importante do que as festividades. A popularidade deve ocorrer pela boa gestão, o que inclui atender o que é melhor para os campo-grandenses.
Há necessidade de regularizar o Uber, determinando regras sobre o serviço prestado, exigência de documentação correta e até mesmo a instalação de filial na cidade. Nada justifica, porém, as exigências mais rígidas para o Uber e a permissividade em relação aos táxis que, como todos sabem, contam com vários alvarás nas mãos dos mesmos donos. Estranhamente, o diretor-presidente da Agetran, Janine Bruno, chegou a defender que se trata de serviços distintos e que os taxistas contam com série de cobranças diferentes do Uber. Quais são elas? Novamente, ficamos sem respostas. É preciso mais clareza para dirimir suspeitas de favorecimento.