Testemunhar diariamente à ação dos corruptos tem feito o brasileiro repensar conceitos de moral e ética. Nenhum escândalo surpreende mais.
O filósofo, teórico político e escritor suíço Jean Jacques Rousseau dizia que “para conhecer os homens, torna-se indispensável vê-los agir”. Três séculos depois, a frase do iluminista permanece atual. Em meio aos escândalos revelados a cada dia no Brasil, percebe-se que a nação está se autoconhecendo da forma mais dolorosa possível.
Testemunhar diariamente à ação dos corruptos tem feito o brasileiro repensar conceitos de moral e ética. Nenhum escândalo surpreende mais.
O caso mais recente de suspeita de corrupção vem do Estado do Rio de Janeiro, e foi revelado pela Polícia Federal, na Operação “O Quinto do Ouro”, deflagrada na última quarta-feira, dia 29.
Para se ter uma ideia do pântano onde o brasileiro se encontra, cinco dos sete conselheiros do Tribunal de Contas do Estado (TCE) do Rio de Janeiro foram alvos de mandados de prisão temporária: Aloysio Neves, Domingos Brazão, José Gomes Graciosa, Marco Antônio Alencar e José Maurício Nolasco. O presidente da Assembleia Legislativa daqeuele mesmo estado, deputado Jorge Picciani (PMDB), foi alvo de condução coercitiva. A suspeita dos policiais federais é que os envolvidos tenham recebido para liberar convênios e contratos.
A investigação desnuda a decadência moral das instituições brasileiras. Se a maioria dos conselheiros de um tribunal de contas, que é órgão de controle e fiscalização, supostamente se corrompe para favorecer grupos políticos e empresariais, que dirá outros órgãos da administração pública? A degradação moral dos que devem fiscalizar os atos do poder público e parte da iniciativa privada pode levar o cidadão, e as outras instituições, a perderem a referência. A dimensão dos escândalos tem sido cada vez maior, e não estamos falando da repercussão deles nas redes sociais, mas sim dos recursos vultuosos envolvidos e da desfaçatez de quem comete os crimes.
Infelizmente, valores como o respeito às leis, ao patrimônio público, à coletividade e ao país não podem ser resgatados somente com investigações. Elas são apenas um dos instrumentos deste processo. Punições são precisas, e elas devem se exemplares. Só assim para evitar o triunfo dos que rompem as barreiras da lei. Se os responsáveis pelas punições estão entre os que devem receber as penas e sanções previstas nas regras que aplicam, o sintoma é de crise moral, e dela poderá decorrer todas as outras crises.
Outro remédio para a tornar o Brasil menos injusto, além das punições exemplares, é a transparência. Os atos dos que trabalham para o poder público devem estar ao alcance de todos, de forma fácil e objetiva. Se tudo for feito às claras, o caminho para os que afrontam as regras torna-se muito mais difícil.
Há alguns anos que os escândalos têm ocupado grande espaço no noticiário. É preciso, agora, que todos os casos tenham um desfecho. Se as acusações forem comprovadas, que os acusados sejam punidos. Se não forem, que sejam absolvidos. O que mais necessitamos é que todas as instituições fiquem limpas e que funcionem.