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Confira o editorial desta quarta-feira: "Semeando otimismo"

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Redação

20/09/2017 - 03h00
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Retomar a credibilidade exigirá reforço dessa agenda positiva na economia. Há necessidade de sair do comodismo e, para isso, são necessários esforços conjuntos na busca de alternativas...

Os brasileiros enfrentam uma busca incessante pela estabilidade, diante das repetidas turbulências enfrentadas na política e, consequentemente, na economia. A melhoria dos indicadores financeiros surge como alento, principalmente para quem busca colocação no mercado de trabalho. Ainda, pode ocorrer uma pausa nos sucessivos escândalos, pois há expectativa de

mais critérios nas denúncias feitas no âmbito da Lava Jato, depois da posse da procuradora-geral da República, Raquel Dodge. As reações aos esquemas de corrupção representaram um “divisor de águas” no Brasil, levando políticos até então tidos como poderosos para a prisão e denunciando todos os suspeitos de envolvimento nos desvios de dinheiro público, incluindo o presidente da República, Michel Temer. A operação alcançou dimensão gigantesca e preocupa o “clima de guerra” entre poderes. 

O ímpeto de “fazer Justiça” pode ter contribuído para excessos. Denúncias pautadas principalmente nas delações premiadas foram questionadas por não contarem com provas suficientes para responsabilizar os envolvidos, que acabavam previamente condenados pela opinião pública. À frente da Procuradoria-Geral, Rodrigo Janot desempenhou com mérito a função de “(...) enfrentar esse modelo político corrupto e produtor de corrupção cimentado por anos de impunidade e de descaso”, conforme palavras ditas em seu discurso de despedida. Tornou-se alvo de ataques na função ocupada e o desgaste já causava prejuízos. 

Esta nova etapa, sob o comando de Raquel Dodge, deve provocar uma desaceleração, mas espera-se que não esmoreça o combate à corrupção. Em seu discurso, ela reconhece que o País passa por um momento de depuração. Define o Ministério Público “como defensor constitucional do interesse público” e acrescenta que a “harmonia entre os poderes é um requisito para a estabilidade da nação”. É justamente neste ponto que seu discurso apresenta maior consonância com as declarações feitas pelo presidente Temer. Em sua fala na Assembleia Geral da ONU, ele fez questão de mostrar que o País vem retomando crescimento econômico e, estrategicamente, não comentou sobre as turbulências políticas, as quais, inclusive, envolvem seu nome em denúncias graves.  

A tão esperada estabilidade decorre de série de fatores. Na economia, depende da retomada de confiança, consequência direta dos atos políticos. Por isso, simplesmente ignorar os casos de corrupção que vieram à tona não será o caminho. Há esclarecimentos a serem feitos. O Brasil ainda tem 13,3 milhões de desempregados, mas já houve redução dessa taxa, como mostram os recentes indicadores divulgados pelo IBGE. O cenário positivo já é percebido em Mato Grosso do Sul, impulsionado principalmente pelo agronegócio, no qual estão concentradas as principais vagas no mercado de trabalho. 

Retomar a credibilidade exigirá reforço dessa agenda positiva na economia. Há necessidade de sair do comodismo e, para isso, são necessários esforços conjuntos na busca de alternativas, além de demonstração de que o combate à corrupção persistirá de forma responsável e sem alardes desnecessários ou escândalos desproporcionais. O momento exige seriedade e mais esperança em nossos passos, como disse Dodge em seu discurso, ao mencionar a poetisa Cora Coralina. É preciso, sim, semear otimismo, mas eliminando as “pragas” que podem destruir a plantação.