Age-se novamente, no sufoco, sob a pressão da violência extrema e de tragédias anunciadas para tentar conter urgências.
Em agosto do ano passado, Bonito sediava o Encontro do Pacto Interestadual de Segurança Pública Integrada, com objetivo de estabelecer ações conjuntas entre todos os Estados para combate à violência. Problemas em comum seriam priorizados, a exemplo da atuação de facções criminosas e o tráfico de drogas. À época, voltaram a ser feitas promessas de investimentos em Mato Grosso do Sul, especificamente na região fronteiriça do Brasil com Paraguai e Bolívia, por onde entram drogas e armas que abastecem todo País.
Deste encontro até hoje, as mudanças não foram perceptíveis e a guerra entre grupos rivais agravou-se, resultando na macabra rebelião, com a matança dentro dos presídios. Agora, outro pacto volta a ser debatido por governadores, secretários de segurança e o presidente Michel Temer. Age-se novamente, no sufoco, sob a pressão da violência extrema e de tragédias anunciadas para tentar conter urgências.
A força das facções já é conhecida dos estados há muito tempo. Inclusive, a assinatura do Pacto Interestadual ocorreu pouco tempo depois da execução do traficante Jorge Raafat, durante emboscada em Pedro Juan Caballero, no Paraguai, justamente na fronteira com a cidade brasileira de Ponta Porã. À época, já se dizia sobre o início de perigosa guerra entre Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando Vermelho, grupos que dominam as prisões brasileiras e coordenam vários crimes do lado de fora das cadeias. O poder público fracassou, não conseguiu conter o avanço das organizações criminosas, que se tornaram bem mais preparadas que as próprias forças policiais.
Em poucos dias, equívocos que se repetem há anos não serão corrigidos. Porém, é preciso colocar em prática esses pactos e todas as propostas que são debatidas em reuniões. Algo que, explícitamente, não está ocorrendo. Permanece o “jogo de empurra” acerca do problema. Estados eximem-se de suas responsabilidade, jogando a culpa maior para o Governo Federal, que continua a agir de forma negligente. Assim, as fronteiras continuam abertas para o crime e as ações repressivas para tentar combater o tráfico de drogas e até a entrada de armas acabam não tendo resultados.
Investigações revelam o poder das facções, que articulam crimes e conseguem movimentar milhões mesmo estando dentro de prisões intituladas de segurança máxima. Nossas legislações acabam corroborando para esses abusos, pois mesmo nas prisões federais - para onde são levados os criminosos considerados de alta periculosidade - as conversas não são gravadas. O pacto entre Comando Vermelho e a família do Norte (FDN), facção apontada como responsável por recente massacre, teria sido firmado dentro da penitenciária de Campo Grande, onde os detentos ficam isolados. Mais uma fragilidade que compromete a segurança de todo País.
Infelizmente, só os pactos entre os criminosos têm sido levado adiante. O Governo precisa dar respostas e mostrar que seus compromissos não são apenas fictícios. Algo que só será comprovado com reais investimentos em segurança, para restabelecer a ordem e retomar o controle, que hoje está nas mãos dos criminosos.