Seria, no mínimo, estranho que de todas as doses encaminhadas para o País inteiro apenas as que foram enviadas para a Capital.
A Prefeitura de Campo Grande ainda não tem ideia de como explicar o sumiço de pelo menos três mil doses de vacina contra a gripe. O fato revela apenas uma das consequências da nefasta bagunça que envolve a tentativa da equipe de Alcides Bernal em administrar a cidade. A única justificativa apresentada até agora - pelo secretário municipal de Saúde, Ivandro Fonseca, - foi de que os frascos com doses da vacina estariam com quantidade inferior ao indicado, algo que não encontrou qualquer plausibilidade até agora. Afinal, seria, no mínimo, estranho que de todas as doses encaminhadas para o País inteiro apenas as que foram enviadas para a Capital apresentassem essa discrepância na quantidade. O Instituto Butantam, responsável pela produção, alegou que há rigoroso teste de qualidade e refuta essa hipótese.
Toda essa polêmica está marcada por contradições, que ficaram ainda mais evidentes para quem precisou se submeter a idas e vindas aos postos de saúde com a promessa de que chegariam mais doses de vacina. Acompanhamos a confusão, por exemplo, no último dia da campanha de imunização, no centro de saúde do Bairro Tiradentes, onde várias pessoas ficaram na fila a espera de doses que não chegavam. A conta não fecha e nem sabemos se chegaremos algum dia a consenso sobre os números. Há no estoque, a reserva para segunda dose das crianças (que precisam ser aplicadas 30 dias depois da primeira) e as dos presidiários, que ainda não foram aplicadas. Agora, sindicância será instaurada para levantar todas as imunizações feitas durante a campanha, algo que já deveria estar disponível e organizado.
O Ministério Público Estadual já anunciou abertura de investigação para apurar o episódio e precisará demonstrar celeridade neste caso. A cada dia, mais pessoas são internadas com sintomas da gripe, incluindo algumas que estariam dentro dos chamados grupos prioritários, mas não conseguiram a imunização. Desde o começo do ano, já foram 25 mortes em Mato Grosso do Sul. No País, foram 679, conforme dados informados ontem pelo Ministério da Saúde. O número alarmante levou a “corrida” por vacinas e já é difícil encontrá-las até mesmo em clínicas particulares.Essa busca intensa também acabou estimulando as ilegalidades. Assim, no desaparecimento de doses na rede pública de Campo Grande, há suspeita de favorecimento. No interior do Estado, chegamos a ter denúncia de vendas de doses disponibilizadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Homem foi preso em Bela Vista, acusado desse crime.
O ideal seria que todas as pessoas, de diferentes faixas etárias, tivessem acesso a vacinação, algo que vem se mostrando necessário diante do aumento de casos. O Ministério da Saúde não dá conta de atender a todos e, por isso, estabeleceu as restrições. Em Campo Grande, falhas ocorreram e a população espera respostas. Não se trata apenas de esclarecer o sumiço criminoso das doses de vacina contra a gripe, mas mostrar que há o mínimo de controle para, pelo menos, saber a destinação de materiais e medicamentos que chegam diariamente nas unidades de saúde. O caso demonstra que há muito a ser aperfeiçoado, numa gestão que repete constantemente equívocos e descaso em vários setores.