Nessa queda de braço entre poder público, diretores de hospitais e profissionais, a população tem sido amplamente prejudicada.
Não há médicos suficientes na rede pública de saúde de Campo Grande! O diagnóstico é confirmado pelos próprios pacientes, que precisam peregrinar por várias unidades de saúde, ou encarar horas de espera em locais lotados para tentar conseguir uma consulta. Também há a confirmação oficial do secretário municipal de Saúde, Marcelo Vilela, que aponta deficit de, pelo menos, 130 profissionais para alcançar a quantidade mínima ideal. O problema é extremamente complexo e a solução vai muito além das convocações de outros nomes, como chegou a acontecer neste ano.
Muitos médicos estão de olho nas horas extras dos plantões, que são extremamente superiores ao salário-base. Formalizam contratos para poucas horas e, depois, conseguem faturar mais. O impasse ocorre porque a verba pública tornou-se insuficiente para sustentar o excesso de bonificações. A prefeitura da Capital iniciou, neste ano, redução de despesas e a folha de pagamento diminuiu R$ 5 milhões. Além disso, a atual administração começou a fazer controle mais rigoroso sobre a quantidade de médicos nas unidades, verificando as razões das faltas frequentes, que acabavam sobrecarregando outros postos ou até fazendo com que famílias retornassem para casa sem atendimento.
Obviamente, houve reação e até mesmo a saída do secretário Vilela foi pedida ao prefeito Marcos Trad, que já descartou essa hipótese. Outrora, a busca pela medicina era encarada como uma vocação por aqueles que têm intuito de salvar vidas, cuidar das pessoas e, portanto, pessoas comparadas a anjos. Infelizmente, essa conduta nem sempre é seguida. Há, sim, vários profissionais dedicados e qualquer generalização seria grave injustiça. Mas existem aqueles que apostam em uma carreira que, seguramente, garantirá melhor remuneração mensal e seguem na tarefa de somente faturar mais, sem nem mesmo cumprir a carga horária de contrato. Por isso, a importância de rigor contra aqueles que cometem essas incoerências. Também para que os bons profissionais não acabem rotulados de forma errônea, sendo denominados até de “máfia de branco”.
Atualmente, acompanhamos constantes apelos por dinheiro na área da saúde. A Associação Beneficente quer mais R$ 3,5 milhões da prefeitura para a Santa Casa. As ameaças de suspensão no atendimento tornaram-se rotina, caso o montante não seja repassado. Assim, até a assinatura da contratualização, que garante R$ 20 milhões, foi protelada no mês passado, para tentar forçar o acréscimo diante do atraso no pagamento de funcionários. Investimentos que poderiam ser encarados como benéficos já indicam futura dor de cabeça, a exemplo da unidade de trauma, pois ainda não há definição exata de verbas para mantê-la.
Infelizmente, nessa queda de braço entre poder público, diretores de hospitais e profissionais, a população tem sido amplamente prejudicada. O foco permanece no impasse acerca de questões administrativas. Não haverá evolução alguma enquanto as discussões limitarem-se a garantir o atendimento básico. Corrigir falhas e romper o atual sistema é um desafio imenso.