Continuo considerando o dia 27 de novembro de 1935 um divisor de águas na história de nossa jovem República. O balanço historiográfico, à primeira vista, parece decepcionante. A clássica pergunta se a rebelião militar foi ou não decidida em Moscou ainda não foi suficientemente esclarecida, apesar dos esforços de respeitáveis historiadores. Entendo que o ano de 1935 protagonizou o clímax de um processo de mudanças que se iniciou em 1922 com o objetivo de tentar repetir a experiência dos bolcheviques no Brasil. Felizmente fracassou.
Creio que o atual Comandante Militar do Oeste, o digno General de Exército Freitas, colega da turma Juarez Távora, talvez se lembre de uma formatura matinal, em 1976, na Academia Militar das Agulhas Negras, quando recebi, da mão do Comandante, General Espírito Santo, o prêmio da cadeira de Literatura, por ter escrito a melhor Ordem do Dia sobre o fatídico acontecimento de 27 de novembro de 1935 para alguns chamado de Intentona Comunista e para outros de Rebelião Vermelha. Tal como fizera o poeta Jorge Luis Borges, plagiei vários textos das revistas militares na biblioteca da Escola, afirmando temerariamente que “esquecer os que traíram era trair também, mas ignorar as causas da traição era desprezar a história”.
Descobri muitos anos depois, quando estava cursando o Mestrado em História Social na Universidade Federal do Paraná que um dos aspectos mais instigantes da desastrada rebelião militar tinha sido a suposta participação de uma minoria parlamentar composta por quatro deputados e um senador, todos da Aliança Nacional Libertadora (ANL). Entre estes estava o representante do Paraná, Octávio da Silveira, acusado de ser um dos principais articuladores do fracassado movimento. Não há dúvida de que ele foi um dos fundadores da ANL, mas desde o princípio discordara de seu sectarismo.
Quem talvez tenha expressado melhor a natureza eclética da ANL foi o Prof. Paulo Sérgio Pinheiro no seu ensaio Estratégias da Ilusão. A Revolução Mundial e o Brasil: 1922-1935 (São Paulo: Companhia das Letras, 1991). Para este autor, as revoltas ocorridas em novembro de 1935 “permanecem um enigma”, predominando “interpretações que mais confundem do que esclarecem”.
Uma exceção seriam as cenas do “putch” ocorrido em 27 de novembro no Rio de Janeiro e as das rebeliões que o precederam no Nordeste do País. O deputado Octávio da Silveira, por sua vez, nenhuma atenção mereceu de Pinheiro, que se limitou a citá-lo entre os parlamentares presos. Este descaso também é flagrante em A República Nova, de Edgard Carone (São Paulo: Difel, 1982), o qual, contudo, tem o mérito de fornecer um bom apanhado sobre a formação, a expansão e a ideologia da ANL. Isto nos surpreende pelo fato de que Octávio da Silveira ter sido o único parlamentar que sofreu a mais prolongada punição aplicada no período que antecedeu o Estado Novo.
No penúltimo volume das minhas notas autobiográficas, a ser lançado em 2018, destaco o papel relevante do pacifista Octávio da Silveira, que foi injustamente condenado pela memória de grande parte da intelectualidade paranaense, encastelada nas universidades locais. Será um triunfo!