Ainda neste mês de outubro, a Academia Sul-mato-grossense de Letras realizará solenidade in memoriam do ilustre professor J. Barbosa Rodrigues. Posso assegurar que tive o privilégio de merecer a sua amizade. Ele foi reconhecido em vida como um dos principais empresários de Mato Grosso do Sul, responsável por consolidar o grupo Correio do Estado, como uma empresa de destaque no setor de comunicações da região Centro-Oeste brasileira. Contudo, começou do nada e teve desde o início o apoio de sua valorosa esposa, a professora Henedina.
O jornalista Tiago de Andrade foi mais longe e ressaltou a sua importante contribuição com a literatura e a historiografia (Correio do Estado, 1/07/2016). Gostaria de acrescentar que, além de grande benfeitor da população local, sobretudo da menos favorecida, ele foi um verdadeiro mestre e homem de família.
Não estou afirmando que tenha sido um ser humano perfeito, porque isso é impossível. Posso dizer que também fazia qualquer estranho se sentir aceito e respeitado, embora fosse objetivo. Poucas vezes em minha vida encontrei um interlocutor tão digno quanto o professor Barbosa. Como toda relação de amizade verdadeira depende de autenticidade, o meu respeito pelo seu legado resultou em uma proposta que apresentei, muito depois de seu falecimento, ao Conselho Universitário da UFMS que a aprovou por unanimidade. Assim, o nobre espaço público da antiga reitoria passou a ser designado com o seu valoroso exemplo de digno professor de crianças, quando esta cidade ainda era quase uma vila.
Guardo do nosso convívio quase semanal, as mais gratas recordações. Logo que o conheci, passei a admirá-lo imediatamente pela discrição, simplicidade e sabedoria.
Entre as suas aspirações de verdadeiro pioneiro, ele procurou criar o seu próprio negócio, dirigir o próprio trabalho, que significou a liberdade de organizar o seu tempo. Para o professor Barbosa, a aparente vantagem de ser dirigente de um conglomerado empresarial era, na verdade, uma forma de escravidão. Ele fez do Correio do Estado a extensão de sua própria casa e nesse espaço exerceu a função de servo do povo. Jamais fugiu do lema do jornal: “Servir o povo de nossa terra, informando-o, indagando-o dos seus problemas, empenhando-se na sua solução, batendo-se por seus direitos e verdadeiros interesses” (Correio do Estado, ano I, Nº 1, 07/02/1954).
Na sua sala de trabalho conviviam pilhas de documentos de administração da empresa com livros, revistas e jornais dos mais variados. Tendo estudado em seminário, assim como o mato-grossense Roberto Campos, aprendeu desde cedo a importância dos livros. Mas, ao contrário de muitos leitores superficiais, era um crítico nato e pensava por conta própria. Não tinha uma cabeça bem cheia, mas muito bem feita, muito bem formada e um caráter marcado por elevado senso de dignidade.
Na verdade foi em Três Lagoas, em 1985, jantando com as nobres professoras da UFMS Flora Tomé e Nadir Mendonça que ouvi, pela primeira vez, referência ao nome do professor J. Barbosa Rodrigues. Sendo assim, essa oportuna comemoração do seu primeiro centenário despertou em meu espírito um sentimento de reencontro com um distinto amigo que perdi de vista por muito tempo e subitamente nossos destinos passaram a se cruzar mais uma vez.