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"Campo Grande - MS, de uma estância a uma grande província"

Victor Anache Ferzeli cirurgião-dentista ([email protected]) www.victorferzeli.com.br

Redação

11/03/2015 - 00h00
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Por mais que se tenha um desenvolvimento acontecendo em todos os recantos do país e do mundo, o que se observa em algumas pequenas capitais é um resumo de uma ineficiência administrativa que pode ser colocada a toda prova, entendendo-se que em muitos assuntos essas colocações se exacerbam de forma clara e evidente.

Imagine-se um pedestre caminhando pelas antigas ruas do centro de Campo Grande, onde os semáforos para pedestres desde que se danificaram pela primeira vez depois de instalados parecem nunca ter sido consertados, uma das coisas mais simples observadas em qualquer rua do interior do país e que se vê funcionando, porém aqui muitos e importantes não funcionam nem como alegoria de escola de samba. Interessante ainda se torna, quando entra em conflito uma campanha pró-pedestre versus motoristas que não contam com tal recurso “tecnológico” inventado desde a época do meu avô. Isto seria o básico se não fosse cômico, motoristas divididos entre querer atender uma gentileza e ao mesmo tempo atrapalhar um trânsito caótico sem quaisquer orientações de um simples policial para agilizar o mesmo. E daí o que fazer? Somam-se a isto, quadras que no grande quadrilátero central, diminuem o número de suas faixas de rolagem sem qualquer aviso aos motoristas.

Pra quem está chegando de carro agora de um grande centro, umas das portas de entrada a Av. Ernesto Geisel se desmorona em descaso, outra coisa relembre facilmente o que é uma rua esburacada, ou melhor, muito esburacada, numa das maiores veias de trânsito, excetuando a Av. Afonso Pena (recapeada pelo Governo Estadual). Aliás, sou da época em que com frequência observa-se recapeamento de ruas. Se tiver um pouco de curiosidade ao passar por um dos milhares buracos na cidade observe a espessura do asfalto. Acredito que a qualidade do asfalto realmente seja muito boa pela espessura que depositam nas mesmas. Uma vergonha!!. Senhor visitante de Campo Grande, não estranhe barulhos excessivos no interior de seu transporte ou manutenções demasiadas em seu automóvel: na realidade é o asfalto que não presta mesmo. Nem discorrerei sobre a ausência de placas de nomes de ruas, ainda bem que hoje existe o GPS para ajudar os administradores deste setor.

Sinal amarelo significa com seu tempo curto: acelere! Enfim, porque não fazer campanhas para lembrar informações que ficaram esquecidas desde os tempos em que se habilitou para suas carteiras de motoristas?

Já as motocicletas, que disputam as faixas com os carros de forma totalmente desordenada; em São Paulo pelo menos buzinam de forma absurda para ao menos despertar a atenção de motoristas, onde aqui aparecem do nada, pondo em risco sua própria saúde. Porque não, uma faixa reduzida na largura exclusiva para motociclistas nas ruas mais movimentadas? Porque não fazer recuos nas calçadas para paradas de ônibus que insistem em atrapalhar o trânsito, p.e. em uma via como a Rua Bahia;  ocupando pelo menos 3 faixas rolagem; será que não vêem que a largura de um ônibus  é maior do que de um carro estacionado? Para compensar estas reduções nas suas calçadas seus proprietários poderiam ter redução proporcional no seu IPTU por alegarem qualquer prejuízo comercial na mobilidade de seus transeuntes. Ruas e avenidas estas, que possuem sinalizações horizontais cuja tinta de “excelente” qualidade, resistem no máximo a “três ou quatro chuvas”.

É, na realidade, quando dizem que Campo Grande é uma capital que cresce com ares de província, particularmente acredito que o pensamento que predomina é de uma cidade provinciana sim, com pensamentos administrativos de fazendas bem geridas.

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Produtos livres de desmatamento nas estratégias da União Europeia

11/04/2024 07h30

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O Regulamento para Produtos Livres de Desmatamento é um entre vários componentes do Pacto Ambiental Europeu (European Green Deal), que tem como objetivo final atingir neutralidade de emissões de gases de efeito estufa em 2050, com um crescimento econômico livre da exploração excessiva dos recursos naturais e sem deixar ninguém para trás.

Trata-se, portanto, de uma peça dentro de um quebra-cabeça bem mais complexo que visa tornar a Europa um continente sustentável e carbono neutro.

Desde 2019, o Pacto Ambiental Europeu apresenta diretrizes que vão sendo gradativamente regulamentadas, cobrindo de energia renovável a produção de alimentos, passando por transporte e construção civil.

Trata-se de um marco legal abrangente que aborda diversas questões ambientais, incluindo o desmatamento, como parte dos esforços da União Europeia (UE) para um novo modelo de economia verde. 

O regulamento para produtos livres de desmatamento, aprovado em 2023, disciplina as atividades dos importadores europeus que passam a ser responsáveis por garantir que os produtos adquiridos não venham de áreas desmatadas depois de 31 de dezembro de 2020.

As restrições entram em vigor no final de 2024. Os importadores são os responsáveis pela implementação das verificações nos países exportadores, as chamadas “due dilligences”. 

As implicações para o Brasil são significativas, pois a UE é o segundo maior comprador dos nossos produtos agropecuários. Enfrentamos sérios problemas de desmatamento ilegal na floresta amazônica, além de questões fundiários e sociais.

Outro ponto importante é que a legislação europeia não faz distinção do que é considerado desmatamento legal ou ilegal. A normativa claramente se refere a desmatamento em geral. 

Esse ponto vem sendo questionado pelo governo brasileiro, alegando que está acima das exigências legais do ordenamento jurídico do país. Argumenta-se que essa normativa representaria uma forma de barreira não tarifária aos produtos do Brasil.

Entretanto, o argumento contrário é de que a UE tem a prerrogativa de estabelecer os critérios para os produtos que farão parte das suas cadeias de suprimento. E, como o objetivo maior é a redução dos impactos ambientais do consumo dos próprios europeus, nada mais lógico do que exigir que seus fornecedores sigam padrões compatíveis com essa ambição.

Importante notar que há fortes reações ao Pacto Ambiental dentro da própria UE, como vimos recentemente nos diversos protestos de produtores rurais no território europeu.

Embora estejam sensibilizando parte da sociedade e postergando algumas limitações, dificilmente a insatisfação dos produtores europeus ou dos governos fornecedores de produtos agrícolas para a Europa terão força para uma guinada nos objetivos de longo prazo da UE.

Parece haver um sério proposito do continente em mudar completamente suas bases de desenvolvimento, mirando a transição para uma economia mais resiliente e de baixas emissões de gases de efeito estufa.

Ao Brasil cabe o desafio de entender essas normativas e entrar em um processo de negociação sério e embasado na ciência. Ainda há grandes lacunas sobre como serão feitas as verificações do desmatamento e, sobretudo, como serão mapeadas as origens de cada lote de exportação.

Precisaremos acelerar nossos investimentos em rastreabilidade e transparência nos processos produtivos, assim como no aprimoramento de plataformas de monitoramento territorial. Tudo isso em consonância e em estreita colaboração com os importadores e agentes da União Europeia.

Ainda estamos em um momento de discussão e entendimento junto aos agentes europeus de como o novo regulamento será implementado no Brasil. Entende-se que será um processo com aprendizado mútuo e um período de adaptação.

Os entes governamentais têm o papel de catalisar essa discussão entre produtores, processadores e exportadores brasileiros para que estejamos prontos para manter a liderança como fornecedores de produtos agrícolas para a União Europeia. 

 

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Era uma vez em uma escola na Suécia

11/04/2024 07h30

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Depois de anos educando as crianças quase que exclusivamente com recursos digitais, o Ministério da Educação da Suécia começou a perceber alguns sintomas perturbadores nas suas crianças: deficiência na leitura e na compreensão de textos apropriados para a idade, muita dificuldade de escrever e, quando solicitadas, escritas realizadas apenas em caixa alta.

Mas o que mais chamou a atenção foi a percepção de que as crianças também começaram a apresentar dificuldades para expressar o que sentiam, pois lhes faltava vocabulário até mesmo para descrever cenas breves ou relatos de emoções simples.

Muitas dessas manifestações, resultantes da falta de exercício cognitivo e motor, assemelhavam-se a alguns transtornos psicológicos, e não é de se espantar que muitos pais possam ter procurado psicólogos, feito exames ou mesmo ministrado medicamentos, preocupados com a lentidão, o mutismo ou ainda com dificuldade de compreensão de seus jovens filhos.

O governo sueco, diante dessa constatação, resolveu dar uma guinada nas suas orientações escolares e agora estimula fortemente o uso de livros em vez de laptops, como também incentiva a leitura em voz alta, as rodas de conversa e a prática da escrita - inclusive ditados - com o objetivo de reverter o cenário que se desenhava catastrófico para o futuro.

Crianças que não são estimuladas desde cedo em atividades motoras e intelectuais podem ter dificuldades de desenvolvimento profissional na vida adulta, particularmente em um mundo onde a criatividade e a inovação são realidade em todo lugar. 

No último Pisa, divulgado em 2023, o resultado geral dos jovens estudantes suecos foi de 487, ante 499 registrado na edição anterior, de 2018. Em Matemática, a queda foi de 15 pontos e em Leitura, de 10 pontos.

Suficiente para que fizesse um país sério, como a Suécia, acender as luzes amarelas e buscar compreender as razões dessa perda de energia no aprendizado de seus jovens cidadãos, (para além dos efeitos da covid, que afetou de maneira praticamente igual os países participantes).

Uma das medidas que o governo buscou implementar em todas as escolas - embora na Suécia o programa e as orientações pedagógicas não sejam unificadas como no Brasil - foi: menos celular, menos laptop e mais livro, leitura, escrita e conversa. O básico que, desde mais ou menos cinco séculos atrás, tem orientado a ideia do que é ensinar e aprender.

 Lógico que esta constatação não implica em demonizar o uso de tecnologia em sala de aula, mas de usá-la com sabedoria, de forma que ela ofereça o que, de fato, não é possível conseguir por outros meios.

Mal comparando, é como o hábito de muita gente usar palavras em inglês para se referir a coisas ou situações nas quais já existe uma palavra em português perfeitamente cabível. Esse é o mau uso da língua estrangeira. O que não significa que não se deva aprendê-la e usá-la, muito pelo contrário.

A tecnologia compreende um conjunto de ferramentas e habilidades que deve servir para ampliar nossa capacidade de ler, raciocinar, produzir e nos comunicar. Mas, para isso, precisamos antes saber ler, raciocinar, produzir e nos comunicar.

O perigo do uso de celulares e laptops no ensino fundamental é o de diminuir ou mesmo obstaculizar  o desenvolvimento motor e cognitivo das crianças, além de dificultar a expressão de ideias, emoções e socialização, por falta de vocabulário capaz de se fazer entender quando relatar uma experiência.

O fenômeno hikikomori, que se refere aos jovens que abandonam qualquer contato social real e mantêm-se isolados em seus quartos, comunicando-se apenas pelas redes sociais, vem se alastrando por todo mundo, assim como a descrição de novos transtornos psicológicos associados à dificuldade de comunicação e socialização. A saída, porém, pode estar um pouco antes do consultório médico ou do psicólogo. Na boa e velha sala de aula.

 

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