Quando o ex-presidente francês Charles de Gaulle desembarcou em nosso país no ano de 1962 para tratar de um assunto relacionado à proibição da pesca de lagosta feita por barcos franceses em águas territoriais brasileiras, lançou uma frase relacionada ao nosso país que ficou famosa – “Este não é um país sério”. Foi a sentença dada pelo líder da resistência nazista no território francês durante a segunda grande guerra mundial e que conspirou frontalmente em desfavor da nação brasileira, tamanha a força da sua proposição.
Estava muito claro que essa ação não se cingiu apenas à questão das lagostas. De Gaulle sabia muito bem o que estava afiançando. Sua inteligência privilegiada, aliada ao seu vasto conhecimento da história mundial, bem como da vida política e institucional dos países europeus, foram causas determinantes para se encharcar daquela coragem indomável. De Gaulle foi um gigante da política mundial. Ao lado de Winston Churchill desenhou o novo mapa da geografia política dos países do oriente médio, e do continente africano. Sua participação nesse campo complicado da diplomacia mundial foi decisiva tamanha a força das suas argumentações.
Nesse contexto, sua visão quanto ao nosso quadro político e institucional ao longo da nossa existência como nação livre e soberana, foi absolutamente profética. Basta deitarmos os olhos
para os nossos tropeços desde a nossa Independência Política que surgiu sob a égide de um regime de força imposto por Pedro I. A escravidão negra foi a nota de culpa do nosso atraso como nação civilizada. As fases republicanas foram repugnantes. Uma sequencia de atos de desonestidade jogaram o nosso país para um abismo despropositado.
O nosso primeiro presidente não terminou seu mandato. Na sua sequencia um conluio condenável entre paulistas e mineiros disputavam o inquilinato no Palácio do Catete, então sede do governo da República. Não havia Justiça Eleitoral. Os “ coronéis “ é que decidiam os pleitos eleitorais no bico das suas canetas e na força bruta das suas autoridades regionais. Quando esse período teve o seu epílogo outro pior aguardava a nação brasileira. Foi a ditadura Vargas.
Após esse período de força o nosso país conheceu a renúncia de um presidente legitimado nas urnas, e terminou com o golpe de estado que destituiu do poder o presidente João Goulart. Na sequencia uma ditadura militar ditou as regras da governabilidade. Quando essa acabou o pior ainda estava por vir. Tancredo não assumiu em razão do seu falecimento. O seu vice, não estava preparado para as funções da primeira magistratura da nação. O país foi mergulhado numa recessão nunca antes constatada. A fome e a miséria passaram a se constituir na pilastra da nossa pirâmide social.
No seu curso dois ex-presidentes foram cassados pelo Senado da República. A corrupção
foi a sua causa motivadora. Um ex-presidente foi denunciado pela PGR, como sendo o chefe de uma grande organização criminosa que causou transtornos para a política fiscal, tributária e previdenciária.
Hoje temos um presidente assustado. Em seis meses de governo, seis dos seus ministros, tiveram que deixar os seus cargos. Nem precisa dizer os motivos. Isso envergonha o estado brasileiro. Os interesses menores indicam, que não aprendemos absolutamente nada diante da advertência feita por, De Gaulle.
Dias atrás, a ex-presidente foi salva de ter seus direitos políticos suspensos através de uma manobra que mudou a forma de interpretar a nossa Constituição. Hoje, um simples apartamento de propriedade de um ex-ministro desencadeou um conflito que respingou na mais alta autoridade da República. Com essas sequencias intermináveis de tropeços demonstramos para o mundo inteiro que a nossa democracia continua muito frágil. Assim, não vamos nunca ser o gigante que gostaríamos de protagonizar para liderar a América Latina. A profecia de De Gaulle continua viva.