O brasileiro convive diariamente com a violência nas suas mais variadas formas. Desde que levanta para trabalhar até quando retorna para o convívio familiar. Isto se não houver nenhum tipo de incômodo. Mas a pior de toda a violência é quando se retira covardemente do convívio familiar um ente querido.
Somente as famílias machucadas com essa perda brutal pode avaliar a dor profunda que esse fato produz no grupo familiar. A família fica destruída, sem norte, sem ânimo, para os desafios que precisa enfrentar. Como pode ser crível, que alguém sadio que saiu cedo para o trabalho possa regressar ao seu lar sem vida.
Não interessa aqui o enfrentamento das questões fáticas que concorreram para a barbárie. Isso é o que menos importa. O que importa é que essa não pode ser a regra de convivência social em um estado civilizado. Quando se perde, um ente querido temos a certeza absoluta que nunca mais vamos conversar com ele, ouvir os seus reclamos, sentir suas aspirações, conhecer seus sentimentos, haurir suas experiências. Fica um vácuo profundo.
A falta desse contato físico destrói a emoção, machuca os sentimentos e concorre para destruir a coragem para reunir forças para os embates diários. Uma situação tormentosa. Esse é um fato irreversível. Não tem mais volta. Só o tempo chancelará a saudade que vai ficar. Nada mais. Ir ao cemitério e chorar sobre o túmulo em que está sepultado os seus restos mortais é um ato de fé e de nobreza sem precedentes dos familiares. Mas não é um privilégio das nossas famílias.
O mundo inteiro chora os seus mortos. Esse gesto sagrado no entretanto, não vai devolvê-lo para a sua família. Diante desse fato que só os desígnios de Deus podem melhor explicar outra coisa não pleiteiam, senão, a justa punição daquele que causou essa dor enorme.
Não pedem mais nada. Mas, não é o que ocorre na maioria desses fatos. Basta apenas deitar os olhos para o número de mandados de prisão que são expedidos pela Justiça e que não são cumpridos. Não precisa dizer mais nada. Os números não mentem. Eles refletem a situação caótica em que se encontra a segurança pública em nosso país.
E quando esses criminosos são alcançados e punidos na forma da lei o próprio Estado oferece a ele e à sua família uma ajuda social em espécie para ajudar na rotina diária. Mas, para os familiares das vítimas não existe nenhuma palavra de conforto diante da tragédia. Aqui reside a violência pós morte. Algo deplorável. O Estado não pode assistir apático a luta entre os seus filhos. Não pode também assistir a uns e desassistir a outros. Isso que nos entristece e causa revolta.
A irresignação que já era enorme passa dar ensejo ao aparecimento da revolta, da indignação, da repulsa e até mesmo da selvageria algo inconcebível nos dias atuais. É como se a violência não quisesse mais sair das entranhas daquela família. Passa, então a travar uma nova batalha agora contra a própria consciência e desnuda sua impotência para mitigar seu sofrimento. Essa é a pior das violências.
O Estado precisa existir na vida das pessoas para atender suas necessidades básicas, e não apenas privilegiar o estômago farto. No momento da dor e da fragilidade é que passamos a conhecer melhor sua importância e a generosidade da sua ação social. Seus agentes públicos precisam estar ao lado das famílias fragilizadas, levando o conforto e a esperança. Isso não custa nada. É o mínimo que as nossas famílias esperam.