Artigos e Opinião

OPINIÃO

Antonio Carlos Siufi Hindo:
"Loucura!"

Promotor de Justiça aposentado

Redação

14/01/2015 - 00h00
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O atentado que roubou a vida de doze jornalistas da revista Charlie Hebdo, que fazia charges de humor nos campos políticos, culturais, econômicos e religiosos, na cidade de Paris, mostrou a face mais nojenta do ser humano. 

Não existe motivo que possa justificar tão horrenda ação. A humanidade já marcha celeremente para alcançar o primeiro quartel de um novo século, de um novo milênio, e ainda há os que se utilizam da religião para continuar mergulhando a humanidade em um banho de sangue. É algo estarrecedor, máxime, quando se tem notícias que os seus autores, os fundamentalistas islâmicos, não possuem motivos para tanto. O Oriente Médio foi o berço da civilização. Naquele sítio geográfico do nosso planeta, o homem arou por primeiro a terra e cultivou os alimentos; ergueu o primeiro templo religioso e aprendeu a rezar e a perdoar;  instituiu a família e resgatou a dignidade da mulher; edificou, o primeiro código de leis, o Código de Hamurabi, para estabelecer com a humanidade uma relação de respeito entre seus membros, instituindo de uma forma clara, concisa e bastante objetiva o direito de cada qual e os seus deveres no curso da convivência social. 

Naquele espaço geográfico, o mundo assistiu ainda ao surgimento das três maiores religiões monoteístas do mundo, o Judaísmo com Moisés, o Cristianismo com o Cristo e o Islamismo com Maomé. Como se observa, essas conquistas todas já seriam mais do que suficientes para tornar aquelas e aquelas nações em luminares, para que a caminhada do ser humano durante a sua peregrinação terrena fosse mais suave, doce, alegre e feliz, tal e qual vaticinou o Criador. 

Entretanto, não é isso que o mundo protagoniza estarrecido ao longo dos séculos. As lutas religiosas, a ignorância e a insensatez de uns poucos transformaram os princípios que dão sustentação àquelas mais importantes religiões do mundo em práticas de ações, que marcham em direção diametralmente opostas àquelas consagradas em seus textos.

Aqui mesmo, em nosso País, assistimos estarrecidos, em época bastante recente, a um líder religioso chutar a imagem de Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil, em um evidente desrespeito à maioria do povo brasileiro que professa a religião católica. O fato só não teve consequências mais graves em razão da pronta intervenção do governo federal, na época dos fatos.

Trata-se, apenas, de um dos episódios  que entristece e cobre de vergonha o ser humano, que abraça sua religião e se encharca da fé, o qual é o alimento indispensável para conhecer melhor os seus fundamentos doutrinários, para estabelecer com todos os seus semelhantes uma relação respeitosa. 

Nenhuma religião prega esse tipo de maldade. O Deus de cada um está no coração do ser humano.

Ele independe de qualquer pacto estabelecido entre o Criador com as instituições religiosas. A salvação do homem está circunscrito às suas ações e aos atos que pratica. Ninguém salva ninguém. Incorre, em ledo engano, quem acredita que essa assertiva não resulta inquestionável. 

Daí, o episódio lamentável a que o mundo inteiro assistiu, na cidade de Paris, justamente de onde saíram os pilares do mundo democrático contemporâneo, que mostraram para o mundo os princípios dogmáticos da liberdade, da igualdade e da fraternidade,  que precisam continuar sendo a bússola mais importante para se coibir esses abusos religiosos e outros tantos que poderão, eventualmente, surgir em outros campos de ação, em que figura o homem como seu principal protagonista.

EDITORIAL

PPP para renovar a Saúde no Estado

Toda mudança na Saúde precisa ser medida por aquilo que entrega na ponta. A expectativa é de que a parceria traga mais consultas, mais cirurgias, mais leitos e mais dignidade

05/12/2025 07h15

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A saúde pública brasileira carrega, há décadas, o estatuto de maior desafio da gestão pública. Não há área que concentre tamanha pressão, tamanha demanda e tamanha cobrança social. E não é de hoje. Muitos brasileiros, de diferentes gerações, cresceram ouvindo – e vivendo – a mesma constatação: a Saúde é o grande nó da administração pública.

A partir da Constituição de 1988, quando o Sistema Único de Saúde (SUS) passou a garantir atendimento universal, integral e gratuito, esse desafio se tornou ainda mais complexo. Não por falha do princípio, mas pela imensa responsabilidade de sustentar um sistema tão abrangente em um país tão desigual.

As melhorias são inegáveis. O SUS, reconhecido internacionalmente, é motivo de orgulho para o País. Foi e continua sendo protagonista em políticas de vacinação, em atendimento de emergência e em ações de grande escala, como se viu na pandemia.

A universalidade, que tantos países admiraram e replicaram, é um trunfo inquestionável. Mas esse mesmo sistema convive com filas longas, dificuldades estruturais, falta de profissionais em determinadas áreas e gargalos históricos que parecem nunca se resolver completamente.

A contradição está no centro da experiência do usuário: ao mesmo tempo que o sistema salva vidas todos os dias, também deixa a desejar em muitos cantos do Brasil. Parte disso se explica pelo tamanho do SUS e pela velocidade com que a demanda cresce – sempre maior que a capacidade instalada.

É por isso que iniciativas de modernização e novos modelos de gestão precisam ser analisadas com seriedade. O Estado dá agora um passo que pode ser transformador com a parceria público-privada (PPP) do Hospital Regional de Mato Grosso do Sul (HRMS).

A proposta vai além de uma simples reforma. Trata-se de repensar toda a operação, com estrutura renovada, equipamentos atualizados, gestão profissionalizada e maior integração entre serviços.

A capacidade ampliada é, talvez, o ponto mais crucial: o Estado há anos necessita de ganho de escala para reduzir filas, aliviar a pressão sobre unidades básicas e especializadas e, principalmente, assegurar que o paciente seja atendido no tempo necessário.

Ao apostar em uma PPP, o governo busca não apenas modernizar o prédio ou adquirir novas máquinas, mas reorganizar o fluxo do atendimento, melhorar processos e oferecer segurança operacional a longo prazo. Isso pode significar um atendimento mais ágil, mais eficiente e menos burocrático.

Pode, também, representar uma mudança cultural para uma máquina pública que historicamente opera sob limitações de orçamento, de pessoal e de gestão.

Resta, porém, o elemento central de qualquer política pública: o resultado concreto para o cidadão. Toda mudança na Saúde precisa ser medida por aquilo que entrega na ponta. A expectativa, legítima e necessária, é de que a parceria traga mais consultas, mais cirurgias, mais leitos, mais estrutura e mais dignidade.

Que a fila ande, que o atendimento humanize, que o sistema funcione. Torcemos para que este modelo, bem implementado e bem fiscalizado, produza exatamente isso: benefícios palpáveis, cotidianos, reais. Porque, ao fim, todo esforço só faz sentido se significar mais saúde e mais vida para a população sul-mato-grossense.

ARTIGOS

Como a negação política está custando milhões às empresas brasileiras

04/12/2025 09h15

Arquivo

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Enquanto líderes corporativos fingem que política não existe no ambiente de trabalho, suas equipes estão se fragmentando silenciosamente. A polarização política não é um fenômeno que para na porta da empresa, ela entra, se instala e, quando ignorada, corrói a produtividade de forma devastadora. Segundo dados da Society for Human Resource Management (SHRM), 71% dos trabalhadores americanos já tiveram conversas políticas com membros de sua equipe de trabalho.

No Brasil, o cenário é ainda mais alarmante: apenas em 2022, cerca de 1.618 empresas foram denunciadas ao Ministério Público do Trabalho por assédio eleitoral, obrigando funcionários a votar em candidatos específicos. A verdade inconveniente é que a maioria dos gestores está lidando com diversidade política da mesma forma que lidavam com diversidade racial nos anos 1980: fingindo que não existe e esperando que o problema se resolva sozinho. Spoiler: não vai se resolver.

O fato é que existe um custo real da negação corporativa. Não estamos falando de desconforto passageiro ou “climinha” entre colegas, mas sim de discriminação real, exclusão deliberada e retaliação profissional baseada em convicções pessoais. A incivilidade no local de trabalho cresceu 27% apenas entre o segundo e terceiro trimestres de 2024, segundo a SHRM, com diferenças políticas sendo o principal catalisador.

Porém, aqui está o que ninguém te conta: o problema não é a diversidade de opiniões, mas a ausência de inteligência emocional coletiva para transformar essa diversidade em vantagem competitiva. “Não falamos de política aqui” é a frase mais hipócrita do ambiente corporativo moderno, uma verdadeira falácia. Toda decisão empresarial é política: desde a escolha de fornecedores até políticas de diversidade, desde posicionamento sobre sustentabilidade até estratégias de expansão internacional.

A questão não é se sua empresa tem posicionamento político, ela tem. A questão é se você está sendo transparente sobre isso e criando espaços seguros para que diferentes perspectivas contribuam para decisões mais inteligentes. As empresas que abraçam a diversidade política de forma estruturada não apenas reduzem conflitos, elas criam o que chamo de “inteligência coletiva amplificada”. Quando pessoas com visões de mundo diferentes colaboram em ambiente psicologicamente seguro, o resultado são soluções que nenhum grupo homogêneo conseguiria conceber.

Agora, uma alternativa seria uma metodologia que chamo de “diversidade inteligente” – um sistema que transforma diferenças políticas em combustível para inovação. O framework pode operar em quatro eixos, sendo: transparência estruturada – em vez de fingir neutralidade, a empresa declara seus valores fundamentais e cria espaços explícitos para debate construtivo sobre como aplicá-los. Além disso, na gamificação comportamental, os sistemas que recompensam escuta ativa, com questionamento respeitoso, fazem uma síntese criativa de ideias divergentes. 

Um outro ponto importante é ter métricas de colaboração, com dashboards que medem não apenas resultados, mas qualidade das interações entre pessoas com perspectivas diferentes. Por último, é essencial investir em uma liderança modelar, que seja exemplo, com gestores treinados para facilitar, não suprimir, discussões produtivas sobre temas sensíveis.

Por fim, existe uma vantagem competitiva oculta que poucos líderes admitem: as empresas que dominam a arte da diversidade política terão supremacia sobre aquelas que continuam na negação. Quando você consegue fazer conservadores e progressistas colaborarem produtivamente, extrair o melhor do pensamento analítico e sistêmico, transformar tensão ideológica em energia criativa, você não está apenas gerenciando diversidade, está criando uma máquina de inovação com visão de 360 graus em um mundo onde a maioria das empresas ainda enxerga com um olho só.

A meu ver, o futuro pertence aos corajosos. A polarização política não vai diminuir, vai se intensificar. Empresas que continuam fingindo que podem se manter “neutras” estão se preparando para a irrelevância. O futuro pertence às organizações corajosas o suficiente para transformar a diversidade política em vantagem estratégica. Não se trata de promover uma ideologia específica, mas de criar ambientes onde diferentes ideologias podem contribuir para soluções mais robustas, mais criativas e mais resilientes.

A pergunta não é se você vai lidar com diversidade política na sua empresa, mas como você vai fazer isso de forma inteligente ou se vai continuar fingindo que o problema não existe enquanto sua competitividade se deteriora silenciosamente. O respeito no ambiente de trabalho não é concessão, é estratégia. Não é fraqueza, é inteligência competitiva. E, acima de tudo, é a base para qualquer empresa que queira prosperar em um mundo cada vez mais complexo, sem desperdiçar seu ativo mais valioso: a diversidade de pensamento de suas pessoas.

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