Um novo espetáculo horroroso está instalado em nosso País. O procurador Rodrigo Janot, antes de deixar o cargo de chefe do Ministério Público Federal, ofereceu a segunda denúncia contra o presidente da República, Michel Temer. Os fatos constantes em seu bojo são gravíssimos e apontam para a formação de uma organização criminosa capitaneada pelo chefe do governo. É verdade que se trata ainda de apenas uma denúncia, cujos fatos precisam ser provados. Mas o estrago político, com graves interferências na economia, já está materializado.
O Supremo Tribunal Federal, por maioria dos seus ministros, recomendou o encaminhamento da denúncia à Câmara dos Deputados, para o regular pedido constitucional de licença para processar o chefe do governo. As etapas pelas quais esse pedido deverá passar até ser votado pelo plenário da Câmara dos Deputados já são do conhecimento de todos. Evidenciará, mais uma vez, o calvário de um governo moribundo que teima em respirar. A sua sobrevivência dependerá, exclusivamente, do tamanho do apetite dos senhores deputados que se inclinarem em salvá-lo. Mas nada disso será de graça.
O voto será negociado. A disputa por qualquer fiapo de carne grudada naquele corpo moribundo será feroz, dramática. Disso ninguém tem dúvida. É a luta política que dita as regras dessas contendas selvagens. Algo muito triste de se constatar em um país com uma população de mais de quatorze milhões de desempregados e com uma insegurança que campeia em todos os quadrantes do território nacional. Mas nada disso preocupa os senhores deputados. Não sabem medir a intensidade dessa dor.
Isso é muito triste e lamentável de se constatar. A negociação do voto nesse contexto mostrará o grau da gula de cada qual. Não interessa o estado e a qualidade da carne que encontrarão. Avançarão como famintos sobre seu baço, estômago, fígado, rins, intestino, pâncreas, vísceras e outros que ainda podem servir de alimentos e que se encontram naquele corpo. A última gota do sangue a ser oferecida será bebida como um prêmio para os que conseguirem concretizar essa façanha macabra. Sem nenhum ressentimento ou grau de culpa. O pior de tudo é que o governo não tem como deter esse apetite voraz. Luta apenas pela sua sobrevivência.
Esse quadro triste tem uma explicação plausível, lógica e coordenada que nos leva a melhor interpretar seus desígnios condenáveis. Todos, com raríssimas exceções, estão comprometidos com a roubalheira. Suas biografias estão tisnadas. Nesse contexto ninguém quer ou deseja ser passado para trás. Não temos como esconder essa verdade que resulta insofismável. Os fatos denunciam essa certeza. Contas bancárias em paraísos fiscais, confissões, áudios, vídeos e outros instrumentos que demonstram, com absoluta segurança, as leviandades cometidas que emolduram esse quadro fotográfico horrível.
As provas estão à disposição da Justiça. Depende dos nossos magistrados o seu enfrentamento corajoso para colocar na cadeia os corruptos e os ladrões da Pátria, exigindo em contrapartida o ressarcimento do dinheiro roubado. A recuperação do dinheiro é o mais importante. Fora desse contexto dogmático fica muito difícil visualizar outro final para esses tipos de atrevimentos. A razão é simples de ser entendida: o civismo, o patriotismo e outras tantas virtudes que poderiam ser oferecidas pelos nossos deputados, para superar essa nova crise política, serão substituídos pelos seus interesses pessoais nefastos. É o salve-se quem puder. Um registro amargo para a grandeza da democracia.
O sepultamento definitivo pela Câmara dos Deputados do fim das coligações partidárias nas eleições proporcionais de 2018 é o seu mais forte indicativo. Não existe outra interpretação plausível para esse fato lamentável. Nesse cenário melancólico que estamos protagonizando a única alternativa que nos resta será a reforma política, a ser feita pelo eleitor nas urnas em 2018. Uma reforma silenciosa. Sem estardalhaço ou gritaria. Ou ainda desacompanhada de acusações verbais que nada de útil trazem para sanar os nossos graves problemas.
No voto consciente e responsável do eleitor teremos, inquestionavelmente, o norte que desejamos oferecer para a nação. Se perdermos essa grande chance que a democracia oferece a todos os seus cidadãos, o certo é que o nosso sofrimento continuará. Desgraçadamente, se isso efetivamente acontecer, seremos os principais avalistas das safadezas instaladas nas entranhas da Pátria. Seremos mais do que isso. Seremos os algozes de nós mesmos. A Pátria não merece isso de seus filhos ilustres!