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Ângela Maria Costa e Maria Ângela Coelho: "Ladeira abaixo"

Ângela Maria Costa e Maria Ângela Coelho: "Ladeira abaixo"

Redação

25/04/2017 - 02h00
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Ângela Maria Costa é Professora doutora da UFMS / Maria Ângela Coelho é Professora doutora e mestre em Comunicação e Semiótica

Três bilhões e quatrocentos milhões de dólares roubados. Sim. É o que, por enquanto, nos passam as delações do fim do mundo (sic). Valores estes que não temos como quantificar, seja em reais, euros, ou dólares... feijões, remédios, escolas... Delatam a sordidez das quantias exorbitantes pagas a políticos sem brio; sustentando (e, criando) partidos políticos sem ideologias, a ganância de executivos de alto escalão, a vilania de publicitários no que de pior pode fazer a Publicidade. Desvelam a podridão que lastreia o submundo da história política brasileira.  

Se essa roubalheira teve início  com Pedro Álvares Cabral – não nos importa mais - nunca antes neste País assistimos apáticos tanta pornografia, proveniente de réus confessos, denunciantes e denunciados, por intermédio da TV e mídias sociais. Roubalheira executada por quem? Compatriotas como nós, frutos de uma educação (?!) construída pelas instituições sociais básicas - família, igreja e algum tipo de escola. Escolas cujo “currículo oculto” tatuou nessas mentes o tão propalado jeitinho brasileiro de se dar bem em tudo. Com um sentimento de repulsa e desânimo, perguntamos aos colegas professores: todo esse tempo, educamos essa gente para quê?! Para onde estamos levando essa PÁTRIA EDUCADORA, desnudada que foi nesse acintoso estelionato eleitoral?

Fácil constatar que esses acontecimentos são provenientes de uma sociedade que muitas vezes não queremos reconhecer. Nosso País é amalgamado por uma população analfabeta em todos os sentidos: analfabeta de fato; analfabeta funcional e/ou analfabeta política. 

Estudo realizado pela Organização não Governamental Ação Educativa, Instituto Paulo Montenegro e Ibope revelou que o Brasil possui mais de 13 milhões de analfabetos, 27% de analfabetos funcionais e apenas 8% (pouco mais de 16 milhões), no nível mais avançado do alfabetismo funcional - proficiente na língua pátria. Ou seja, somente oito, em um grupo de cem pessoas, conseguem compreender e elaborar textos de diferentes tipos como mensagens (e-mail), descrever ou argumentar (editoriais de jornais ou artigos de opinião). (Inaf- Indicador de Alfabetismo Funcional). Inaceitável!

Não deu certo! Nosso País - e seu sistema de EDUCAÇÃO revela esse reflexo. A família já não cumpre seu papel, como  primeira instância educativa e a escola fundamenta seus propósitos na competição desvairada e no aumento de conteúdo das disciplinas estanques (decoreba). A quem coube educar para a cidadania? Onde e quando essa escola anacrônica e descompromissada com o futuro desenvolve a autonomia do seu educando? Quem e como incentivar os valores humanos, quando poucos sequer se dão conta deles? Qual o momento que os alunos opinam e são respeitados nesse ecossistema educativo? Que tipo de escola está discutindo com sua comunidade, interna e externamente, o momento especial que estamos vivendo - VOTO. CORRUPÇÃO. CIDADANIA? Só existe corrupto se houver quem corrompe. Só existe político ladrão se for votado e colocado lá. 

Emerge com vigor, então, o nefasto “Analfabeto político”; eleitor que vota sem ter candidato ou número em mente; não compreende; não tem condições de analisar absolutamente nada do jogo político; não se importa mesmo, pois não vê correlação entre o seu ato solitário de votar e as consequências para a Nação. Irresponsavelmente, vota induzido por qualquer papel que lhe seja entregue durante a prática criminosa da propaganda boca de urna; por um botijão de gás, uma cesta básica, carguinhos para si e seus parentes, dentaduras... uma promessa que não será cumprida.

Esse analfabetismo contumaz dá Poder a pessoas que não detêm nenhum princípio ético, sequer possuem a qualificação para ocuparem um emprego comum e muito menos, um mandato político. Para comprovar essa triste situação, basta assistir  a uma seção no Congresso, Assembleias dos estados e Câmaras Municipais. Ou, quem sabe, analisar o índice absurdo de 142 milhões de votos que custearam, meses a fio, um megaempreendimento televisivo, para eleger o ganhador do BBB-17.

Não. Não cremos que seja possível retroceder, consertar, salvar. Décadas perdidas nos conduzem ao ranger de dentes. É isso.

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Produtos livres de desmatamento nas estratégias da União Europeia

11/04/2024 07h30

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O Regulamento para Produtos Livres de Desmatamento é um entre vários componentes do Pacto Ambiental Europeu (European Green Deal), que tem como objetivo final atingir neutralidade de emissões de gases de efeito estufa em 2050, com um crescimento econômico livre da exploração excessiva dos recursos naturais e sem deixar ninguém para trás.

Trata-se, portanto, de uma peça dentro de um quebra-cabeça bem mais complexo que visa tornar a Europa um continente sustentável e carbono neutro.

Desde 2019, o Pacto Ambiental Europeu apresenta diretrizes que vão sendo gradativamente regulamentadas, cobrindo de energia renovável a produção de alimentos, passando por transporte e construção civil.

Trata-se de um marco legal abrangente que aborda diversas questões ambientais, incluindo o desmatamento, como parte dos esforços da União Europeia (UE) para um novo modelo de economia verde. 

O regulamento para produtos livres de desmatamento, aprovado em 2023, disciplina as atividades dos importadores europeus que passam a ser responsáveis por garantir que os produtos adquiridos não venham de áreas desmatadas depois de 31 de dezembro de 2020.

As restrições entram em vigor no final de 2024. Os importadores são os responsáveis pela implementação das verificações nos países exportadores, as chamadas “due dilligences”. 

As implicações para o Brasil são significativas, pois a UE é o segundo maior comprador dos nossos produtos agropecuários. Enfrentamos sérios problemas de desmatamento ilegal na floresta amazônica, além de questões fundiários e sociais.

Outro ponto importante é que a legislação europeia não faz distinção do que é considerado desmatamento legal ou ilegal. A normativa claramente se refere a desmatamento em geral. 

Esse ponto vem sendo questionado pelo governo brasileiro, alegando que está acima das exigências legais do ordenamento jurídico do país. Argumenta-se que essa normativa representaria uma forma de barreira não tarifária aos produtos do Brasil.

Entretanto, o argumento contrário é de que a UE tem a prerrogativa de estabelecer os critérios para os produtos que farão parte das suas cadeias de suprimento. E, como o objetivo maior é a redução dos impactos ambientais do consumo dos próprios europeus, nada mais lógico do que exigir que seus fornecedores sigam padrões compatíveis com essa ambição.

Importante notar que há fortes reações ao Pacto Ambiental dentro da própria UE, como vimos recentemente nos diversos protestos de produtores rurais no território europeu.

Embora estejam sensibilizando parte da sociedade e postergando algumas limitações, dificilmente a insatisfação dos produtores europeus ou dos governos fornecedores de produtos agrícolas para a Europa terão força para uma guinada nos objetivos de longo prazo da UE.

Parece haver um sério proposito do continente em mudar completamente suas bases de desenvolvimento, mirando a transição para uma economia mais resiliente e de baixas emissões de gases de efeito estufa.

Ao Brasil cabe o desafio de entender essas normativas e entrar em um processo de negociação sério e embasado na ciência. Ainda há grandes lacunas sobre como serão feitas as verificações do desmatamento e, sobretudo, como serão mapeadas as origens de cada lote de exportação.

Precisaremos acelerar nossos investimentos em rastreabilidade e transparência nos processos produtivos, assim como no aprimoramento de plataformas de monitoramento territorial. Tudo isso em consonância e em estreita colaboração com os importadores e agentes da União Europeia.

Ainda estamos em um momento de discussão e entendimento junto aos agentes europeus de como o novo regulamento será implementado no Brasil. Entende-se que será um processo com aprendizado mútuo e um período de adaptação.

Os entes governamentais têm o papel de catalisar essa discussão entre produtores, processadores e exportadores brasileiros para que estejamos prontos para manter a liderança como fornecedores de produtos agrícolas para a União Europeia. 

 

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Era uma vez em uma escola na Suécia

11/04/2024 07h30

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Depois de anos educando as crianças quase que exclusivamente com recursos digitais, o Ministério da Educação da Suécia começou a perceber alguns sintomas perturbadores nas suas crianças: deficiência na leitura e na compreensão de textos apropriados para a idade, muita dificuldade de escrever e, quando solicitadas, escritas realizadas apenas em caixa alta.

Mas o que mais chamou a atenção foi a percepção de que as crianças também começaram a apresentar dificuldades para expressar o que sentiam, pois lhes faltava vocabulário até mesmo para descrever cenas breves ou relatos de emoções simples.

Muitas dessas manifestações, resultantes da falta de exercício cognitivo e motor, assemelhavam-se a alguns transtornos psicológicos, e não é de se espantar que muitos pais possam ter procurado psicólogos, feito exames ou mesmo ministrado medicamentos, preocupados com a lentidão, o mutismo ou ainda com dificuldade de compreensão de seus jovens filhos.

O governo sueco, diante dessa constatação, resolveu dar uma guinada nas suas orientações escolares e agora estimula fortemente o uso de livros em vez de laptops, como também incentiva a leitura em voz alta, as rodas de conversa e a prática da escrita - inclusive ditados - com o objetivo de reverter o cenário que se desenhava catastrófico para o futuro.

Crianças que não são estimuladas desde cedo em atividades motoras e intelectuais podem ter dificuldades de desenvolvimento profissional na vida adulta, particularmente em um mundo onde a criatividade e a inovação são realidade em todo lugar. 

No último Pisa, divulgado em 2023, o resultado geral dos jovens estudantes suecos foi de 487, ante 499 registrado na edição anterior, de 2018. Em Matemática, a queda foi de 15 pontos e em Leitura, de 10 pontos.

Suficiente para que fizesse um país sério, como a Suécia, acender as luzes amarelas e buscar compreender as razões dessa perda de energia no aprendizado de seus jovens cidadãos, (para além dos efeitos da covid, que afetou de maneira praticamente igual os países participantes).

Uma das medidas que o governo buscou implementar em todas as escolas - embora na Suécia o programa e as orientações pedagógicas não sejam unificadas como no Brasil - foi: menos celular, menos laptop e mais livro, leitura, escrita e conversa. O básico que, desde mais ou menos cinco séculos atrás, tem orientado a ideia do que é ensinar e aprender.

 Lógico que esta constatação não implica em demonizar o uso de tecnologia em sala de aula, mas de usá-la com sabedoria, de forma que ela ofereça o que, de fato, não é possível conseguir por outros meios.

Mal comparando, é como o hábito de muita gente usar palavras em inglês para se referir a coisas ou situações nas quais já existe uma palavra em português perfeitamente cabível. Esse é o mau uso da língua estrangeira. O que não significa que não se deva aprendê-la e usá-la, muito pelo contrário.

A tecnologia compreende um conjunto de ferramentas e habilidades que deve servir para ampliar nossa capacidade de ler, raciocinar, produzir e nos comunicar. Mas, para isso, precisamos antes saber ler, raciocinar, produzir e nos comunicar.

O perigo do uso de celulares e laptops no ensino fundamental é o de diminuir ou mesmo obstaculizar  o desenvolvimento motor e cognitivo das crianças, além de dificultar a expressão de ideias, emoções e socialização, por falta de vocabulário capaz de se fazer entender quando relatar uma experiência.

O fenômeno hikikomori, que se refere aos jovens que abandonam qualquer contato social real e mantêm-se isolados em seus quartos, comunicando-se apenas pelas redes sociais, vem se alastrando por todo mundo, assim como a descrição de novos transtornos psicológicos associados à dificuldade de comunicação e socialização. A saída, porém, pode estar um pouco antes do consultório médico ou do psicólogo. Na boa e velha sala de aula.

 

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