Ângela Maria Costa é Professora doutora da UFMS / Maria Ângela Coelho é Professora doutora e mestre em Comunicação e Semiótica
Três bilhões e quatrocentos milhões de dólares roubados. Sim. É o que, por enquanto, nos passam as delações do fim do mundo (sic). Valores estes que não temos como quantificar, seja em reais, euros, ou dólares... feijões, remédios, escolas... Delatam a sordidez das quantias exorbitantes pagas a políticos sem brio; sustentando (e, criando) partidos políticos sem ideologias, a ganância de executivos de alto escalão, a vilania de publicitários no que de pior pode fazer a Publicidade. Desvelam a podridão que lastreia o submundo da história política brasileira.
Se essa roubalheira teve início com Pedro Álvares Cabral – não nos importa mais - nunca antes neste País assistimos apáticos tanta pornografia, proveniente de réus confessos, denunciantes e denunciados, por intermédio da TV e mídias sociais. Roubalheira executada por quem? Compatriotas como nós, frutos de uma educação (?!) construída pelas instituições sociais básicas - família, igreja e algum tipo de escola. Escolas cujo “currículo oculto” tatuou nessas mentes o tão propalado jeitinho brasileiro de se dar bem em tudo. Com um sentimento de repulsa e desânimo, perguntamos aos colegas professores: todo esse tempo, educamos essa gente para quê?! Para onde estamos levando essa PÁTRIA EDUCADORA, desnudada que foi nesse acintoso estelionato eleitoral?
Fácil constatar que esses acontecimentos são provenientes de uma sociedade que muitas vezes não queremos reconhecer. Nosso País é amalgamado por uma população analfabeta em todos os sentidos: analfabeta de fato; analfabeta funcional e/ou analfabeta política.
Estudo realizado pela Organização não Governamental Ação Educativa, Instituto Paulo Montenegro e Ibope revelou que o Brasil possui mais de 13 milhões de analfabetos, 27% de analfabetos funcionais e apenas 8% (pouco mais de 16 milhões), no nível mais avançado do alfabetismo funcional - proficiente na língua pátria. Ou seja, somente oito, em um grupo de cem pessoas, conseguem compreender e elaborar textos de diferentes tipos como mensagens (e-mail), descrever ou argumentar (editoriais de jornais ou artigos de opinião). (Inaf- Indicador de Alfabetismo Funcional). Inaceitável!
Não deu certo! Nosso País - e seu sistema de EDUCAÇÃO revela esse reflexo. A família já não cumpre seu papel, como primeira instância educativa e a escola fundamenta seus propósitos na competição desvairada e no aumento de conteúdo das disciplinas estanques (decoreba). A quem coube educar para a cidadania? Onde e quando essa escola anacrônica e descompromissada com o futuro desenvolve a autonomia do seu educando? Quem e como incentivar os valores humanos, quando poucos sequer se dão conta deles? Qual o momento que os alunos opinam e são respeitados nesse ecossistema educativo? Que tipo de escola está discutindo com sua comunidade, interna e externamente, o momento especial que estamos vivendo - VOTO. CORRUPÇÃO. CIDADANIA? Só existe corrupto se houver quem corrompe. Só existe político ladrão se for votado e colocado lá.
Emerge com vigor, então, o nefasto “Analfabeto político”; eleitor que vota sem ter candidato ou número em mente; não compreende; não tem condições de analisar absolutamente nada do jogo político; não se importa mesmo, pois não vê correlação entre o seu ato solitário de votar e as consequências para a Nação. Irresponsavelmente, vota induzido por qualquer papel que lhe seja entregue durante a prática criminosa da propaganda boca de urna; por um botijão de gás, uma cesta básica, carguinhos para si e seus parentes, dentaduras... uma promessa que não será cumprida.
Esse analfabetismo contumaz dá Poder a pessoas que não detêm nenhum princípio ético, sequer possuem a qualificação para ocuparem um emprego comum e muito menos, um mandato político. Para comprovar essa triste situação, basta assistir a uma seção no Congresso, Assembleias dos estados e Câmaras Municipais. Ou, quem sabe, analisar o índice absurdo de 142 milhões de votos que custearam, meses a fio, um megaempreendimento televisivo, para eleger o ganhador do BBB-17.
Não. Não cremos que seja possível retroceder, consertar, salvar. Décadas perdidas nos conduzem ao ranger de dentes. É isso.