Estava eu no meu carro, parado no semáforo do cruzamento da Avenida Afonso Pena com a Rua José Antonio, quando observei do meu lado direito outro veículo, tendo na direção um jovem, na casa de prováveis vinte anos de idade. O que primeiro chamou minha atenção, forçando-me a olhar em sua direção, foi o volume do som de seu carro: embora eu estivesse com todos os vidros fechados, sentia nas mãos presas ao volante e em outras partes do corpo a vibração do infernal bate-estaca (tum, tum, tum; tum, tum, tum...). Mirando-o, quase gargalhei com sua agitação, acompanhando com movimentos frenéticos do corpo o ritmo de sua “música”: gingava os ombros de um lado para o outro, sacudia a cabeça para os lados e para a frente, avançava e recuava o tronco, etc., alheio a tudo em sua volta. Todos os motoristas próximos desviaram a atenção para o inusitado “dançarino” enjaulado num carro em plena Avenida Afonso Pena. Não sei como ele conseguiu perceber quando o sinal de trânsito abriu.
Seguimos paralelamente pela avenida e, no primeiro cruzamento posterior, fechou-se o sinal e novamente os demais motoristas fomos “brindados” com o show do rapaz. Isso se repetiu ainda por uns dois ou três cruzamentos. Coitado: estava ali um sério candidato a integrar o rol dos deficientes auditivos, pois seus tímpanos, com certeza, não resistirão por muito tempo ao massacre. Aliás, esse tipo de condutor é muito comum em nossa Capital, com seus carros exibindo potentes sistemas de som. Pior é quando, em geral em finais de semana e feriados, estacionam junto a alguma praça, abrem a tampa do porta-malas, e os potentes alto-falantes espalham de modo irritante o ensurdecedor bate-estaca para uma tribo reunida em volta, com suas indefectíveis cuias de tereré ou chimarrão, sei lá!
Em outro dia e local observei mais um comportamento estranho: ao meu lado parou no sinal vermelho um carro luxuoso, um SUV importado, tendo ao volante um cidadão de meia-idade, que estava sozinho. Quando o percebi, ele estava fazendo o sinal da cruz; notei seus lábios movimentando-se, provavelmente numa oração. Quando o sinal abriu, ele novamente se benzeu e movimentou o veículo. Coincidiu de, no próximo sinal, novamente ele parar ao meu lado. E tudo se repetiu: persignou-se e continuou orando, aparentando muito fervor. No cruzamento seguinte o sinal estava verde, eu segui em frente e ele tomou outra direção, talvez dirigindo-se a alguma igreja ou templo para venerar seus santos.
E o que dizer de certos condutores de motocicletas de alta “cilindrada” que, ao parar nos sinaleiros fechados, se aprazem em produzir ensurdecedores roncos dos motores de suas máquinas, acelerando-os até o limite, no evidente propósito de apenas exibir-se? Ao arrancar, aceleram ainda mais o motor, ficando a impressão de que a máquina irá explodir a qualquer momento. Esses mesmos indivíduos têm o péssimo hábito de, alta madrugada, trafegar pelas ruas produzindo o odioso ruído e perturbando o sono de muita gente.
*Escritor, publicitário e ator.