Foi conversando com algumas pessoas que tiveram participações em movimentos “mais à esquerda” no Brasil, que constatei – tristemente – suas desilusões em relação ao Brasil. Esse “desapontamento” não é algo assim, generalizado; ele tem nomes. A decepção é dirigida aos traidores, que antes, na oposição, prometiam algo, que depois, alçados ao poder, fizeram de forma refinada o que combatiam.
Isso tudo tem provocado um caos no que restava de esperança. E olha que não estou falando de uma nova esperança, nascida em primaveras recentes. Falo de uma esperança que acompanhou os mais velhos, desde quando eles foram “jovens” e cheios de sonhos, e assim, cada qual ao seu jeito, resistiram ao peso de um regime de exceção.
Muitos deles, hoje, na casa dos sessenta, setenta, oitenta anos de idade, se refugiam em seus pensamentos, e de forma indignada, se sentem traídos. Traídos porque acreditavam que quando o poder da nação fosse dividido com seu povo, as coisas caminhariam por estradas que nos levassem – todos nós – a um ponto de chegada de menos injustiças, de mais fraternidade, de conhecimento para todos e benefícios coletivos. Por isso esperavam que as feridas e dores da caminhada fossem cicatrizadas e anestesiadas. Infelizmente não chegamos ao fim dessa estrada. No meio do percurso (talvez já no começo), as tentações invadiram os discursos e fizeram dos lideres de nossas esperanças, que chegaram ao poder, o que de mais detestável possa existir no ser humano: a incoerência, ou simplesmente, a hipocrisia. Jogaram uma pá de cal na história que vinha sendo construída e diante da grande oportunidade; fraquejaram, entregues aos defeitos da ambição desenfreada.
De repente, os sonhadores, mas, que não compactuaram com os governantes, e hoje já maduros, verificam que o processo idealizado pelos que desejaram dias melhores, ficou pela metade, à deriva, no acostamento dessa estrada. O País atravessa uma crise noticiada todos os dias, com novos fatos, sobre velhas práticas. Saquearam riquezas e tomaram para si e seus comparsas o lucro de suas investidas. Nomes de pessoas ocupando cargos mais altos, de maior significância de um País, estão enlameados na sujeira do roubo, da corrupção e do vício onde somente velhacos conseguem triunfar.
O problema não é localizado. Assim como uma sarna, ele se espalha em áreas frágeis, destruindo os pontos mais vulneráveis, mais miseráveis, mais indefesos. Tem sujeira por todos os lados onde circula um pouco do dinheiro público. A impressão que se tem, é a de que todo ocupante de cargo público não sobrevive, se não se corromper. Me desculpem os diferentes.
Perdemos com isso todos nós. A esquerda perdeu a grande oportunidade de se mostrar como o ponto de equilíbrio daquilo que se fala de justiça social. Mas, que esquerda é essa? Ela existiu como referência de uma ideia e prática política? Ela foi de fato, realmente de esquerda? Mesmo que não fosse, a ideia de esquerda está, para o público, misturada aos fracassos daquilo que podemos chamar de ética. A consolidação e o reconhecimento do trabalho, da linha entre o justo e o merecido, da utopia como combustível de sonhos podia ter sido realizada nesse governo. Perderam a chance. Deixaram, como governantes, de promover justiça social e de diminuir a pobreza. Tivemos sim, avanços, mas não suficientes para sermos um País de brasileiros autônomos, confiantes e esperançosos nos resultados que a honestidade proporciona.
Traição é o nome disso tudo. Por isso o desânimo entre os mais velhos, que passaram a maior parte do tempo nutrindo esperanças proporcionadas pela possibilidade da democracia. Eles sobreviveram às turbulências em décadas passadas. Suicídio de Vargas, renúncia de Jânio Quadros e deposição de Goulart, completadas com 21 anos de ditadura. Depois, um enganador chegou ao poder, e ainda hoje, Collor não consegue se livrar de atos e mais atos de corrupção. Quando então chegou a hora de mostrar que o Brasil poderia caminhar de braços dados com a transparência, eis que seus novos representantes se mostram iguais aos que combatiam. E por fim, Eduardo Cunha, Presidente da Câmara dos Deputados, por exemplo, só se volta contra o governo, porque está sendo acusado pela Operação Lava Jato de receber propina. Não é sem motivo que os mais velhos já perderam a esperança.