Semanalmente, nas listas dos mais vendidos de renomadas livrarias, figuram livros – em maioria – estrangeiros. O jogo publicitário aliado à indústria cinematográfica muitas vezes coloca nas principais prateleiras livros que funcionam como propagandas para o ganho de bilheteria. Enquanto isso, livros didáticos utilizados em diversas escolas brasileiras chegam, no máximo, ao século 20 da literatura brasileira.
Nossa literatura acaba em Carlos Drummond de Andrade? O que você conhece da literatura brasileira do século 21? Felizmente, ela não acabou. Infelizmente, pouco figura nas principais estantes das livrarias em geral. Somente um público mais específico, oriundo de estudos acadêmicos também específicos, talvez, consiga passaporte para as estantes mais escondidas e menos chamativas para o leitor.
Enquanto os estudiosos esforçam-se para dar a devida atenção à literatura brasileira contemporânea, grande parte da população brasileira tem seu olhar conduzido à literatura estrangeira com cada vez mais frequência. Livros muito bem midiatizados, quase sempre divididos em séries, recheados com inúmeras páginas que dão a ilusão de que se está lendo muito. Normalmente, o público jovem – principalmente – é levado a pensar que está se formando em excelentes leitores pelo simples fato de ler “um livro grosso”. O que acontece é que a leitura de fácil compreensão, cheia de clichês e pouco filosófica é, logicamente, fluida.
A lógica aqui não é (e não deve ser) a de que para que uma leitura seja boa ela tenha de ser difícil. O problema central é que aquela leitura considerada difícil é, geralmente, a leitura que faz pensar. A preguiça que temos da filosofia, da sociologia e da antropologia talvez seja uma das causas da nossa tão grande dificuldade de conviver, de resolver nossos próprios problemas e quem sabe o motivo dos conflitos que se espalham mundo afora. O civil não conhece a si mesmo, por isso não progride a civilização.
Por sorte, a literatura que se produz no Brasil atualmente e que vem circulando com maior força nas universidades é texto com ricas qualidades reflexivas. A literatura brasileira (que, ao contrário do que parece na escola, não acaba onde acaba o livro didático) está bem servida com Marçal Aquino, Cristóvão Tezza, Ana Miranda, Paulo Henriques Britto, Bernardo Carvalho, entre tantos outros nomes.
Que essas palavras não soem como uma defesa nacionalista sem precedentes. O que está em pauta é, somente, o quanto o mercado tem sido capaz de manipular identidades de leitores. Até que ponto abrem-se possibilidades de escolha de leitura para o público em geral e até que ponto esse público é coagido por forças alheias à literatura para o consumo desenfreado de best-sellers? Em que estantes está a literatura social? A literatura que emancipa, que liberta, que faz conhecer (seja ela brasileira ou mundial). Por que se apresentam livros como luzes de natal que, repentinamente, todo mundo tem? Para que se ter um livro? O que significa a literatura para mim?
Essas reflexões podem ser úteis, inclusive, para que passemos a olhar mais para o que tem sido feito da representação do nosso País no meio do caos do século 21, no auge da nossa pseudomodernidade. Pode ser, quem sabe, o primeiro passo de uma jornada urgentemente necessária.


