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'''A incoerência dos pais na educação das crianças brasileiras''

Talita da Rosa Muellas - Psicopedagoga

Redação

12/03/2015 - 00h00
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Há muitas situações que acontecem na escola que poderiam ser evitadas, se os pais tivessem coerência em suas atitudes diante dos filhos. Quando falo em coerência, quero adentrar em dois pontos: a coerência entre os pais e a coerência deles nas atitudes cotidianas. 

A coerência entre os pais é quando toda e qualquer atitude tomada por um seja de comum acordo entre os dois. No dia-dia, a criança percebe quando um dos pais é mais permissivo que o outro, isso também fica muito claro para escola. Quando a criança tem uma atitude negativa e a escola solicita a presença dos pais, de antemão os alunos já falam “chama só fulano, mas beltrano você não chama, não” ou “não conta para minha mãe, pois ela que me põe de castigo”, há aqueles que caem em lágrimas quando sabem que um adulto específico, entre os adultos responsáveis por ele, irá até a escola para resolver o que ele fez de errado. 

Nessas situações, as crianças já deixam claro quem faz o papel principal na relação de autoridade. Em algumas situações, os responsáveis vão até a escola e discutem sobre as diferenças de posicionamento dos dois, crianças chegam a esconderem-se atrás de um, normalmente, o que é mais permissivo, com medo do que o outro possa fazer.

Pais devem falar a mesma linguagem entre si, pensar e agir da mesma forma, mesmo que isso seja combinando antecipadamente, sem a criança saber. Sabemos que cada um tem ideias e crenças diferentes sobre a criação das crianças, é natural ter opiniões diferentes ao lidar com os filhos.

Quem coloca de castigo é quem deve tirar e os dois devem alternar-se para cobrar as regras da postura correta na escola. 

Vivemos na escola casos de pais que deixam a educação da criança completamente para a responsabilidade do outro, quando enfim participam de alguma situação, tomam medidas drásticas, na crença de solucionar o problema aos gritos, batendo na criança, com decisões e atitudes severas e que não dão resultado, principalmente, no dia-a-dia, embora a criança possa parecer dominada num primeiro momento.

Educar dá muito trabalho. Falar o tempo inteiro, repetir o que já foi falado, ensinar o que é certo, explicar as consequências das atitudes negativas, pôr de castigo, ouvir a criança chorando quando são contrariadas. 

Além de impor regras e cobrar atitudes, acima de tudo, temos também de pensar sobre o afeto. Muitas vezes as crianças estão fazendo tudo errado para chamar a atenção dos pais, atenção que pode estar sendo rara em casa. Brincar, fazer tarefa, fazer com que elas ajudem em pequenas tarefas do dia-a-dia, em sua presença, faz com que se sintam seguras e amadas. 

Se você não quer que a criança grite ou suba na mesa, seja mal-educada, trate mal as pessoas, dê o exemplo a ela! Os adultos que as criam são modelos para as crianças e as maiores referências, quando pequenas, elas se espelham o tempo todo nos adultos. Se eles leem, as crianças vão procurar pelos livros; se são educados com as outras pessoas, as crianças também serão; se os adultos escolhem um lugar para fazerem suas atividades, as crianças escolherão um lugar para fazerem as suas. 

Coerência entre o que se fala e o que se faz é uma das grandes ações positivas de todos aqueles que cuidam de uma criança.

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Produtos livres de desmatamento nas estratégias da União Europeia

11/04/2024 07h30

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O Regulamento para Produtos Livres de Desmatamento é um entre vários componentes do Pacto Ambiental Europeu (European Green Deal), que tem como objetivo final atingir neutralidade de emissões de gases de efeito estufa em 2050, com um crescimento econômico livre da exploração excessiva dos recursos naturais e sem deixar ninguém para trás.

Trata-se, portanto, de uma peça dentro de um quebra-cabeça bem mais complexo que visa tornar a Europa um continente sustentável e carbono neutro.

Desde 2019, o Pacto Ambiental Europeu apresenta diretrizes que vão sendo gradativamente regulamentadas, cobrindo de energia renovável a produção de alimentos, passando por transporte e construção civil.

Trata-se de um marco legal abrangente que aborda diversas questões ambientais, incluindo o desmatamento, como parte dos esforços da União Europeia (UE) para um novo modelo de economia verde. 

O regulamento para produtos livres de desmatamento, aprovado em 2023, disciplina as atividades dos importadores europeus que passam a ser responsáveis por garantir que os produtos adquiridos não venham de áreas desmatadas depois de 31 de dezembro de 2020.

As restrições entram em vigor no final de 2024. Os importadores são os responsáveis pela implementação das verificações nos países exportadores, as chamadas “due dilligences”. 

As implicações para o Brasil são significativas, pois a UE é o segundo maior comprador dos nossos produtos agropecuários. Enfrentamos sérios problemas de desmatamento ilegal na floresta amazônica, além de questões fundiários e sociais.

Outro ponto importante é que a legislação europeia não faz distinção do que é considerado desmatamento legal ou ilegal. A normativa claramente se refere a desmatamento em geral. 

Esse ponto vem sendo questionado pelo governo brasileiro, alegando que está acima das exigências legais do ordenamento jurídico do país. Argumenta-se que essa normativa representaria uma forma de barreira não tarifária aos produtos do Brasil.

Entretanto, o argumento contrário é de que a UE tem a prerrogativa de estabelecer os critérios para os produtos que farão parte das suas cadeias de suprimento. E, como o objetivo maior é a redução dos impactos ambientais do consumo dos próprios europeus, nada mais lógico do que exigir que seus fornecedores sigam padrões compatíveis com essa ambição.

Importante notar que há fortes reações ao Pacto Ambiental dentro da própria UE, como vimos recentemente nos diversos protestos de produtores rurais no território europeu.

Embora estejam sensibilizando parte da sociedade e postergando algumas limitações, dificilmente a insatisfação dos produtores europeus ou dos governos fornecedores de produtos agrícolas para a Europa terão força para uma guinada nos objetivos de longo prazo da UE.

Parece haver um sério proposito do continente em mudar completamente suas bases de desenvolvimento, mirando a transição para uma economia mais resiliente e de baixas emissões de gases de efeito estufa.

Ao Brasil cabe o desafio de entender essas normativas e entrar em um processo de negociação sério e embasado na ciência. Ainda há grandes lacunas sobre como serão feitas as verificações do desmatamento e, sobretudo, como serão mapeadas as origens de cada lote de exportação.

Precisaremos acelerar nossos investimentos em rastreabilidade e transparência nos processos produtivos, assim como no aprimoramento de plataformas de monitoramento territorial. Tudo isso em consonância e em estreita colaboração com os importadores e agentes da União Europeia.

Ainda estamos em um momento de discussão e entendimento junto aos agentes europeus de como o novo regulamento será implementado no Brasil. Entende-se que será um processo com aprendizado mútuo e um período de adaptação.

Os entes governamentais têm o papel de catalisar essa discussão entre produtores, processadores e exportadores brasileiros para que estejamos prontos para manter a liderança como fornecedores de produtos agrícolas para a União Europeia. 

 

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Era uma vez em uma escola na Suécia

11/04/2024 07h30

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Depois de anos educando as crianças quase que exclusivamente com recursos digitais, o Ministério da Educação da Suécia começou a perceber alguns sintomas perturbadores nas suas crianças: deficiência na leitura e na compreensão de textos apropriados para a idade, muita dificuldade de escrever e, quando solicitadas, escritas realizadas apenas em caixa alta.

Mas o que mais chamou a atenção foi a percepção de que as crianças também começaram a apresentar dificuldades para expressar o que sentiam, pois lhes faltava vocabulário até mesmo para descrever cenas breves ou relatos de emoções simples.

Muitas dessas manifestações, resultantes da falta de exercício cognitivo e motor, assemelhavam-se a alguns transtornos psicológicos, e não é de se espantar que muitos pais possam ter procurado psicólogos, feito exames ou mesmo ministrado medicamentos, preocupados com a lentidão, o mutismo ou ainda com dificuldade de compreensão de seus jovens filhos.

O governo sueco, diante dessa constatação, resolveu dar uma guinada nas suas orientações escolares e agora estimula fortemente o uso de livros em vez de laptops, como também incentiva a leitura em voz alta, as rodas de conversa e a prática da escrita - inclusive ditados - com o objetivo de reverter o cenário que se desenhava catastrófico para o futuro.

Crianças que não são estimuladas desde cedo em atividades motoras e intelectuais podem ter dificuldades de desenvolvimento profissional na vida adulta, particularmente em um mundo onde a criatividade e a inovação são realidade em todo lugar. 

No último Pisa, divulgado em 2023, o resultado geral dos jovens estudantes suecos foi de 487, ante 499 registrado na edição anterior, de 2018. Em Matemática, a queda foi de 15 pontos e em Leitura, de 10 pontos.

Suficiente para que fizesse um país sério, como a Suécia, acender as luzes amarelas e buscar compreender as razões dessa perda de energia no aprendizado de seus jovens cidadãos, (para além dos efeitos da covid, que afetou de maneira praticamente igual os países participantes).

Uma das medidas que o governo buscou implementar em todas as escolas - embora na Suécia o programa e as orientações pedagógicas não sejam unificadas como no Brasil - foi: menos celular, menos laptop e mais livro, leitura, escrita e conversa. O básico que, desde mais ou menos cinco séculos atrás, tem orientado a ideia do que é ensinar e aprender.

 Lógico que esta constatação não implica em demonizar o uso de tecnologia em sala de aula, mas de usá-la com sabedoria, de forma que ela ofereça o que, de fato, não é possível conseguir por outros meios.

Mal comparando, é como o hábito de muita gente usar palavras em inglês para se referir a coisas ou situações nas quais já existe uma palavra em português perfeitamente cabível. Esse é o mau uso da língua estrangeira. O que não significa que não se deva aprendê-la e usá-la, muito pelo contrário.

A tecnologia compreende um conjunto de ferramentas e habilidades que deve servir para ampliar nossa capacidade de ler, raciocinar, produzir e nos comunicar. Mas, para isso, precisamos antes saber ler, raciocinar, produzir e nos comunicar.

O perigo do uso de celulares e laptops no ensino fundamental é o de diminuir ou mesmo obstaculizar  o desenvolvimento motor e cognitivo das crianças, além de dificultar a expressão de ideias, emoções e socialização, por falta de vocabulário capaz de se fazer entender quando relatar uma experiência.

O fenômeno hikikomori, que se refere aos jovens que abandonam qualquer contato social real e mantêm-se isolados em seus quartos, comunicando-se apenas pelas redes sociais, vem se alastrando por todo mundo, assim como a descrição de novos transtornos psicológicos associados à dificuldade de comunicação e socialização. A saída, porém, pode estar um pouco antes do consultório médico ou do psicólogo. Na boa e velha sala de aula.

 

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