Felpuda

OPINIÃO

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Senador Ruben Figueiró:
"O mito e a mentira "

Senador e presidente de honra do PSDB-MS

Redação

19/09/2014 - 00h00
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Contaram-me que, certa vez, cavalgando pelos campos da Vacaria, patrão e empregado chegaram à sede de uma fazenda vizinha. O patrão, metido a exímio caçador, brasonou-se aos vizinhos de que acabara de atirar, certeiramente, nas duas patas dianteiras de um veado, quando este passara à sua frente, em alta velocidade. Sob a expressão atônita dos presentes, invocou o testemunho do empregado, que confirmou a bazófia: “é isso mesmo, patron!”. Mais tarde, voltando os dois a trotear, o empregado virou-se para o patrão: “senhor, da próxima vez, veja se o senhor minta menos ‘desparrado’, pois aquela (mentira) foi difícil de ‘juntar’” (confirmar). 
Lembrei-me dessa estória diante da escandalosa mentira do governo e o mito que o PT sustenta. 

O mito: o PT tirou 36 milhões de brasileiros da pobreza nos últimos 12 anos. Ou melhor: o Brasil superou o processo crônico de desigualdades sociais. 

Como se sabe, estes não são mitos triviais. Trata-se de um dos carros-chefes da campanha da candidata/presidente. Acontece que, na semana passada, o Tribunal de Contas da União aprovou a auditoria nos programas de Assistência Social do governo, o qual simplesmente desconstrói esse mito. Daí a mentira. 

​A verdade é outra. O governo Dilma considera miseráveis aqueles que têm a renda per capita abaixo de R$ 77 ou US$ 1,25 por dia, conforme propõe o Banco Mundial, e pobre os com rendimento mensal entre R$ 77 e R$ 154. 

O problema é que o Banco Mundial define que esse valor deve ser atualizado pelo poder de paridade de compra de cada país. No Brasil, essa atualização não ocorreu entre 2009 e 2014, fazendo com que, no período, “a linha de pobreza oficial se deslocasse do seu significado científico e útil para uso em indicadores de desempenho”, de acordo com as palavras do relatório. Ou seja: o governo Dilma maquiou números para encobrir a realidade.

Ainda segundo o Tribunal de Contas da União, um cálculo aproximado com base na inflação brasileira conclui que estavam na linha de extrema pobreza e pobreza as pessoas com renda entre R$ 100 e R$ 200, em 2013; portanto, valores acima dos estipulados no Decreto 8.232/2014, de 26/06, quando o valor passou de R$ 70 para R$ 77.

Não precisa ser grande matemático para perceber que os dados do governo fantasiam nosso drama social. Por isso, muitos dizem que adorariam morar na propaganda do PT. 

​Para o TCU, órgão de fiscalização auxiliar do Legislativo, os indicadores relativos ao alívio da pobreza estão distorcidos. Pior, representam o risco de o governo estar considerando que um número maior do que o real de pessoas teria superado a pobreza. 

​Não é fácil desconstruir um mito. Principalmente quando se trata de uma das principais bandeiras do governo. Minha assessoria fez uma análise minuciosa no voto do ministro Augusto Sherman, e posso concluir que é totalmente infundada a crítica do Ministério do Desenvolvimento Social às conclusões do TCU. 

Como não tinha muito que dizer, o Ministério do Desenvolvimento Social, agressivamente, atribuiu aos auditores do TCU ignorância sobre critérios internacionais de mensuração da pobreza e desconhecimento da legislação e, ainda, disse estranhar o que chamou de posicionamento político do Tribunal.

Isso me faz lembrar aquele episódio da mitologia greco-romana, quando Júpiter, irado e contrariado, foi advertido por outro Deus: “Se tu te irritas, logo não tens razão”. 

​O fato é que, quando não se tem razão, a saída é o grito. E o governo está esperneando. No entanto, contra números concretos não adiante fazer birra.

Entendo que não há muito que ser questionado. Lamento esse costume petista horrível de deturpar a realidade a seu favor. Sorte é que temos pessoas e instituições de credibilidade com olhos bem abertos. Os brasileiros sentem na pele a inflação em alta, os juros estratosféricos, a falta de investimentos e a carga tributária elevada, contrastando com a crise na saúde, educação e segurança pública. 

O dia da mudança está chegando. Aí veremos se o governo conseguiu ou não manter em pé os mitos e as fantasias que construiu.