Política

SENADO

Itamar disparou contra tudo e todos

Itamar disparou contra tudo e todos

congresso em foco

03/07/2011 - 00h01
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Nos quatro meses em que esteve no Senado, em seu derradeiro mandato, o ex-presidente Itamar Franco fez jus ao topete que ostentava. Nesse período, o senador mineiro se destacou como uma das vozes mais críticas do governo, mas também do Parlamento. De volta à Casa após duas décadas, Itamar direcionou seu metralhadora verbal contra o Palácio do Planalto, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e seus próprios colegas – da base aliada e da própria oposição.

No dia 17 de fevereiro, duas semanas após sua posse, Itamar denunciou o "totalitarismo do Regimento Interno" e chamou os líderes partidários, inclusive os oposicionistas, de "marechais de ferro do Senado". A irritação do senador tinha como motivo o fato de ele, líder do PPS, não ter sido consultado sobre a distribuição das comissões por ser o único parlamentar do partido.

"Os líderes, que eu chamaria de os marechais de ferro do Senado, é que estão definindo o comando das comissões. Não é a primeira vez, senhor presidente, senhores senadores, que ocupo esta tribuna para continuar reclamando aquilo que eu acho um absurdo: o totalitarismo do Regimento Interno do Senado da República. Já estive nesta Casa, como eu já disse, por 16 anos. Nunca vi um regimento tão autoritário quanto este", reclamou. Itamar também foi senador entre 1975 e 1990.

Sarney e Jucá

No dia 23 daquele mesmo mês, o senador mostrou-se mais uma vez afiado. Desferiu ataques contra o presidente do Senado e o líder do governo durante as discussões que levaram à aprovação do novo salário mínimo. O mineiro argumentava que a votação do requerimento deveria ser nominal, e não simbólica. E protestou contra a aprovação do regime de urgência para a votação do projeto. ‘É na boa fé que estou levantando essas questões regimentais. Há 16 anos havia muito mais respeito da maioria para com a minoria", disse a Sarney. "Não podemos ficar ao arbítrio da presidência da Casa. O senhor [José Sarney] descumpriu o regimento", acrescentou.

Logo em seguida, Itamar travou outro debate com o líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), que acabara de apresentar seu parecer favorável à aprovação do mínimo de R$ 545. "Vossa excelência parece que está brincando", provocou o senador mineiro. "Uma vez perguntaram para um presidente o que faria com um salário mínimo, sabe o que ele respondeu?", perguntou a Jucá, em alusão a um episódio ocorrido com o ex-presidente militar João Figueiredo. "Que daria um tiro na cabeça", respondeu o líder do governo, repetindo as palavras do general.

Na mesma sessão, Itamar ainda criticou duramente a crescente perda das prerrogativas institucionais do Senado diante do poderio do Executivo. "O Senado hoje, se colocarmos o espelho côncavo da física ondulatória, vamos ver que precisamos fechar esse Senado", afirmou. "Tomemos cuidado quando o Senado deixa de ser real para se tornar manobra da maioria", completou.

MPs e oposição

Em 23 de março, Itamar não poupou a "submissão" de seus colegas oposicionistas. Inconformado com a falta de apoio do PSDB e do DEM à sua tentativa de barrar a votação da Medida Provisória 509/2010, vociferou: "Aqui, senhora presidente [Marta Suplicy], não é culpa do governo. Neste momento, é nossa culpa, porque estamos vendo que não há até agora quórum, e a oposição poderia muito bem pedir a verificação de quórum. O líder [do PSDB] poderia, mais do que eu, pedir a dois ou três senadores para que me acompanhassem. Mas não querem fazer. Vamos deixar. Erra o governo? Erra! Mas erramos muito mais nós da oposição". A MP prorrogava o prazo para os Correios contratarem franquias.

As medidas provisórias também levaram o ex-presidente a fazer outro discurso contundente. Foi no dia 26 de abril. Ele cobrou a auto-afirmação do Legislativo enquanto poder, devolvendo ao Planalto uma MP enviada pela Casa Civil sem a exposição de motivos.

"Eu gostaria, senhor presidente, já baseado no que diz a nossa querida senadora Ana Amélia, que o Legislativo se afirmasse. E na primeira coisa que ele tem que se afirmar não é só perante a opinião pública, ele tem que se afirmar perante o Executivo, que abusa, abusa, abusa, abusa do Senado da República com essas medidas provisórias e, em suma, abusa do Congresso Nacional. Eu gostaria, senhor presidente, que, não recebendo a exposição de motivos, V. Exª devolvesse à Presidência da República essa medida provisória". O pedido, porém, não foi atendido.

Itamar também entrou em choque com a presidência do Senado no dia 14 de março, quando exigiu uma explicação da direção-geral a respeito da notícia, publicada por um jornal, de que a Casa suspendera o pagamento da aposentadoria que Itamar vinha recebendo junto com seu salário de senador. O ex-presidente ressaltou que o pedido para cortar o benefício previdenciário partira dele próprio, e não do Senado, e que o valor informado ao jornal era superior ao real.

"Repito e ressalto: requeri a suspensão do benefício", afirmou. "Descuido, erro, negligência, má-fé, a mim nem importa tanto qual foi a causa. Não advogo, claro, que se escamoteiem dados, especialmente os que apontem o destino de recursos do Erário. Importam-me, sim, sob pena de sermos injustos, eu diria até levianos, a clareza, a justeza que devem pautar a divulgação dessas informações, reduzindo biografias e nivelando, pelo piso, o nível ético que deve pautar a conduta do homem público", protestou, reivindicando a correção das informações.

Lamentações

Num debate com o senador Lindberg Farias (PT-PB) sobre energia nuclear, Itamar fez um desabafo, lamentando que os projetos apresentados por ele e outros ex-senadores sobre o assunto tivessem sido completamente ignorados pela Casa. "A vida é essa, a vida é essa. Tudo o que se fez se esquece", resignou-se. "Desculpe essa minha insistência, mas eu fico realmente imaginando que eu estou em um outro mundo. A vida me conduziu para cá, Deus deve ter lá seus motivos, mas, enquanto eu estiver aqui, não vou permitir, sinceramente, que se esqueçam da luta no passado, que foi uma luta terrível", acrescentou.

Itamar morreu na manhã de sábado em meio a complicações decorrentes de uma leucemia. Licenciado para tratar da saúde desde o dia 21 de maio, ele estava internado na UTI do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, onde lutava também contra uma forte pneumonia. Nessa madrugada, sofreu um acidente vascular cerebral e não resistiu. Seu corpo será velado hoje (3) em Juiz de Fora (MG) e na segunda-feira em Belo Horizonte, onde será cremado. A presidenta Dilma Rousseff decretou luto nacional de sete dias e confirmou que irá ao velório. Os ex-presidentes Lula, Fernando Henrique Cardoso e Fernando Collor, de quem ele foi vice, e parlamentares da base aliada e da oposição lamentaram a morte de Itamar.

CRIME ORGANIZADO

Fronteira com MS, Paraguai fecha acordo com EUA para combater facções criminosas

A região é rota de tráfico de drogas para o Brasil, Argentina e Uruguai. O plano estratégico prevê o estabelecimento ou ampliação de tropas norte-americanas de importância estratégica

16/12/2025 16h15

Marco Rubio,  secretário de Estado

Marco Rubio, secretário de Estado Reprodução: rede social

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Paraguai e Estados Unidos selaram nesta segunda-feira (15), um acordo de cooperação militar que prevê a atuação de militares americanos no país sul-americano. Atualmente, na região, a Casa Branca tem acordos similares com Panamá, Equador, Bahamas e Trinidad e Tobago.

O Acordo Estatutário de Forças (Sofa, na sigla em inglês) regulamenta a atuação de militares e civis do Departamento de Defesa americano em países estrangeiros. O pacto foi assinado pelo secretário de Estado, Marco Rubio, e o chanceler paraguaio, Ruben Ramirez Lezcano.

O objetivo, segundo o governo americano, é facilitar a resposta conjunta a interesses de segurança regional em comum para os dois países, em uma referência velada a cartéis de droga que atuam na região.

“Ao estabelecer uma estrutura para as atividades do pessoal militar e civil dos EUA no Paraguai, este acordo abre novas portas para nossos esforços coletivos para promover a segurança e a estabilidade em nosso hemisfério”, disse Rubio em sua conta no X.

“Se observarmos o problema fundamental no hemisfério, o mais grave que enfrentamos é o dessas organizações terroristas transnacionais, que em muitos casos não são terroristas por ideologia, mas têm uma base financeira e econômica”, acrescentou.

Nova Doutrina Monroe

O acordo, apesar de não autorizar operações armadas ou criação de bases, abre caminho para a cooperação e treinamento militar entre os dois países, e vem a público dias depois de os EUA divulgarem sua nova Estratégia de Segurança Nacional, que prevê uma ampliação da presença militar na América Latina.

Na ocasião, o documento evocou a Doutrina Monroe, que ficou conhecida no século 19 sob o lema “América para os americanos”, e defendeu uma hegemonia dos EUA sobre a região frente às potências europeias.

O plano estratégico divulgado na semana passada prevê o estabelecimento ou ampliação de acesso de locais de importância estratégicas para o governo americano.

No centro do continente e cercado por importantes fontes de água doce e rotas de narcotráfico, o Paraguai se encaixa nesse perfil.

Hoje, os EUA têm ainda bases militares no Equador, na Colômbia e no Peru, operadas pelo Comando Sul.

Há anos, a presença de grupos armados ligados ao Hezbollah na tríplice fronteira entre o Paraguai, Brasil e Argentina preocupa o governo americano.

A região também é ponto de rota para o escoamento de drogas para o Brasil, Argentina e Uruguai.

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LEVANTAMENTO

Contas públicas em MS: cidades do interior exibem superávit milionário

Análise de dados dos balanços de 2024 e orçamentos de 2025 revela os municípios agrícolas estão com a gestão em dia

16/12/2025 15h34

O prefeito de Costa Rica, Cleverson Alves dos Santos (PP), atribui o resultado à disciplina fiscal

O prefeito de Costa Rica, Cleverson Alves dos Santos (PP), atribui o resultado à disciplina fiscal Divulgação

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O cenário das finanças públicas dos municípios do interior de Mato Grosso do Sul nos anos de 2024 e 2025 desenha um mapa positivo. Liderados pelo exemplo de eficiência de Costa Rica, essas cidades exibem caixas robustas e capacidade de investimento.
 
A reportagem analisou dados abertos, relatórios de gestão fiscal e leis orçamentárias dessas cidades e a conclusão é que o tamanho da arrecadação deixou de ser garantia de solvência: o segredo do sucesso está no controle rígido das despesas obrigatórias.
 
Na região norte do Estado, Costa Rica consolidou-se em 2025 como o principal case de sucesso administrativo de Mato Grosso do Sul. Com uma população de pouco menos de 30 mil habitantes, o município apresenta indicadores de solvência superiores aos da Capital.
 
Dados do movimento financeiro da tesouraria municipal, publicados em 9 de dezembro de 2025, confirmam que a cidade atingiu uma disponibilidade financeira total de R$ 44.061.054,25. O montante, que inclui todas as fontes e fundos municipais, blinda a cidade contra oscilações econômicas e garante a execução de obras sem depender exclusivamente de repasses estaduais ou federais.
 
O prefeito Cleverson Alves dos Santos (PP) atribui o resultado à disciplina fiscal. "Todas as nossas despesas obrigatórias serão quitadas", assegurou o gestor, confirmando não apenas o pagamento em dia, mas a concessão de um abono de natal e final de ano: R$ 1 mil para servidores gerais e valores entre R$ 1 mil e R$ 2 mil para servidores da Educação.
 
O diferencial competitivo de Costa Rica está na estrutura de seus gastos. O município iniciou o ano comprometendo apenas 31,87% com a folha. Essa "gordura" fiscal permitiu que o município aprovasse um orçamento recorde de R$ 262 milhões em 2025, garantindo investimentos de 27% da receita em Saúde, quase o dobro do mínimo constitucional exigido.
 
Além de garantir o pagamento dos servidores ativos até o dia 22 de dezembro, a prefeitura programou as férias de 90% do funcionalismo para janeiro, otimizando a máquina pública durante o recesso escolar e administrativo.
 
Embora Costa Rica lidere os indicadores proporcionais, outros municípios também conseguiram descolar-se da crise. Três Lagoas, impulsionada pela indústria da celulose, teve um orçamento bilionário de R$ 1,4 bilhão para 2025 e mantém índices elevados de investimento em infraestrutura.
 
O município aplicou no segundo quadrimestre de 2025 o dobro do mínimo exigido pela Constituição em Saúde, enquanto a lei obriga 15%, o município investiu 30,79% de suas receitas de impostos na área, somando mais de R$ 296 milhões empenhados. Na educação, o investimento também superou o piso, atingindo 26,93%.
 
Fenômeno similar ocorre em Maracaju. Impulsionada pela soja, a prefeitura destinou 25,67% de recursos próprios para a Saúde até agosto de 2025, um aporte de R$ 32,3 milhões que garante serviços exclusivos no interior sem depender integralmente de repasses estaduais. 
 
A solidez fiscal permitiu à Câmara de Maracaju aprovar uma suplementação de 35% no orçamento de 2025, dando "carta branca" para o Executivo remanejar recursos e acelerar obras.
 
Na fronteira, a realidade impõe cautela. Ponta Porã enfrenta uma frustração de receitas severa: a arrecadação até agosto de 2025 foi de R$ 417 milhões, menos da metade da previsão anual de R$ 900 milhões. 
 
A quebra de arrecadação do ITBI e a estagnação econômica forçaram o município a projetar um orçamento mais enxuto para 2026, cortando R$ 100 milhões da previsão inicial. Ainda assim, a gestão optou por blindar os repasses constitucionais da Educação (projetado em 27%) e da Saúde.
 
Em Corumbá, a aplicação em saúde do orçamento atingiu 18,13%, pouco acima do piso de 15%. A rede de saúde de Corumbá enfrenta custos logísticos adicionais devido ao isolamento geográfico e à necessidade de transporte de pacientes (UTI aérea/fluvial). 
 
Na educação, a aplicação registrada até agosto foi de 24,89%. Embora tecnicamente abaixo dos 25% naquele momento do ano, é padrão na administração pública que os empenhos se acelerem no último quadrimestre para atingir a meta legal. O orçamento projetado no PPA 2026-2029 prevê R$ 1,5 bilhão somados para Saúde e Educação.
 

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