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'É preciso mudar a forma de avaliar terras indígenas', diz produtor rural Ricardo Bacha

'É preciso mudar a forma de avaliar terras indígenas', diz produtor rural Ricardo Bacha

Cristina Medeiros e Francisco Victório

01/09/2013 - 18h00
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Engenheiro eletricista de formação e produtor rural, o ex-secretário de Fazenda e de Obras do Estado, e ex-deputado estadual Ricardo Bacha conhece bem de perto a questão dos conflitos indígenas e agrários em Mato Grosso do Sul. O conhecimento, no entanto, não veio da experiência da vida pública, mas recentemente quando se tornou apenas produtor rural. Sua fazenda, a Buriti, situada na região de Sidrolândia esteve no epicentro da crise dos conflitos indígenas que terminou com a morte de um índio em maio deste ano.

Diante da situação grave que se formou no Estado - que teve até interferência do ministro da Justiça Eduardo Cardozo que veio para apaziguar os ânimos de produtores rurais e etnias-, e que ainda está longe de um fim, Bacha fala em entrevista sobre a questão da demarcação de terras no Estado, a oferta por parte do Governo de Títulos da Dívida Agrária (TDAs) para aquisição de fazenda, situação da Funai e o posicionamento da classe ruralista.

CORREIO PERGUNTA
Em fim de maio os índios invadiram sua Fazenda, a Buriti, com 15 mil hectares. Lá queimaram máquinas, casas e pastos. Depois, na reintegração de posse, um índio foi baleado e morto. De lá para cá o que mudou, além de sua família ver o patrimônio dilapidar?

RICARDO BACHA - A primeira coisa a esclarecer é que a fazenda Buriti, herança de meus avós paternos, tem tão somente 302 hectares e não 15 mil. A confusão sobre o tamanho da fazenda foi feita em função dela ter o mesmo nome de uma das aldeias e a região ser conhecida como região do Buriti, onde outras 30 propriedades passaram a ser objeto de desejo da Funai, representando os índios.Tudo o que não queríamos, e trabalhamos muito para isso, era que o conflito que lá se arrasta por 13 anos, provocasse mortes. Avisamos por todos os meios as autoridades que ocuparam o poder durante todos esses anos da gravidade da situação. Infelizmente não fomos ouvidos e, lamentavelmente, deu no que deu: morte de um índio, além de queima e destruição daquilo que construímos em quase um século de trabalho. Isso criou um imenso trauma na minha família, com prejuízo enorme tanto no sentido emocional quanto no financeiro. O que mudou de lá para cá foi que o Governo Federal, que, infelizmente, só reage a pressões extremas, viu que “não dava mais para empurrar o problema com a barriga”, conforme palavras do Ministro da Justiça, e assumiu que para dar a terra para os índios teria que comprá-las já que a Justiça decidiu que aquelas propriedades não são terras indígenas.


Recentemente , o ministro da justiça Eduardo Cardozo esteve em Campo Grande e o senhor e outros produtores selaram pacto pela paz no campo. Em troca, o Governo promete liberar Títulos da Dívida Agrária (TDAs) para aquisição das fazendas, a começar pela Buriti. Como o senhor vê esta situação?
-Com desconfiança, pois negociar com governos sempre foi muito complicado. É preciso saber se vão nos pagar em dinheiro e à vista, como foi colocado inicialmente como condição para o negócio prosperar. Depois precisamos saber quais serão os preços para cada fazenda, que estavam montadas, produzindo, eram fonte de renda e meio de vida para os proprietários que foram expulsos com violência de suas propriedades, perdendo anos de trabalho e desestabilizando suas famílias. O prazo para o negócio ser resolvido está se esgotando e não vejo ações concretas nesse sentido. Se não nos pagarem, como disseram que fariam, teremos que voltar às propriedades, o que, naturalmente reiniciará os conflitos na região.

O senhor considera TDAs como saída para encerrar os conflitos?
Não, não considero, e por isso estão procurando uma fórmula jurídica com triangulação com o Estado. Nós não aceitamos receber TDAs.

O senhor está no epicentro da situação, qual seria em sua ótica, a solução ideal para debelar a disputa de terras entre índios e fazendeiros?
-Inicialmente o Governo Federal precisa mudar a forma de avaliar o que chamam de terras indígenas. Vejam, no nosso caso, da região do Buriti e em diversas outras regiões, as aldeias existentes já foram demarcadas e homologadas, como manda a lei. O que pretendem na verdade, é a expansão das aldeias para atender uma demanda que veio do aumento populacional ao longo dos anos. Para isso, lançam mão de um expediente criminoso que é o de tentar provar que as aldeias só não são maiores porque os índios, no passado, teriam sido “expulsos” pelos colonizadores que compraram do Estado as propriedades vizinhas das aldeias. Para isso é que tem servido os relatórios antropológicos e, com a força do Estado brasileiro, querem nos tomar na mão grande aquilo que adquirimos de boa fé e com a chancela do próprio Estado. A constituição federal manda demarcar terras e não ampliar, ou seja, o Governo Federal, nesses casos, precisa cumprir de fato o que reza a nossa constituição. Se quiserem ampliar as aldeias, que comprem as fazendas vizinhas!

Por que o estado brasileiro deixou chegar ao ponto de uma convulsão no campo. Onde os governantes falham?
-Entendo que, por todos esses anos, abandonaram os índios à sua própria sorte e deixaram a Funai à revelia, sem os investimentos necessários, o que a tornou presa fácil para diversas organizações não-governamentais que a aparelharam conforme suas conveniências ou mesmo ideologias. Capciosamente, tais organizações se aproveitaram desse abandono para trabalhar conforme seus interesses, não se importando com os interesses nacionais e tampouco com os dos índios que continuam em situação de miséria. As terras indígenas precisam realmente serem demarcadas, pois além de ser preceito constitucional, é direito inalienável dos indios! Mas estão desvirtuando o processo, como já disse anteriormente e querem avançar sobre 25% do território nacional. Será isso que nossos constituintes quiseram assegurar em 1988?

Qual a posição da classe ruralista em relação à tomada de decisão do Governo Dilma?
-No meu ponto de vista todos os que se encontram ameaçados pela Funai, a partir de agora estão na expectativa de como vai ser resolvido o problema na região do Buriti. Se a solução apontada para aquela região vai ser ou não modelo para as demais, e qual o cronograma para examinar as demais regiões do Estado. Certo é que o atual modo de proceder da Funai precisa ser alterado pois se mostrou ineficiente, pernicioso e motivador de sérios conflitos e intermináveis ações judiciais.

Os índios dizem que as terras que estão invadindo são desde sempre de seus ancestrais e, por isso mesmo, invadem fazendas. No caso da Buriti, desde quando está nas mãos de sua família?
-A história regional e os fatos que conhecemos contrariam essa tese. Os terenas são oriundos do chaco paraguaio e vieram para o Brasil em meados do século XVIII, se instalando nos arredores das fortificações militares de então. Já no século seguinte, com a guerra do Paraguai, muitos se deslocaram para outras regiões e, com o fim da guerra, perambularam por terras já em processo de colonização, como forma de assegurar os limites do território brasileiro. Os títulos de propriedade foram vendidos aos colonizadores com essa intenção. Dessa forma tais terras não poderiam ser “dos seus ancestrais desde sempre” e sua acomodação na então “colônia buriti”, como era chamada, se deu em 1928. Meu avô adquiriu a atual fazenda Buriti, hoje de minha propriedade, antes da demarcação da reserva indígena que, na sua criação já apontava como limites as atuais propriedades.

Durante os conflitos de junho, muitos falaram que havia um movimento internacional incitando as etnias a tomar decisões mais violentas. O que o senhor tem a falar sobre isso?
-Sei que os índios da nossa região se armaram e isso ficou demonstrado na invasão da minha fazenda, tanto durante a invasão quanto na reintegração de posse quando reagiram a bala atingindo vários policiais. Haviam denúncias desses armamentos por todos os lados, inclusive na Assembléia Legislativa. Não tenho dúvida de que foram incitados a promover invasões violentas e terroristas. A invasão da minha fazenda é a prova cabal do que estou dizendo, quando reuniram índios de várias regiões do Estado, organizados em forma de guerrilha, para tirarem eu e minha família da sede e depois atearam fogo em tudo. Alguém paga toda essa organização! Quando eu e minha família fomos retirados a força da sede da minha fazenda, pela Polícia Federal, vi que havia um grupo que filmava e fotografava. Pergunto: com que intuito e para onde vai esse arquivo? O que está esperando o Governo para dissolver esta organização criminosa?
Cabe aos órgãos de inteligência apurar tais denúncias. Aliás, isso seria de fundamental importância para dirimir grandes dúvidas existentes a este respeito.

Depois de todos esses acontecimentos o senhor ainda planeja adquirir outra fazenda?
-Minha família vive da pecuária atualmente. Aguardo que nos paguem a preços justos, a vista e em dinheiro, para que possamos continuar nosso trabalho em outra propriedade. É o que espero. 

Cotidiano

Administradora de três aeroportos em MS inicia programa para impulsionar fluxo de passageiros

A operadora aeroportuária Aena administra os aeroportos de Campo Grande, Corumbá e Ponta Porã

23/04/2024 18h30

Foto/Arquivo

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A operadora aeroportuária Aena, que administra três aeroportos de Mato Grosso do Sul, lançou um programa de incentivo ao desenvolvimento da aviação brasileira. Para isso, deve recompensar as companhias aéreas de acordo com o aumento na quantidade de passageiros no período de 1º de abril a 30 de outubro.

De acordo com a Aena, o objetivo do programa é contemplar os aeroportos dos estados de  Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Paraíba, Ceará, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Pará. Em caso de voos domésticos, o programa prevê o reembolso de 100% das tarifas de passageiros em cada rota operada pelas companhias aéreas em 16 aeroportos sob sua gestão.

Nos casos de voos internacionais, o programa de incentivo é válido para os seis aeroportos sob administração da Aena no Nordeste. Nesse caso, a base de comparação será o mês de março de 2024. Para novas rotas internacionais, o incentivo permanece até 31 de março de 2025.

Em Mato Grosso do Sul, a Aena administra os aeroportos de Campo Grande, Corumbá e Ponta Porã.

De acordo com Aena,o objetivo da campanha é oferecer um cenário positivo para que as companhias aéreas possam elevar suas participações nos aeroportos da administradora.

"Como maior operadora aeroportuária do país, trabalhamos para incentivar a aviação brasileira, reduzindo custos das companhias aéreas e melhorando as opções dos passageiros", afirma Marcelo Bento, diretor de Relações Institucionais e Comunicação da Aena Brasil.

As companhias que aderirem ao programa de incentivo ainda podem contar com o apoio da Aena para a promoção das ligações. A concessionária irá disponibilizar a divulgação de novos voos e rotas nos painéis publicitários localizados dentro dos aeroportos, banners promocionais no site da Aena, além de campanhas em suas redes sociais.

 

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Encontro Internacional

Conservação no Pantanal vira pauta mundial durante encontro de exploradores em Nova Iorque

Presidente do IHP, Ângelo Rabelo, foi indicado junto com outros brasileiros para tratar temas nacionais nos Estados Unidos

23/04/2024 18h25

A entidade existe há 120 anos e reúne mais de 3,6 mil pessoas de referência global que desempenharam ou realizam ações para transformar positivamente o mundo Divulgação IHP

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O grupo The Explorers Club, que reúne autoridades e pessoas com reconhecimento global que desempenham medidas que envolvem promoção da ciência e da conservação, discutiu em um de seus encontros a situação do Pantanal. O presidente do IHP, sediado em Corumbá (MS), Ângelo Rabelo, participou das reuniões realizadas em Nova Iorque, durante o encontro anual do clube. Ele apontou que é preciso haver atenção mundial com relação à conservação do Pantanal e da riqueza cultural do território.

A entidade existe há 120 anos e reúne mais de 3,6 mil pessoas de referência global que desempenharam ou realizam ações para transformar positivamente o mundo. Os encontros ocorreram entre sexta-feira (19) e domingo (21). Foram realizados diversos encontros e reuniões entre os participantes do clube, bem como ocorreram discussões sobre temas globais a serem trabalhados para promoção da conservação do Planeta.

 

Ângelo Rabelo, que atua em ações de conservação no Pantanal há cerca de 40 anos, pontuou que há diferentes esforços em andamento para prevenir incêndios florestais e promover desenvolvimento sustentável. Na semana passada, os governos de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, junto com o governo federal, assinaram termo de cooperação visando a união de esforços na defesa, proteção e desenvolvimento sustentável do Pantanal. Além disso, um fundo foi criado para financiar ações que ajudam a proteger o bioma, porém até hoje somente o governo de MS fez aporte de recursos (R$ 40 milhões) e o setor pública busca outras linhas de subsídio para essas ações. A promoção do Pantanal para o exterior pode contribuir nesse propósito, como já ocorre com a Amazônia, por exemplo.

“A maior área úmida do mundo, o Pantanal, está no mapa sobre as grandes explorações e os relatos que indicam locais que são desafiadores no Planeta. Por esse caminho cheio de desafios temos, primeiro, os povos originários que ainda habitam o território, como é o caso dos Guatós. Depois vieram as pantaneiras e os pantaneiros, que também seguem no Pantanal sabendo lidar com a ocupação e a conservação. Depois, temos os registros de outros esforços de pessoas que também se dedicam pela conservação desse Patrimônio Natural da Humanidade”, comentou Rabelo.

O bioma Pantanal é considerado uma das maiores extensões úmidas contínuas do Planeta e apesar de ser o menor em extensão territorial no Brasil, abriga 263 espécies de peixes, 41 espécies de anfíbios, 113 espécies de répteis, 463 espécies de aves e 132 espécies de mamíferos, conforme dados do Ministério do Meio Ambiente. Além disso, o Programa de Monitoramento dos Biomas Brasileiros por Satélite – PMDBBS, realizado com imagens de satélite de 2009, mostrou que o Pantanal mantêm 83,07% de sua cobertura vegetal nativa. Mais de 90% do bioma está em propriedades privadas, enquanto 4,6% estão classificadas como unidades de conservação, dos quais 2,9% correspondem a UCs de proteção integral e 1,7% a UCs de uso sustentável.

A participação de Rabelo na reunião do The Explorers Club ocorreu porque ele foi nomeado, neste ano, como uma das 50 pessoas a fazer a diferença no Planeta. A escolha foi feita por integrantes do The Explorers Club e o presidente do IHP entrou na lista do EC50 2024. Concorreu com mais de 200 pessoas indicadas. Seus apoiadores na nomeação foram Dereck Joubert e Beverly Joubert, exploradores que atuam diretamente pela conservação da vida selvagem e desenvolvimento sustentável em países africanos. O casal convidou, neste mês, o governador Eduardo Riedel (PSDB) para conhecer iniciativas que são realizadas no continente africano.

Além do presidente do IHP, os brasileiros nomeados nesse grupo chamado EC50 deste ano foram a geóloga Fernanda Avelar Santos, o ictiologista Luiz Rocha, o designer naturalista Lvcas Fiat e o paraquedista profissional Luigi Cani. Além dos brasileiros recém-nomeados, personalidades mundiais fazem parte do Clube, como a ex-astronauta e géologa Kathryn Sullivan, veterana de três missões a bordo de ônibus espacial; o geneticista e biólogo nuclear James Dewey Watson, um dos autores do modelo de dupla hélice para estrutura da mólecula de DNA; bem como o explorador que fez parte do primeiro voo solar ao redor do mundo, concluído em 2016, André Borschberg; e Dominique Gonçalves, criadora do Programa de Ecologia de Elefantes no Parque Nacional da Gorongosa, em Moçambique, entre outras pessoas.

Também em Nova Iorque, a diretora-executiva do Instituto Moinho Cultural Sul-Americano, localizado em Corumbá (MS), Márcia Rolon, participou dos eventos abertos do The Explorers Club para divulgar o trabalho de diminuir a vulnerabilidade social de crianças e adolescentes da região de fronteira do Brasil por meio da arte.

 

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