“Estamos esquecidos aqui”, diz Mohamed Hadji Ismail Jaber, 28 anos, terceira geração de comerciantes da Calógeras. O avô palestino Mohamed Hassan Jaber, que veio da Jordânia, foi um dos pioneiros no local e comandou a extinta Casa Santo Antônio que funcionou por 48 anos.
Na rua, Mohamed é um dos poucos jovens à frente da empresa familiar. “Muitos estudam e partem para outras profissões”, afirma ele, que é economista de formação. “Conseguir trabalho em minha profissão é difícil e acabei assumindo esta loja que era do meu pai por conta dos problemas de saúde dele”, acrescenta.

Conduzindo a loja de calçados há dois anos, ele destaca que neste período só viu o movimento na rua piorar. “Sobrevivemos graças a clientes fiéis que continuam comprando aqui e também pessoas de menor renda, que não tem cartão de crédito e muitas vezes tem que pagar à vista”. Por isso ele se orgulha em dizer que seu preço é muito menor que em outras lojas. “Só não trabalho mais com cheque”, diz. Até fiado ele admite que vende para esta clientela fidelíssima. “Eles pagam direitinho, na data”, alega.
Sobre o movimento ele destaca que caiu muito. “As lojas grande engoliram a Calógeras”, afirma. “E hoje nos sentimos abandonados”, conclui.
Ícone de sobrevivência
Há mais de 50 anos na Calógeras, a Casa Palestina também é outro ícone de sobrevivência. A pequena loja de ferramentas que pertencia a Mohamed Salem Handam hoje é administrada pela filha Jamila Mohamed Salem. Antes a loja vendia roupas e calçados e atualmente mudou o segmento para peças e ferramentas. Apesar de notar queda nas vendas, a proprietária Jamila diz que mantém uma clientela fiel. “A loja é conhecida na cidade e por isso nos mantemos em funcionamento”, frisa.

No entanto, assim como os vizinhos ela se ressente da falta de policiamento à noite. “Aqui fica bem escuro, quase não dá para caminhar”, diz.
"Não tinha tanto imposto”
Vizinho da loja de Mohamed está um veterano da Calógeras. Samir Nammora, 65 anos, tem há 37 anos uma loja de vestuário na esquina da avenida com a Cândido Mariano. Ele veio com 7 anos do Líbano e junto com a família investiu no comércio. Samir lembra saudoso dos bons tempos da ferroviária quando as famílias vinham de trem das fazendas e faziam compras na rua comercial.

“O pessoal vinha de trem, almoçava no centro e depois vinha fazer compras nas lojas. Eram famílias inteiras. Nós abríamos até domingo para atendê-las”, destaca Samir.
Sobre as mudanças, o comerciante diz que sentiu muito a redução nas vendas após a retirada dos pontos de ônibus. “Eram fregueses que acabavam comprando aqui”, diz. “Hoje fechamos cedo, por que não tem uma boa iluminação e tem muito assalto”, destaca.
A vizinhança indesejada de usuários de drogas que ficam na rua atrás da Calógeras virou uma preocupação constante. “Não temos mais segurança à noite. Falta policiamento. Virou uma toca de ladrão”, desabafa.
Indignado com o abandono e a falta de segurança o comerciante ainda manda recado aos governantes. “Pagamos impostos como todos do comércio. Queremos ser lembrados”, finaliza.


