ARTIGO

Carlos Osmar Trapp: "500 anos da Reforma Protestante"

Pastor batista e jornalista

1 NOV 2017 • POR • 02h00

Ontem, dia 31 de outubro, foram comemorados os 500 anos da Reforma Protestante, um movimento de caráter religioso surgido na Alemanha na segunda década do século XVI, liderado por Martinho Lutero, monge agostiniano, que criticava diversas ações da Igreja Católica, e que propôs novos rumos para o cristianismo, movimento que teve forte apoio da nobreza da Alemanha.

Há muitos fatos importantes que envolveram a Reforma. No contexto histórico do século XVI, a Igreja Católica teve seu poder político e espiritual contestado. Num momento em que várias mudanças sociais, econômicas e culturais ocorriam na Europa, o poder da Igreja já não representava os anseios, principalmente, da nobreza e da emergente burguesia, por isso membros da própria Igreja, como o professor Martinho Lutero, propuseram uma ampla reforma religiosa. 

Lutero não tinha a intenção de fundar uma nova, mas reformar a existe. O surgimento da Igreja Luterana só aconteceu por causa da excomunhão do Reformador.

 Como principais causas da Reforma Luterana podemos citar: 

– Lutero era contrário à venda de indulgência praticada pela Igreja Católica. De acordo com esta prática, bastava pagar à Igreja para se livrar dos pecados. A venda de indulgências foi um recurso usado para angariar fundos para a construção da Basílica de São Pedro.

– Centralização do poder nas mãos do papa, assim como a concentração de terras.

– Descontentamento da nobreza alemã com o poder político da Igreja Católica.

– Crise institucional e moral pela qual passava a Igreja Católica naquele momento.

Em 31 de outrubro de 1517, Lutero fixou as 95 teses na porta da igreja do castelo de Wittenberg, por isso se tornou a data principal da Reforma. Estas teses criticavam a venda de indulgências, questionavam o poder papal e algumas práticas católicas, além de propor uma ampla reforma religiosa. Estas teses circularam pela Alemanha conquistando, principalmente, a simpatia de nobres (príncipes e senhores feudais).

Em 1520, o papa Leão X exigiu a retratação de Lutero. Este não se retratou como queimou em praça pública o documento papal. Foi excomungado e considerado herege. Protegido pelo príncipe da Saxônia, Frederico, o sábio, se refugiou no castelo de Wartburg, onde passou a traduzir a Bíblia para o Alemão.

Os Princípios religiosos da Doutrina Luterana, emitidos em 1530 são: salvação somente pela fé; salvação somente pela graça; autoridade única da Bíblia em termos de fé e prática; extinção do clero regular (ordens religiosas); sacerdócio universal dos cristãos, sem intermediários, enfatizando o contato direto com Deus; eliminação de tradições e rituais nos cultos religiosos; fim do celibato (proibição do casamento de padres, por exemplo); proibição do uso de imagens nas igrejas; uso do alemão nos cultos religiosos (não mais o latim como única língua); santa Ceia e batismo como únicos sacramentos válidos.

Convém ainda citar os pré-reformadores John Wycliffe e Jan Huss. Wycliffe nasceu, viveu e estudou na Inglaterra no século XIV. Jan Huss nasceu em 1373 na Boêmia (hoje, pertencente à Polônia) onde estudou, ordenou-se e adquiriu grande popularidade com seus sermões, marcados pela influência de Wycliffe, carregados de críticas ao clero católico. Condenado pelo Concílio de Constança, foi queimado em 1415.

Reformadores contemporâneos de Lutero - Foram João Calvino e Ulrico Zuínglio. Com Calvino surgiram as igrejas reformadas (presbiterianas).

Lutero e Zuínglio até se encontraram para discutir seus pontos doutrinários e não concordaram somente em relação a um, ou seja, a Ceia do Senhor, pois Zuínglio dizia que os elementos, pão e vinho, eram símbolos do corpo e sangue de Cristo, e Lutero dizia que “em, com e sob o pão e o vinho, tomamos o corpo e o sangue de Cristo”, chamado de Consubstanciação.

Um pouco mais tarde, surge John Wesley, o fundador do metodismo, na Inglaterra.

Por último, convém citar os da Reforma Radical, que entenderam o Batismo e a Ceia do Senhor apenas como ordenanças, que não conferem graça, além do batismo (imersão) somente de crentes, surgindo desse ensino, principalmente, as igrejas batistas.

Os questionamentos hoje são: Será que as igrejas hoje necessitam de uma Reforma? Seguem a Bíblia, ou introduziram coisas estranhas às suas práticas? A salvação é pela graça e pela fé somente, no sacrifício remidor de Cristo, ou tem gente que quer ir para o céu com seu próprio esforço?

Sejamos questionadores como os reformadores!