Embora o Banco Central afirme que no Brasil circulem em torno de 3,1 bilhões de moedas de um centavo, o dinheiro, pela pouca importância dada por comerciantes e consumidores, desapareceu da praça há pelo menos dez anos, período em que a espécie deixou de ser fabricada. O assunto é tema de reportagem na edição deste domingo (17) do jornal Correio do Estado.
O pequeno valor, contudo, causa prejuízos, ainda que pouco percebidos, tanto para quem compra quanto aos vendedores na hora de negociar o troco.
“Se o cliente reclama, arredondo o valor para não provocar briga. Aqui, às vezes, aparece um ou outro que exige o centavo, são poucos”, disse Luciane Ribeiro, dona de panificadora no Bairro Dom Antônio Barbosa, em Campo Grande.
Moeda de um centavo é coisa rara no comércio ecausa transtornos (Foto: Gerson Oliveira)
Em casos de discórdia pelo centavo, Luciane (foto abaixo) afirma que assume o prejuízo. “Se o troco exigir três centavos, por exemplo, dou cinco. Brigar para quê?”, aconselhou a comerciante.
Já Ednalda Teixeira, caixa de supermercado na região central da cidade, contou que raramente o consumidor se queixa pela falta do centavo, mas quando isso acontece, ela, a empregada, é quem fica no prejuízo.
“A máquina [registradora do dinheiro que entra e sai do caixa] não tá nem aí se tem ou não os centavos, soma tudo. O certo é que no fim do dia tenho de acertar as contas com o patrão. Já tive de pagar R$ 2, R$ 3 e até R$ 5 porque o cliente quis os centavos e dei um troco maior”.
A história narrada por Ednalda, entretanto, rotineiramente tem desfecho contrário. Se o cliente não reclama, ela pode sair no lucro. “Sim, mas se aparecer sobras no fim do expediente ficam com o patrão e não comigo”, rebateu a caixa.
A soma da compra no comércio, principalmente nos supermercados, quase sempre cai no centavo, segundo o carpinteiro João Lúcio Alvarenga ao jornalista do Correio do Estado Celso Bejarano, autor da reportagem.
“Tudo resulta no centavo, na compra do pão, do presunto, da carne, sempre tem aquela virgulinha indicando que tem uns quebrados para pagar. Eu não exijo troco porque um centavo não compra nem bala, mas de um em um centavo nosso prejuízo é grande no final, mas fazer o quê, reclamar pra quem?” queixou-se o rapaz.
Pelos cálculos do carpinteiro, ele perde uma média de cinco centavos por dia nas compras do pão, leite e frios. Somando, a perda de Alvarenga alcançaria em torno de R$ 1,50 no mês, quantia pequena, mas, se acrescentada aos milhares de campo-grandenses que vão às padarias e aos supermercados e ficam sem o troco certo, o valor atingiria valores expressivos.
Sem demanda
A moeda de um centavo não é mais fabricada pelo Banco Central desde 2005, segundo informou ao Correio do Estado a assessoria da instituição, em Brasília.
O motivo para a paralisação na produção seria a falta de demanda no País. Ou seja, na avaliação do sistema, os 3,1 bilhões de um centavo circulando por aí seriam suficientes para o mercado financeiro.
Hoje, fabricar um centavo custa R$ 0,9, segundo o Banco Central, ou seja, fazer a moeda tem custo superior ao valor dela.