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Entrevista

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"O infarto sem aviso prévio existe,
mas é muito raro. Sempre tem aviso"

Alfredo Pinto de Arruda é médico cardiologista

Cristina Medeiros

04/12/2016 - 04h00
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O médico cardiologista Alfredo Pinto de Arruda é um dos pioneiros na área no Estado, com trajetória que passa por cargos importantes na Capital e no Estado – foi secretário de Saúde – e chefe de gabinete no governo Pedro Pedrossian. Além disso, cita com orgulho  sua participação como fundador do Proncor. Nesta entrevista ao Correio do Estado ele fala sobre o infarto, consequências e avanços na área, explicando como ele afeta homens e mulheres; da necessidade de se fazer o diagnóstico correto e do que há de mais moderno para o tratamento.

CORREIO PERGUNTA: Uma pesquisa revela que no Brasil uma pessoa morre de infarto a cada cinco minutos. Algumas delas precocemente, ainda jovens. Por quê?
ALFREDO PINTO DE ARRUDA -  
Estes infartos precoces, todos precisam ser confirmados. A morte súbita de jovens abaixo de 40 anos nem sempre são infartos. Há um índice muito alto de aneurisma cerebral, há um índice alto de miocardite. Portanto, mortes súbitas de jovens por infarto é necessário que se confirme isso. Eu não sei se esta estatística é com confirmação de autópsia, com atestado médico, coloco em xeque esta informação. Na verdade os infartos eram e são comuns em pessoas acima de 45 anos.

Quais fatores aumentam o risco de infarto do miocárdio?
O infarto está relacionado com fatores básicos: genética, fundamentalmente, e hábitos  como fumo, obesidade, sedentarismo, estresse, este conjunto de coisas. A pessoa alimenta-se mal, dorme mal, fuma, é muito estressado, é aquele indivíduo também que não está feliz. O indivíduo que tem hábitos errados e emoções mal direcionadas. Com o advento da tecnologia moderna, da pesquisa, o índice de identificação de doença coronária hoje e as providências que podem ser tomadas são eficazes. Temos o stent, cirurgia, uma série de medidas médicas que evitam o aparecimento do infarto. Tem gente que tem tendência a infarto por genética, tem 70 anos e nunca teve um infarto - eu sou uma destas pessoas. Eu coloquei stent antes, você previne infarto hoje. 

É verdadeiro afirmar que o infarto não chega sem avisar? Que um ano antes o corpo dá sinais?
Bem, existe o infarto sem aviso prévio, mas isso é muito comum em mulheres. A cardiologia na mulher hoje é um segmento, há uma especialização sobre isso.  O infarto sem aviso prévio existe mas é muito raro. Sempre tem aviso. Por que você não descobre o aviso? O doente interpreta o sinal. Vai ao médico que não está interessado em interpretar o sinal, faz um monte de exames que dão normal e ele encerra aquele paciente como se fosse normal, quando ele , na verdade, tem sintomas. 

Por exemplo?
Às vezes você tem mal estar no peito, que não é dor;  você tem uma certa sensação desagradável no peito, só isso.  Eu mando fazer coronariografia nos meus pacientes que têm sensação desagradável no peito e por quê? A coronariografia não mata e esta sensação desagradável mata. A coronariografia às vezes descobre lesões gravíssimas. É assintomático, entre aspas, porque tem um mal-estar, tem um distúrbio, um cansaço, alguma coisa. 

As pessoas, geralmente, não valorizam a dor que sentem no peito achando que não é nada?
A dor no peito tem um universo de formas, maneiras. É preciso verificar onde é esta dor, como ela aparece, a forma da dor, a evolução da dor, a irradiação da dor, os fatores que a desencadeiam. Você tem todo um estudo sobre dor torácica. Os hospitais bem modernos e sérios têm o departamento de dor torácica. Na Clínica Campo Grande tem, é o único aqui. Quando o paciente chega lá com dor torácica há um protocolo. E além desta parte de protocolo de exames, você tem pessoas treinadas para a área, para o paciente fazer uma anamnese específica. 

Os sintomas do infarto entre homens e mulheres são diferentes?
Não que sejam diferentes, mas eles aparecem diferentes. A mulher tem um tipo de histórico diferente. A mulher tem uma ansiedade, um nervosismo, uma angústia, ela tem uma coisa inexplicável. É comum a mulher ir ao consultório do cardiologista e eles a chamarem de psica (neurótica). Por quê? Porque o sintoma da mulher não é característico como o homem tem, que é diferente. Geralmente a mulher tem infarto no primeiro sintoma. Quem mais tem infarto assim é a mulher.  Por quê? Porque os sintomas da coronariopatia dela não são valorizados nem por ela e nem pelo médico – muito mais pelo médico. O fato de a mulher ter infarto e ser coronariopata sem diagnóstico a culpa é do médico, porque ele não se dedicou a fundo para dar importância àqueles sintomas. A cardiopatia da mulher tem capítulo à parte. 

A importância da realização de check-ups periódicos, principalmente a partir dos 40 anos, é inquestionável, principalmente, quando tem casos da doença no histórico familiar. Quais os grupos de mulheres que possuem maior risco de sofrer um infarto?
Genéticos, fumantes, obesas, sedentárias, estressadas, executivas, modernas. 

Não se pode contestar que o cigarro está incluído entre os fatores de risco das doenças cardíacas. Muitos fumantes jovens (entre 20 e 40 anos) têm infarto do miocárdio. Que peso tem o cigarro nessa fatalidade?
O cigarro deveria ser banido da humanidade, ele  é pior do que maconha, é pior do que tudo. É preciso ser um médico ativo assim como eu para ver como um fumante sofre no fim da vida. A pior doença de fim de vida que tem é a de fumante. Eles não respiram, eles não falam, eles sofrem um horror de falta de ar, andam com um tubo de oxigênio amarrado na cintura, eles são infelizes. É preciso que o cara olhe um pulmão para ver o que é que o cigarro faz. Eu fumei até 45 anos e então tive angina e larguei do cigarro. E o cigarro na mulher é pior do que no homem. Porque a mulher, muitas vezes, toma hormônio anticoncepcional ou faz reposição hormonal. E esta associação disso ao cigarro é prejudicial à saúde, gravemente.

Muita gente toma o primeiro infarto como aviso de que algo grave pode acontecer a qualquer momento. Na sua experiência como cardiologista, a vida dessa gente muda radicalmente para melhor ou, como suicidas, muitos repetem os mesmos erros?
O infarto nunca é aviso, ele já é algo muito grave, seja da dimensão que for. Infarto pequeno mata tanto ou mais do que o grande. O infarto pequeno pode gerar uma coisa que se chama arritmia, por vezes incontrolável – pode-se morrer de arritmia por um infarto mínimo. Então, é um distúrbio fisiopatológico do coração que mata. E não é só o tamanho... Claro que um infarto grande é importantíssimo... A doença, então, tem que ser valorizada qualitativamente. A insuficiência vascular coronária é uma doença, uma manifestação do sistema vascular universal.  O coração não tem a seletividade de ficar doente sozinho. Então, quando você investiga um doente cardíaco você investiga carótidas, investiga artérias universais. Se as artérias são boas, provavelmente as coronárias também e vice-versa. Assim, o pequeno infarto já é uma entidade grave, você tem que considerar este um doente de alto risco sempre.  Eu tive angina. E nestes casos você tem que fazer uma opção de vida. Você quer viver ou não? Eu fiz a opção por viver. 

Quais os mais recentes avanços da medicina no que se refere à cardiologia?
Os métodos invasivos. Existem na cardiologia dois caminhos, duas estradas: o caminho da biofísica e da tecnologia e o caminho da bioquímica. A cardiologia começou a ter métodos mais expressivos  na década de 60, com a colocação da válvula, mas era muito rudimentar. Depois, em 1969, o argentino René Gerónimo Favaloro criou a cirurgia da ponte de safena. E a técnica dele foi melhorando, até que em 1974 fizeram a cardioplegia, pararam o coração, fazia a cirurgia e depois a reanimação. E com isso tudo foi melhorando, principalmente as técnicas de válvula. Em 1980 apareceu um médico na Suíça que inventou um cateter – mas já se fazia cateterismo em 1970. Andréas Gruentzig realizou a primeira angioplastia coronária para o tratamento da doença arterial coronariana obstrutiva. E falando em coração, tenho que citar uma droga, a mais eficaz e mais moderna de todas, a aspirina. Porque a aspirina evita que as plaquetas se agreguem nas paredes do endotélio e formem as placas. E ao contrário do que as pessoas acreditam, tomar aspirina não é prevenção, não existe prevenção. A aspirina é um tratamento. Não se toma aspirina impunemente, porque ela tem efeitos colaterais. E eu só dou aspirina para quem, comprovadamente, tem placas, para evitar embolia cerebral. E em 1984 surgiu o stent. E o que hoje está mais me encantando é a substituição das válvulas pelas endopróteses, visando tratar um segmento da artéria aorta afetado por um aneurisma (dilatação anormal da artéria). Desta forma, a endoprótese evita o rompimento futuro da aorta, a principal artéria do corpo humano. E o bom é que após o procedimento, a pessoa no dia seguinte pode ir embora para casa. 

Pesquisa

Extrema pobreza cai a nível recorde; dúvida é se isso se sustenta

O país terminou o ano passado com 18,3 milhões de pessoas sobrevivendo com rendimentos médios mensais abaixo de R$ 300

19/04/2024 18h00

A PnadC de 2023 mostrou que os rendimentos dos brasileiros subiram 11,5% em relação a 2022. Foto: Favela em Campo Grande - Gerson Oliveira/Correio do Estado

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A expressiva alta da renda em 2023 reduziu a pobreza extrema no Brasil ao seu nível mais baixo da série histórica, a 8,3% da população. O país terminou o ano passado com 18,3 milhões de pessoas sobrevivendo com rendimentos médios mensais abaixo de R$ 300. Apesar da queda, isso ainda equivale a praticamente a população do Chile.

O cálculo é do economista Marcelo Neri, diretor da FGV Social, a partir da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (PnadC), do IBGE.

Em relação a 2022, 2,5 milhões de indivíduos ultrapassaram a linha dos R$ 300, numa combinação de mais transferências pelo Bolsa Família, aumento da renda do trabalho e queda do desemprego. A grande dúvida é se o movimento —e mesmo o novo patamar— seja sustentável.

A PnadC de 2023 mostrou que os rendimentos dos brasileiros subiram 11,5% em relação a 2022. Todas as classes de renda (dos 10% mais pobres ao decil mais rico) tiveram expressivos ganhos; e o maior deles deu-se para os 5% mais pobres (38,5%), grandes beneficiados pelo forte aumento do Bolsa Família —que passou por forte expansão nos últimos anos.

Entre dezembro de 2019 (antes da pandemia) e dezembro de 2023, o total de famílias no programa saltou de 13,2 milhões para 21,1 milhões (+60%). Já o pagamento mensal subiu de R$ 2,1 bilhões para R$ 14,2 bilhões, respectivamente.

Daqui para frente, o desafio será ao menos manter os patamares de renda —e pobreza— atuais, já que a expansão foi anabolizada por expressivo aumento do gasto público a partir do segundo semestre de 2022.
Primeiro pela derrama de incentivos, benefícios e corte de impostos promovidos por Jair Bolsonaro (PL) na segunda metade de 2022 em sua tentativa de se reeleger. Depois, pela PEC da Transição, de R$ 145 bilhões, para que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pudesse gastar mais em 2023.

Como esta semana revelou quando governo abandonou, na segunda-feira (5), a meta de fazer superávit de 0,5% do PIB em suas contas em 2025, o espaço fiscal para mais gastos exauriu-se.

A melhora da situação da renda dependerá, daqui para frente, principalmente do mercado de trabalho e dos investimentos do setor privado. Com uma meta fiscal mais frouxa, os mercados reagiram mal: o dólar subiu, podendo trazer impactos sobre a inflação, assim como os juros futuros, que devem afetar planos de investimentos empresariais e, em última instância, o mercado de trabalho.

Apesar do bom resultado em 2023, algumas análises sugerem que o resultado não deve se repetir. Segundo projeções da consultoria Tendências, a classe A é a que terá o maior aumento da massa de renda real (acima da inflação) no período 2024-2028: 3,9% ao ano. Na outra ponta, a classe D/E evoluirá bem menos, 1,5%, em média.

Serão justamente os ganhos de capital dos mais ricos, empresários ou pessoas que têm dinheiro aplicado em juros altos, que farão a diferença. Como comparação, enquanto o Bolsa Família destinou R$ 170 bilhões a 21,1 milhões de domicílios em 2023, as despesas com juros da dívida pública pagos a uma minoria somaram R$ 718,3 bilhões.

A fotografia de 2023 é extremamente positiva para os mais pobres. Mas o filme adiante será ruim caso o governo não consiga equilibrar suas contas e abrir espaço para uma queda nos juros que permita ao setor privado ocupar o lugar de um gasto público se esgotou.

Voos em queda

Aeroportos de Mato Grosso do Sul enfrentam desafios enquanto Aena Brasil lidera crescimento nacional

No acumulado do ano de 2024, o volume de passageiros chegou a mais de 395 mil passageiros em Mato Grosso do Sul, com um aumento de 4,8% no número de operações realizadas nos três aeroportos do Estado

19/04/2024 17h41

Os três aeroportos de Mato Grosso do Sul mantiveram um desempenho estável no acumulado do ano, com um aumento significativo nas operações. Foto/Arquivo

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A Aena Brasil revelou hoje os números da movimentação nos aeroportos até março de 2024, destacando-se como a empresa com a menor redução de passageiros no país. No entanto, o aeroporto de Ponta Porã, sob sua administração, enfrentou uma redução significativa de 42,4% no fluxo de passageiros em março deste ano.

Esta tendência também foi observada na capital sul-mato-grossense, onde o volume de passageiros em Campo Grande caiu 5,5%, totalizando 118.529 passageiros, e no aeroporto de Corumbá, com uma redução de 14,3%.

Além disso, as operações aeroportuárias também estão em declínio, com quedas de 15,9% em Ponta Porã, 10,6% em Corumbá e 8,7% na capital, no volume de operações.

Apesar desses desafios, no acumulado do ano, a Aena Brasil aponta que o aeroporto internacional de Campo Grande registrou uma redução de 3,0% no fluxo de passageiros e de 3,5% no número de operações aeroportuárias.

Já o aeroporto de Ponta Porã apresentou uma queda de 27% no fluxo de passageiros, mas com um saldo positivo de 4% no número de operações. Além disso, o aeroporto de Corumbá, considerado a capital do Pantanal, registrou um aumento de 4,9% nas operações.

No total, a movimentação nos três aeroportos de Mato Grosso do Sul alcançou 395.388 passageiros e 5.043 operações realizadas.

Veja o ranking nacional:

Aena tem crescimento de 6,3% na movimentação em todo o Brasil

Enquanto isso, em nível nacional, a Aena Brasil experimentou um crescimento impressionante de 6,3% na movimentação. Os 17 aeroportos administrados pela empresa no Brasil registraram 10,4 milhões de passageiros no primeiro trimestre de 2024, representando um aumento de 6,3% em comparação com o mesmo período do ano anterior.

Em relação ao número de pousos e decolagens, nos três primeiros meses houve alta de 5,4%, com um total de 115,5 mil movimentos de aeronaves. Considerando somente o mês de março, o crescimento chega a 6,1% no total de passageiros (3,4 milhões), em relação ao mesmo mês de 2023, e a 1,7% no volume de pousos de decolagens (38,9 mil).

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